Curitiba O venezuelano Rafael Villa, professor de Relações Internacionais do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), acredita que, apesar da derrota, a oposição venezuelana saiu fortalecida da eleição de domingo. Por telefone, Villa falou à Gazeta do Povo sobre o que se pode esperar do próximo governo de Hugo Chávez.
Gazeta do Povo Chávez venceu e já fala em reeleição sem limites? Ele tomará alguma medida nesse sentido?
Rafael Villa Não é tão fácil. Um elemento importante dessa eleição é que a oposição conquistou um bom espaço, com quase 40% dos votos. A tendência é que a oposição seja mais responsável e articulada, o que dificultar o plano de reeleição infinita. Apesar da maioria no Congresso, Chávez se deslegitimaria tanto interna quanto externamente.
Por que a oposição esteve tão desarticulada nos últimos anos?
O referendo (de agosto de 2004, que confirmou Chávez no poder) desmotivou a oposição e seus eleitores, elevando os índices de abstenção eleitoral. Agora as taxas voltam a uma certa normalidade.
Como fica a relação entre Chávez e Rafael Correa, após a declaração do presidente eleito do Equador de que na casa dele não mandam nem Bush nem Chávez? Isso afasta os dois líderes?
Correa quer marcar uma posição de autonomia, o que me parece saudável tanto para o Equador quanto para a política latino-americana. Mas isso não afetará as relações bilaterais. Certamente Venezuela e Equador têm vínculos ideológicos. A forma como Correa chegou ao poder se aproxima muito da de Chávez, com forte discurso nacionalista, proposta de mudança constitucional e programas assistencialistas.
Chávez não conseguiu uma vaga no Conselho de Segurança da ONU por falta de apoio de toda a América Latina, apesar da predominância da esquerda na região. Como fica a relação dele com os vizinhos?
A contundência do discurso anti-Bush, a relação com a Síria e a atuação dele (Chávez) no caso do gás na Bolívia levantaram suspeitas entre os países sul-americanos. Mas Chávez ainda não percebeu isso. Continua insistindo em um discurso que tende a enfraquecer sua posição externa na América Latina.
Então, o discurso anti-Bush continuará?
Provavelmente. Não dá para imaginar um recuo.
Quais as chances de uma nova tentativa de golpe?
Não acredito nisso, apesar do clima de polarização. Em 2002 a oposição estava totalmente perdida, sem objetivos. Então qualquer meio era bom para derrubar Chávez. Agora a oposição encontrou os meios democráticos para atuar.
Surgiu um novo nome em que a oposição possa se concentrar para vencer Chávez?
Não acredito que seja o Manuel Rosales, a quem falta carisma e perfil de estadista. Não surgiu um concorrente, sobretudo com prestígio entre os mais pobres. Mas a oposição já é outra. Ela certamente achou a via da democratização e isso é muito importante.



