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Os produtores rurais da Argentina realizam nesta quarta-feira (2) uma assembleia para fazer um balanço do locaute iniciado na última sexta-feira e que será concluído nesta sexta (4). Os líderes do núcleo mais radical dos ruralistas defendem a extensão do locaute, mas até o momento, se não houver nenhuma "provocação" do governo, a tendência é de que a linha moderada os convença a retomar a comercialização de grãos e carne, a partir da próxima sexta-feira. As entidades rurais pretendem, porém, manter o estado de vigilância e realizar manifestações no interior do país.

O presidente da Federação Agrária (FAA), Eduardo Buzzi, explicou que os produtores no interior querem manter o locaute porque há um "profundo mal-estar entre eles". Segundo Buzzi, os líderes vão discutir o que é melhor: manter o locaute ou terminar na data prevista. "É unânime o desejo de ampliar o locaute, porque nos perguntamos até quando o governo vai nos empurrar ao precipício", reclamou. No entanto, ele ponderou que os líderes das quatro principais entidades querem manter as reivindicações sem locaute, para criar um melhor clima de reabertura das negociações.

Os líderes do interior, como Alfredo De Angeli, da Federação Agrária de Entre Rios, consideram que a melhor forma de conseguir soluções para os problemas do setor é por meio do locaute e de bloqueios de rodovias. Buzzi quer que o governo retome o diálogo com o setor e discuta as medidas antes de editá-las. O chefe de gabinete da Presidência, equivalente ao Gabinete da Casa Civil, Aníbal Fernández, esclareceu nesta quarta-feira que o "diálogo com o campo não está cortado". Segundo ele, o governo já enviou "20 sinais para que entendam que podem voltar à mesa de negociações quando terminar o locaute". Fernández disse, em entrevista à rádio La Red, que "não há diálogo porque eles (os ruralistas) estão em greve".

O conflito entre o setor agropecuário e o governo já dura três anos, por causa da intervenção oficial na formação de preços do mercado e dos controles das exportações. Mas o problema se aprofundou a partir de março de 2008, quando a presidente Cristina Kirchner decidiu elevar os impostos de exportações (as chamadas retenciones) para o setor. Há cerca de duas semanas, o governo vetou um artigo de uma Lei de Emergência Agropecuária que beneficiava os produtores prejudicados pela forte seca que afeta a província de Buenos Aires. O artigo perdoava as retenciones, em alguns casos, e em outros concedia um desconto de 50%. Esse veto foi o detonador do 17º locaute agropecuário desde o ano passado.

Confiança no governo é a mais baixa já registrada

O Índice de Confiança no Governo (ICG) argentino, elaborado pela Universidade Torcuato Di Tella, atingiu o nível mais baixo de todo o período da administração kirchnerista, iniciada em maio de 2003 com Néstor Kirchner, sucedido por sua esposa em dezembro de 2007, Cristina Kirchner.

Nem a decisão de transmitir os jogos de futebol gratuitamente pela TV estatal, medida considerada populista, ajudou o governo a recuperar sua imagem depois da derrota das eleições parlamentares de 28 de junho último. Em uma escala que vai de 0 a 5, o ICG chegou a 1,11 ponto em agosto, registrando uma queda de 10% em relação à julho.

"O ICG ficou 1,37 ponto abaixo da média dos registros durante o governo de Kirchner e 0,82 ponto abaixo da média histórica de toda a série", destacou a Torcuato Di Tella. A Universidade explicou ainda que em um ano a retração do índice foi de 20%.

O ICG é elaborado com base em cinco perguntas que medem a percepção da população sobre avaliação geral do governo, preocupação pelo interesse geral da Nação, eficiência na gestão do gasto público, honestidade dos funcionários e a capacidade para resolver os problemas.

O quesito "honestidade" foi o mais destacado da pesquisa durante o mês de agosto. Para 34% dos entrevistados, os funcionários são honestos, enquanto 29% consideram que o governo está resolvendo os problemas do país.

A pesquisa entrevistou 1.200 pessoas em diferentes cidades argentinas. Somente 16% dos entrevistados pensam que o governo tem imagem positiva junto à população e igual porcentagem acredita que Cristina governa em benefício do interesse geral.

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