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Comunidade

Líderes latino-americanos querem usar unidade da região contra crise mundial

Segunda reunião de cúpula da Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe definiu integração como chave para ascensão internacional

Da esquerda para a direita, os presidentes Nicolás Maduro (Venezuela), Michel Martelly (Haiti), Evo Morales (Bolívia), Dilma Rousseff (Brasil) e de Raúl Castro (Cuba) | Claudia Daut/Reuters
Da esquerda para a direita, os presidentes Nicolás Maduro (Venezuela), Michel Martelly (Haiti), Evo Morales (Bolívia), Dilma Rousseff (Brasil) e de Raúl Castro (Cuba) (Foto: Claudia Daut/Reuters)

Acabaram-se os discursos de reafirmação dos latino-americanos e as saudações protocolares. Agora os países da região têm pela frente a tarefa de consolidar a unidade, o que parece ser o único caminho viável para sobreviver num mundo em crise.

Um após outro, os chefes de Estado e de governo que participaram na semana passada da segunda reunião de cúpula da Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac) em Havana reiteraram o caráter estratégico de agir em conjunto – para além dos significados políticos – diante das potências internacionais e negociar em frente única para lidar com as ameaças globais (de preços até as leis ambientais e a complementação das carências próprias de cada um dos países da região).

Arturo López-Levy, economista cubano que trabalha na Universidade de Denver, nos EUA, concorda com esses conceitos. "A América Latina necessita de integração para ganhar terreno no cenário internacional, no qual contribui com apenas 10% do produto interno bruto (PIB) global", disse ele em entrevista à Associated Press. Em seguida, López-Levy coloca o dedo numa ferida: "Como projeto de integração latino-americana, a Celac é apenas um mecanismo de consulta periódica entre governos".

A Celac "ainda carece de institucionalização e padece da falta de compromisso de seus integrantes para financiar um esforço de integração", assim como "intercâmbios comerciais bilaterais e programas dirigidos à educação, à saúde e a outras áreas", aponta López-Levy. "Não existe nem ao menos uma secretaria permanente", acrescenta.

Diferente de outras épocas, o modelo consiste em apoiar-se em interesses comuns, mais do que no respeito às idiossincrasias e modelos políticos específicos de cada um.

"Nós, latino-americanos, temos a grande tarefa de (...) nos desenvolvermos como atores políticos para fazer parte desse mundo [organizado] em blocos", disse o ex-vice-presidente argentino Carlos "Chacho" Alvarez.

"Hoje, ser latino-americano está reconhecido como um valor porque fazemos parte de um mundo emergente, do Sul, que está permitindo ao mundo crescer apesar da crise no Norte desenvolvido", salientou Alvarez, atual titular da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), um grupo com enfoque comercial.

Acordos Encontros bilaterais foram o maior destaque da cúpula em Havana Os cinco dias de encontros formais em Havana para a cúpula da Celac foram encerrados com uma mesa-redonda entre os líderes, mas foram as reuniões bilaterais que mais chamaram a atenção. O mexicano Enrique Peña Nieto, por exemplo, aproveitou para reunir-se com homólogos de pelo menos dez países tão díspares quanto o presidente do Equador, Rafael Correa, e o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonzalves. Pouco se soube da maioria dessas reuniões bilaterais, mas aqueles que divulgaram o teor das discussões deixaram transparecer que foi um sucesso a reunião da Celac, mais jovem fórum de integração do continente e que exclui EUA e Canadá. Um exemplo interessante de encontro bilateral foi o que reuniu o chileno Sebastián Piñera – e sua sucessora Michelle Bachelet – com o peruano Ollanta Humala horas depois da sentença da Corte Internacional de Justiça (CIJ) sobre os limites marítimos dos dois países, que no passado provocaram crises bilaterais. "A Celac serve de fórum para ventilar temas distintos e que poderiam ser mais conflituosos", disse Miguel Tinker Salas, professor de História Latino-Americana da Pomona College. Para ele, a Celac é um fórum "importantíssimo". Os conflitos não estiveram ausentes. O presidente da República Dominicana, Danilo Medina, confrontou-se com os microfones abertos com o granadino Gonzalves, que havia criticado a decisão de um tribunal dominicano de revogar a nacionalidade dos descendentes de imigrantes, haitianos em sua maioria.

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