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Em 2022, ano em que a Rússia invadiu a Ucrânia, as sanções impostas pelo Ocidente e aliados fizeram a economia do país de Vladimir Putin encolher 1,2%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em 2023, entretanto, o PIB russo cresceu 3,6%, desempenho que se repetiu em 2024. O segredo? O aumento das exportações de petróleo e derivados, gás natural, fertilizantes e outros produtos para aliados geopolíticos, como China, Índia e Brasil, ajudou a Rússia a driblar os efeitos das sanções.
No início de abril, a Forbes divulgou sua lista anual de bilionários pelo mundo, e os dados sobre a Rússia corroboraram o que as estatísticas do PIB dos últimos anos já sinalizavam: a guerra foi um bom negócio para muitos no país, no fim das contas.
O número total de bilionários russos na lista da revista americana aumentou de 120 em 2024 para 140 este ano, um recorde do país no levantamento.
A Rússia só ficou atrás de quatro países em número de bilionários: Estados Unidos (902), China (450), Índia (205) e Alemanha (171).
Com 90 nomes (eram 74 na pesquisa anterior), Moscou apareceu na pesquisa da Forbes como a segunda cidade do mundo com mais bilionários, atrás apenas de Nova York (123 nomes).
No capitalismo de compadres da Rússia, é praticamente impossível enriquecer sem ter boas relações com o Kremlin – e as histórias dos bilionários russos incluídos na lista da Forbes comprovam isso.
Vagit Alekperov, fundador da gigante petrolífera Lukoil, continuou sendo o russo mais rico no levantamento, agora com um patrimônio líquido de US$ 28,7 bilhões.
Em 1990, ano anterior ao colapso da União Soviética, Alekperov foi nomeado vice-ministro da Indústria de Petróleo e Gás do país. No processo de privatizações cheio de favorecimentos que ocorreu a partir de 1991, ele ficou com três grandes campos de petróleo e fundou a Lukoil, hoje a maior empresa petrolífera não-estatal da Rússia.
Em 2022, Alekperov deixou o cargo de presidente da empresa após sofrer sanções do Reino Unido e da Austrália, mas manteve muitas ações, que lhe permitiram obter 186 bilhões de rublos (mais de US$ 2,2 bilhões) em dividendos entre 2023 e o primeiro trimestre do ano passado, segundo uma reportagem da Bloomberg de julho de 2024.
Apesar de, no início da guerra, a Lukoil ter pedido o fim do conflito, Alekperov ajudou diretamente a agressão russa.
A Lukoil esteve num grupo de cinco empresas que forneceram mais de 75% dos principais produtos químicos enviados para algumas das maiores fábricas de explosivos da Rússia desde o início da guerra até setembro do ano passado, de acordo com uma reportagem da Reuters de dezembro de 2024. À época, a empresa alegou à agência de notícias britânica que “não fabrica explosivos ou quaisquer componentes relacionados”.
O segundo russo na lista da Forbes, Alexei Mordashov (US$ 28,6 bilhões de patrimônio), proprietário da gigante do aço e mineração Severstal, também busca agradar o Kremlin para que seus negócios sigam prosperando.
Também alvo de sanções do Ocidente devido à invasão da Ucrânia, Mordashov fez pagamentos generosos para aliados de Putin, uma instituição financeira na qual tem participação foi o “banco pessoal” dos altos funcionários do governo que foram beneficiados pela anexação da Crimeia em 2014 e ele pagou pessoalmente um escritor alemão para escrever um livro sobre o ditador russo.
Entre os novos bilionários russos na lista, os laços com a gestão Putin também são fortes. O russo de origem indiana Vikram Punia, um dos novatos no levantamento da Forbes (patrimônio líquido de US$ 2,1 bilhões), é o proprietário da farmacêutica Pharmasyntez, uma das principais fabricantes de medicamentos contempladas com contratos governamentais na Rússia.
Novatos ou veteranos, não importa: os bilionários russos continuam considerando a guerra na Ucrânia um bom negócio.







