As propostas de campanha da primeira-ministra britânica, Liz Truss, giravam em torno do "mini-orçamento", com o menor Estado e os menores impostos possíveis. O plano econômico desenhado por Truss e o antigo ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, e apresentado no final de setembro, no entanto, foi anulado devido à crise que se agravou no país. Agora, tanto Truss quanto o Partido Conservador estão fragilizados.
Uma pesquisa do YouGov, feita entre os dias 14 e 17 de outubro, mostra que a primeira-ministra tem reprovação de 80% entre os britânicos (um aumento de quase 15 pontos em uma semana). A taxa de aprovação, que era de 22% quando ela foi eleita, caiu para 10%. A revista inglesa The Economist comparou o poder de Truss com uma alface, dizendo que ambos têm um prazo curto de validade.
Na segunda-feira (17), em entrevista à BBC, a premiê pediu desculpas pelo plano econômico proposto por ela não ter funcionado. "Continuo acreditando no crescimento e em uma economia baseada em impostos baixos (…), mas fomos rápido demais", explicou Truss, antes de reforçar que segue no comando do país.
Essa certeza da premiê não se reflete no partido. Parte dos conservadores até sugere a volta do ex-primeiro-ministro Boris Johnson, apesar do controverso mandato que ele teve e que forçou sua renúncia. O YouGov entrevistou parlamentares da legenda, e os dados mostram que só dois a cada cinco (38%) defendem a permanência de Truss.
Entre os que dizem ter votado na primeira-ministra na eleição interna do partido (57%), 39% afirmam desejar a renúncia dela, pouco mais de um mês depois da eleição. No total, 55% querem a saída da premiê: é um número expressivo para a base de sustentação de um governo que acabou de começar.
Os riscos de uma renúncia
Priscila Caneparo, professora de relações internacionais do UniCuritiba e doutora em direito internacional, lembrou que existe no Reino Unido o voto de desconfiança, que permite que o primeiro-ministro seja destituído do Parlamento. “Dentro dessa premissa, quem se fortalece é o Partido Trabalhista”, opinou Caneparo.
Eleger outro comandante para o partido - e para o Reino Unido - pode enfraquecer os conservadores e ainda colocá-los diante das eleições gerais, o que possibilitaria a passagem de comando para os trabalhistas. A oposição hoje é apontada como favorita em todas as pesquisas de intenção de votos.
O parlamentar conservador Charles Walker afirmou em entrevista à BBC que "se houvesse uma eleição geral amanhã, [os conservadores] conseguiriam menos assentos do que o Partido Nacional Escocês [SNP, na sigla em inglês]”.
Para evitar chegar a esse ponto, na terça-feira (18), a primeira-ministra se reuniu com seu gabinete e participou de um encontro com parte dos correligionários. De acordo com a imprensa britânica, os parlamentares conservadores ouviram apelos de membros do governo para adiar qualquer movimento para derrubar a líder antes que ela apresente seu plano fiscal completo, no próximo dia 31.
Mudanças nas pautas conservadoras
A proposta inicial de Liz Truss era criar um grande corte de impostos, que beneficiaria até os mais ricos. Para cobrir o buraco nas contas do governo, a ideia era pedir empréstimos bilionários. O temor de um aumento na dívida pública preocupou os investidores e fez a libra cair para o menor valor da história frente ao dólar.
Depois dos investidores demonstrarem pessimismo em relação aos planos econômicos de Truss, o governo britânico anunciou mudanças. Para começar, na sexta-feira passada (14), a pasta das Finanças deixou de ser chefiada pelo arquiteto do "mini-orçamento", para a chegada de Jeremy Hunt, ex-ministro da Saúde de David Cameron e Theresa May, considerado “moderado”.
Assim que assumiu a função, o novo ministro anunciou o abandono da redução prevista de 20% para 19% da primeira faixa de imposto sobre a receita. Hunt também confirmou o aumento de 19% para 25% do imposto de renda corporativo em abril de 2023.
O novo ministro das Finanças ainda sacrificou parte do enorme pacote de ajuda de £ 100 bilhões (quase R$ 596 bilhões na conversão atual), anunciado em 8 de setembro por Liz Truss, dois dias depois que ela chegou a Downing Street.
Esse era um mecanismo destinado a limitar as contas de energia doméstica a uma média de £ 2,5 mil (cerca de R$ 14,9 mil) por ano durante os próximos dois anos e foi bem recebido pelo público, especialmente devido à crise energética que assola a Europa.
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