Um grupo de famílias que exige justiça para as vítimas da repressão de 1989 na Praça da Paz Celestial, em Pequim, criticou o presidente Xi Jinping por deixar de promover reformas políticas desde sua posse, em março, e o acusou de estar levando a China "de volta à ortodoxia maoísta".
A entidade Mães da Paz Celestial há anos pede à liderança comunista chinesa para que inicie um diálogo e reavalie o movimento pró-democracia de 1989, violentamente reprimido no dia 4 de junho daquele ano.
Em carta aberta divulgada na sexta-feira pela entidade Human Rights China, de Nova York, o grupo disse que Xi "misturou as coisas que eram mais impopulares e mais necessitadas de repúdio" durante os períodos em que o país foi governado por Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping.
Na década de 1960, Mao implantou o violento período conhecido como Revolução Cultural. Deng, nos anos 1970 e 1980, abriu o país economicamente, mas foi o responsável pela repressão aos "contrarrevolucionários" da Praça da Paz Celestial.
O suposto apego de Xi a tais períodos "fez com que indivíduos que originalmente depositavam esperanças em que ele fosse realizar reformas políticas caíssem de repente na frustração e desespero", disse a nota.
Xi tornou-se dirigente máximo do Partido Comunista em novembro, e em março assumiu a Presidência, num momento de crescente pressão popular por reformas políticas.
Alguns intelectuais previam que Xi seguiria os passos do seu pai, Xi Zhongxun, um reformista que foi vice-premiê e vice-presidente do Parlamento. Xi vem tentando projetar uma imagem mais branda e aberta do que a do seu antecessor, Hu Jintao.
Mas o governo de Xi tem restringido a liberdade de expressão na Internet e detido ativistas anticorrupção, sem dar sinais de que algum dia o PC chinês irá tolerar dissidências.
As Mães da Paz Celestial disseram que não viram Xi "refletir ou mostrar o mínimo remorso pelos pecados cometidos durante três décadas de comunismo maoísta". "O que vemos, precisamente, são gigantescos passos atrás, na direção da ortodoxia maoísta", acrescentou o grupo.
Ding Zilin, líder das Mães da Paz Celestial, pediu a Xi para que "seja suficientemente corajoso para assumir a responsabilidade histórica e pagar as dívidas deixadas por seus antecessores".
"Todo mundo sabe que uma resolução justa da questão do 4 de Junho, uma reavaliação do 4 de Junho, não irá acontecer sozinha. Ela precisa estar vinculada ao progresso na reforma política e democratização da China", disse Ding, de 77 anos, nesta semana à Reuters.
Questionado sobre a carta, o porta-voz da chancelaria chinesa, Hong Lei, disse que há muito tempo a China já "chegou a uma clara conclusão" sobre o 4 de Junho. Segundo ele, o sucesso econômico das últimas duas décadas "mostra que o caminho que escolhemos serve aos interesses do povo chinês".
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