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Rainha Elizabeth II em 2010.
Rainha Elizabeth II em 2010.| Foto: BigStock

Elizabeth Alexandra Mary, oficialmente Elizabeth II, foi por 70 anos a soberana da Grã-Bretanha, Irlanda do Norte e de 14 países, como o Canadá, a Austrália e a Jamaica. Iniciado em 1952, seu reinado foi o mais longevo da monarquia britânica.

Em sua juventude, Elizabeth não esperava se tornar rainha. Isso porque inicialmente ela não tinha grandes chances na linha de sucessão da coroa britânica. Seu pai, George, era irmão do rei Edward VIII. Porém, após menos de um ano de reinado, Edward VIII abdicou para poder se casar com Wallis Warfield Simpson.

Por causa disso, o pai de Elizabeth foi coroado como George VI em dezembro de 1936. Isso colocou sua filha Elizabeth diretamente na linha de sucessão.

Ela tinha apenas 13 anos quando a Segunda Guerra começou em 1939. Elizabeth e sua irmã Margareth foram levadas para o Castelo de Windsor, quando Londres começou a ser bombardeada. Aos 18 anos, ela se juntou ao Serviço Auxiliar Territorial, o braço feminino do Exército Britânico. Lá, ela trabalhou como mecânica de automóveis, iniciando como subalterna até atingir o posto de capitã.

Após o fim da guerra, Elizabeth se casou com Philip Mountbatten, um oficial da Marinha Real e também príncipe da Grécia e Dinamarca. O casamento aconteceu em 20 de novembro na Abadia de Westminster, em novembro de 1947, e foi a primeira cerimônia transmitida ao vivo pela TV.

Em 1951, as condições de saúde do rei George VI começaram a se deteriorar seriamente. A princesa Elizabeth e seu marido Philip passaram então a representá-lo em uma série de visitas diplomáticas aos Estados Unidos e Canadá, entre outros países. Quando o casal estava no Quênia, no continente africano, Elizabeth foi avisada da morte de seu pai.

No dia 6 de fevereiro de 1952, a jovem princesa se tornou imediatamente a nova soberana - pois a passagem de poder é automática na monarquia britânica, ou seja, o trono nunca fica vago. A coroação de Elizabeth II aconteceu em 2 de junho de 1953 na Abadia de Westminster.

Elizabeth assumiu então as funções de monarca, não apenas participando de visitas e eventos diplomáticos. Na monarquia constitucional britânica, o soberano tem a prerrogativa de convocar o premiê e questionar sua política. O monarca também tem o poder de dissolver o Parlamento ou apontar um primeiro-ministro, caso os membros do partido majoritário falhem em fazer isso.

Assim, o monarca britânico exerce um papel constitucional importante na transição de poder, quando o primeiro-ministro eleito aponta seu governo. O reinado de Elizabeth II teve 15 premiês, sendo o primeiro Winston Churchill, e a última Liz Truss, que assumiu o cargo há alguns dias.

Apenas em um único período histórico a rainha teve que escolher o premiê à revelia do Parlamento. Isso ocorreu em 1956, logo após a crise do Canal de Suez - uma das principais rotas marítimas do mundo. O então presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, decidiu nacionalizar Suez. Seus antigos controladores, a Grã-Bretanha e a França, invadiram a região com apoio de Israel.

Porém, os Estados Unidos, a União Soviética e a ONU intervieram e forçaram o fim do conflito. O resultado político foi desastroso para Londres e o premiê Anthony Eden caiu. Extremamente dividido em lutas políticas internas, o Partido Conservador não conseguiu indicar um líder e Elizabeth II exerceu seu poder de monarca convidando Harold Macmillan, do partido Tory, para formar um novo governo.

Após sua gestão, em 1963, a rainha teve que novamente intervir em assuntos de governo indicando seu sucessor, Alec Douglas Home. Depois disso, o Partido Conservador criou mecanismos mais estáveis para a eleição de suas lideranças.

Assim, além de suas funções constitucionais, na prática a rainha Elizabeth II e a família real exerceram uma função de elevada importância simbólica. Eles são considerados símbolos vivos de unidade nacional e continuidade da cultura britânica. Suas aparições e pronunciamentos mobilizam multidões. Para se ter ideia, isso é tão forte na cultura britânica que, no Natal, muitas famílias só começam o almoço natalino (os britânicos não celebram a noite da véspera de Natal) após ouvirem o discurso da rainha.

Essa importância, contudo, vem se arrefecendo ao longo dos últimos anos. Cada vez mais britânicos mais jovens vêm se opondo à monarquia - como fez a própria atual premiê Liz Truss em sua juventude. Por causa disso, ao longo do reinado de Elizabeth II, a família real começou a se abrir mais para o contato com o público a fim de aumentar sua popularidade - permitindo inclusive a gravação de um controverso documentário que foi ao ar em 1969 na BBC e mostrou os membros da família Windsor em situações cotidianas.

No fim dos anos de 1970, a rainha Elizabeth II entrou em rota de colisão com a então premiê Margaret Thatcher. Segundo analistas da época, Thatcher se opôs à imposição de sanções ao regime racista do apartheid, na África do Sul. Elizabeth foi favorável às sanções. À pressão da rainha, se juntaram líderes de países em desenvolvimento, como a Índia. Thatcher cedeu com medo de colocar em risco a integridade da Commonwealth. Sanções foram implementadas, mas um embargo total à ex-colônia britânica foi descartado.

Na década de 1990, a família real passou por alguns de seus maiores desafios. O ano de 1992 chegou a ser apelidado de “ano horrível”, com as separações de Charles e Diana e dos duques de York, Andrew e Sarah. Naquele ano, ocorreu ainda um incêndio no Castelo de Windsor e a sociedade começou a discutir quem deveria pagar pelos danos.

O resultado da crise foi que a coroa teve que abrir o Palácio de Buckingham para visitação pública, para arrecadar fundos, e a família real passou a pagar impostos sobre investimentos.

O divórcio oficial de Charles e Diana, que era extremamente popular, e a morte de Diana em 1997 corroeram ainda mais a popularidade da monarquia - especialmente quando Elizabeth se opôs ao posicionamento da bandeira britânica a meio mastro no Palácio de Buckingham pela morte da princesa. Ela também demorou para fazer um pronunciamento público mesmo frente a um grande clamor popular.

Depois dessa fase, o reinado de Elizabeth ensaiou um novo processo de modernização, especialmente com as celebrações em 2002 do Jubileu de Ouro, em comemoração dos 50 anos de reinado. A data envolveu a realização de muitas festas e celebrações. Contudo, as comemorações foram diminuídas naquele ano pelas mortes da mãe e da irmã de Elizabeth.

Em 2005, o novo casamento de Charles, com Camilla Parker Bowles, recebeu considerável apoio da população. Isso porque ambos já haviam sido casados e a aceitação da união pela coroa foi vista como um sinal de modernização da monarquia.

Os ventos se tornaram ainda mais favoráveis para a monarquia em 2011 com a celebração do casamento do Príncipe William de Gales - filho mais velho de Charles e Diana - com Catherine Middleton. A cerimônia reuniu multidões de apoiadores em Londres. O nascimento de seu filho mais velho, o Príncipe George de Cambridge, em 2013 aumentaria ainda mais essa empolgação do público.

Em 2012, a celebração do Jubileu de Diamante de Elizabeth II voltou a encher as rua de Londres de festas e celebrações. Em 2015, seu tempo de reinado superou o da Rainha Vitória, de 63 anos e 216 dias, até então o reinado britânico mais longevo. Elizabeth II exerceu o segundo reinado mais longevo da história, ficando atrás apenas do rei Louis XIV da França, que atingiu a marca de 72 anos no poder.

Em 2016, a história da família Windsor se tornou extremamente popular não só na Grã-Bretanha, mas na maior parte do mundo ocidental com a série ficcional "The Crown", lançada pela empresa de streaming Netflix.

Mesmo extremamente popular entre o público britânico, Elizabeth II sofreu possivelmente o maior golpe de sua vida com a morte do príncipe Philip em 2021. Em 1997, no cinquentenário do seu casamento, Elizabeth havia dito sobre o marido: “Ele foi, muito simplesmente, a minha força por todos esses anos”.

Outro ponto baixo da história dos Windsors ocorreu em seguida em 2020, quando o Príncipe Harry e sua esposa Meghan, duque e duquesa de Sussex, abdicaram de suas funções reais.

Os 70 anos de reinado de Elizabeth II forneceram ao mundo não apenas um exemplo de força, abnegação e dedicação, mas também o principal modelo para o mundo moderno de monarquia constitucional: onde o soberano exerce suas funções adotando uma neutralidade política praticamente total.

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