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Presidente argentino, Maurício Macri, discursa durante a Assembleia Geral da ONU | BRYAN R. SMITH/AFP
Presidente argentino, Maurício Macri, discursa durante a Assembleia Geral da ONU| Foto: BRYAN R. SMITH/AFP

Apesar de estar nos Estados Unidos para a Assembleia Geral das Nações Unidas, a terça-feira não foi um dos dias mais fáceis para o presidente da Argentina, Mauricio Macri, que enfrenta uma grave crise econômica: primeiro, o país teve de encarar uma greve geral que afetou a população, e depois teve de encarar a renúncia do presidente do Banco Central, Luís Caputo. Tudo isso, em meio as negociações para assinar um novo acordo com o FMI para antecipar o recebimento de parte dos US$ 50 bilhões acordados em junho. É possível, segundo o jornal Ambito Financiero, que o acordo seja anunciado nesta quarta. 

Para tentar conter a crise, no início do mês, o presidente anunciou uma série de medidas, que incluem o corte de metade dos ministérios e uma nova taxação sobre as exportações. E antes, Macri tinha adotado medidas impopulares como o reajuste de tarifas de energia e transporte e mexer na previdência e nas leis trabalhistas.

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A renúncia de Caputo surpreendeu a equipe que acompanha o presidente em sua visita aos Estados Unidos, uma vez que seus discursos a empresários e a representantes do FMI foram de otimismo com recuperação da economia, de certeza de aprovação do Orçamento para 2019 que visa o déficit zero – contra o qual as manifestações desta terça (25) em Buenos Aires se mostram agressivamente contrárias– e de que a equipe econômica se encontra sólida, unida e capaz de atingir a meta estabelecida pelo fundo. 

O cenário para a economia argentina não é dos mais promissores para 2018.. Um relatório do banco de investimentos Itaú BBA enviado a clientes sinaliza que a perspectiva é de que o PIB encolha 2,2% neste ano e permaneça estável no ano que vem. O banco projeta uma inflação de 45% para este ano, a segunda maior nas Américas, perdendo apenas para a Venezuela. 

Por que o presidente do Banco Central renunciou? 

Luís Caputo, que estava à frente do Banco Central desde junho, vinha apresentando divergências com o Ministério da Fazenda, segundo o jornal argentino Clarin. A principal delas era a condução da política monetária. Para conter a desvalorização do peso, a taxa referencial de juro teve de ser aumentada para 60% no final de agosto. 

O BC soltou um comunicado dizendo que a renúncia se dá por motivos pessoais e que Caputo tem a convicção de que o novo acordo com o FMI restabelecerá a confiança sobre a situação fiscal, monetária e câmbio no país. 

Segundo o Clarin, havia um consenso de que ele deixaria o cargo após a assinatura do acordo com o fundo. A decisão surpreendeu integrantes da equipe de Macri. “A decisão foi tomada em um mau momento”, disse uma fonte ao jornal. 

Quem é o novo presidente do Banco Central? 

O substituto de Caputo será Guido Sandlers, ex-secretário de política econômica do ministério da Fazenda, homem de confiança de Nicolás Dujovne, e um dos negociadores para a obtenção de um acordo com o FMI. Ele disse que o principal objetivo do banco seria reduzir a inflação, de acordo com um comunicado. "Nós vamos trabalhar para recuperar a estabilidade e previsibilidade de preços."

A nomeação de Sandleris reforça a tese generalizada entre analistas econômicos de que a saída de Caputo foi decorrente dos frequentes desacordos entre Dujovne e Caputo —ou seja, seria uma batalha vencida por Dujovne na cúpula do poder. 

O acordo com FMI está ameaçado? 

Aparentemente não. O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse nesta terça-feira que tomou conhecimento sobre a mudança na presidência do Banco Central da Argentina (BCRA) e que seguirá com relacionamento próximo e construtivo com a instituição. 

Segundo o jornal Ambito Financiero, o ministro da Fazenda suspendeu seu retorno a Buenos Aires e deve anunciar nesta quarta a assinatura do acordo com o FMI junto com a diretora-gerente da instituição, Cristina Lagarde. A intenção é antecipar o recebimento de parcelas dos US$ 50 bilhões emprestados pelo FMI para reduzir a pressão sobre o dólar. A previsão do Itaú BBA é que a desvalorização no ano fique acumulada em 53,7%. 

Por que a Argentina negocia com o FMI? 

A Argentina sofreu um estresse em seus mercados financeiros neste ano, sobretudo no cambial, com investidores temerosos sobre a trajetória das contas do país e a capacidade de honrar sua dívida. Nesse contexto, Macri fechou um acordo com o FMI, de US$ 50 bilhões, mas houve novos estresses no câmbio e agora o governo de Buenos Aires tenta renegociar os termos, para garantir mais segurança a fim de enfrentar a crise. 

Quem se opõe ao acordo? 

 A Central Geral dos Trabalhadores (CGT) e outras entidades sindicais realizaram nesta terça-feira a quarta greve geral enfrentada pelo governo Macri, que afetou praticamente todos os serviços públicos, o transporte público, os bancos, as escolas e aeroportos, inclusive voos internacionais, segundo a agência estatal Télam. 

Ruas de Buenos Aires permaneceram vazias por causa da greve geralEITAN ABRAMOVICH/AFP

A Câmara Argentina de Comércio e Serviços criticou a manifestação, qualificando-a como "inoportuna", implicando "enormes perdas para a economia nacional, já golpeada pela retração da demanda, o aumento de custos de financiamento e a aceleração inflacionária". 

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Já líderes sindicais têm defendido a necessidade de se protestar neste momento. Chefe da CTA Autônoma, Pablo Micheli convocou os trabalhadores a fazer "todas as paralisações necessárias para que se vá este governo". 

Micheli e as lideranças grevistas têm criticado o acordo com o FMI e políticas oficiais como o corte de subsídios e a demissão de funcionários públicos, no âmbito do ajuste das contas públicas que Macri tenta fazer. A CGT busca um acordo para interromper as demissões, em um quadro de desemprego e aumento na pobreza no país.

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