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Manifestantes protestam contra morte de adolescente na Venezuela

Jovens exigem revogação de um decreto que permite às forças de segurança usar armas letais para reprimir protestos que considerarem violentos

Manifestantes foram às ruas de Caracas para protestar contra o governo | Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Manifestantes foram às ruas de Caracas para protestar contra o governo (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Protestos ocorreram nesta quarta-feira (25) em várias cidades da Venezuela para condenar a morte do colegial Kluyberth Roa, 14 anos, atingido na véspera por um tiro disparado pela polícia durante uma manifestação estudantil em San Cristóbal, oeste do país. O tiro atingiu Kluyberth na cabeça. O pai, Eric Roa, disse à reportagem que o adolescente não estava participando da manifestação antigoverno, mas voltando para casa depois das aulas.

Em Caracas, jovens reunidos em frente ao Ministério do Interior, Justiça e Paz exigiram a anulação de um polêmico decreto imposto pelo governo no mês passado que permite às forças de segurança usar armas letais para reprimir protestos que considerarem violentos. “A resolução 8610 é uma infâmia que ontem [terça] manchou de sangue [o Estado de] Táchira [onde está situada San Cristóbal]. Exigimos sua derrogação imediata”, disse o líder estudantil Hasler Iglesias. Críticos da resolução alegam que ela viola o artigo 68 da Constituição, que bane o uso de armas de fogo em protestos.

Horas após a morte de Kluyberth, o presidente Nicolás Maduro admitiu que a Constituição “proíbe a repressão armada de maneira explícita”, mas afirmou que o tiro foi disparado após policiais serem agredidos pelos manifestantes. Maduro disse que o disparo partiu de uma “escopeta com balas de borracha”. A família afirma que a autopsia deixou claro que Kluyberth foi alvejado por uma arma de fogo. Circula nas redes sociais um documento, apresentado como laudo da autopsia, que supostamente confirma a tese de que o rapaz morreu por arma de fogo. A autenticidade do laudo não pôde ser comprovada.

A procuradora geral da República, Luisa Ortega-Díaz, lamentou o ocorrido e disse que o autor presumido do disparo, identificado como Javier Mora Ortiz, 23, está preso e será formalmente denunciado por homicídio doloso qualificado por motivo fútil e ignóbil, uso indevido de arma e violação de convenções internacionais. Mora Ortiz confessou o crime, segundo a ministra do Interior, Justiça e Paz, Carmen Meléndez. Ela alegou que o episódio foi um “ato individual” que não reflete a “nova polícia humanista”.

Autoridades dizem que a morte de Kluyberth é resultado do caos provocado pelos manifestantes antigoverno, que vêm tentando reiniciar a onda de protestos de 2014 contra a crise econômica, o endurecimento do governo e a criminalidade. O governo afirma que as manifestações, nas quais 43 pessoas morreram, incluindo policiais, eram uma tentativa velada de golpe de Estado semelhante à de 2002, quando a oposição derrubou o então presidente Hugo Chávez durante três dias.

Os protestos do ano passado norteiam até hoje a agenda do governo, que prendeu desde então vários líderes opositores acusados de instigar violência nas manifestações, como o prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos, e o ex-prefeito de Chacao Leopoldo López. Na semana passada, um juiz ordenou a prisão do prefeito metropolitano de Caracas, Antonio Ledezma, sob a mesma justificativa. A oposição diz que a única resposta do governo diante da crise econômica (que gera inflação e desabastecimento) é o aumento da repressão.

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