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 | /Reprodução/Max Galka/Metrocosm
| Foto: /Reprodução/Max Galka/Metrocosm

No mundo todo, o número de migrantes passa dos 243 milhões. É muita gente, e os países são impactados por estas idas e vindas migratórias. Como estão em movimento, são pessoas difíceis de localizar no mapa. Por isso, Max Galka (um aficionado por dados), do site Metrocosm , criou um mapa animado com a migração mundial. São todos os fluxos registrados pela Divisão de População das Nações Unidas entre 2010 e 2015.

O resultado não é o número total, mas o saldo de migrantes. Ou seja, se o país enviou 100 pessoas para o exterior, mas recebeu 101 pessoas, o resultado é um positivo. Fosse o contrário, seria negativo. Em vermelho, os países propulsores (que mais enviam); em azul, os receptores.

A impressão é de que não há respostas simples para explicar quem migra, e para onde. Há pontos voando para todos os lados, países desenvolvidos perdendo população para as nações em desenvolvimento e vice-versa. De fato, as migrações contemporâneas são cada vez mais complexas, mas é preciso tomar cuidado ao olhar para dados que tratem apenas do saldo migratório, alerta Roberta Guimarães Peres, professora da Unicamp e integrante do Observatório das Migrações em São Paulo.

O mapa acaba por “mascarar” muitos dos processos envolvidos nas idas e vindas de migrantes internacionais. E não permite analisar as diferentes políticas migratórias de cada país, que assim selecionam seus migrantes. São informações que os dados não mostram. “Mais importante do que o volume de migrantes, são os impactos que a presença imigratória proporciona, seja nos espaços de destino, de origem, ou ainda nas etapas intermediárias”, explica a pesquisadora.

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A ONU, em seu Relatório das Cidades, define a existência de uma nova “geografia da pobreza”. O êxodo rural, de pessoas que saem do campo em busca da sobrevivência nas grandes cidades, não respeita mais limites nacionais. Urbanização e globalização, combinadas, diminuem as fronteiras e facilitam o surgimento de “novos itinerários de esperança e aspiração”.

Neste “mundo de mobilidade acelerada”, a migração, que é um fato, se converte em conflito. Está na pauta do dia: no fechamento das fronteiras para os refugiados sírios, na saida do Reino Unido da União Europeia. Não raro, migrantes são apontados como vilões do desemprego. Olhando o mapa, é possível apontar algumas tendências.

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Centros regionais

Algumas migrações são óbvias. Os Estados Unidos atraem muita gente, do mundo todo. Muita gente sai da América Latina e Ásia rumo à Europa. Mas chamam atenção polos de atração fora deste eixo. Na América do Sul, Brasil, Argentina e Chile atraem gente dos países vizinhos, menos desenvolvidos economicamente. O caso do Equador é menos óbvio. Muitos chilenos e argentinos migram para lá. Mas são os espanhóis que se destacam, enviando 57 mil pessoas a mais do que recebem do pais sul-americano. A Guiana Francesa também tem saldo positivo, com a migração de pessoas oriundas dos vizinhos Brasil e Suriname, além de haitianos.

Há exemplos ao redor do mundo. O que mostra, para Max Galka, que mesmo migrações com motivação não seguem uma lógica simples de “sair de uma país pobre e ir para um país rico”. Ele conta do caso da Espanha, que conhece bem, por motivos familiares. Embora seja um país relativamente rico, não há empregos disponíveis em número suficiente, então as pessoas partem em busca de oportunidades. Muitos optam por locais onde se fala o mesmo idioma. Daí o fluxo intenso sentido América Latina.

Também chama atenção a dinâmica interna na África. Há vários países com fluxo intenso de ambos os lados, tanto vermelhos quanto azuis. Sudão, República Centro-Africana, Somália, Egito, Zimbabwe, Mali e Algéria perderam, somados, 2,3 milhões de pessoas. Por outro lado, a África do Sul, o Sudão do Sul, Nigéria, Etiópia, Uganda e Quênia receberam 1,8 milhão a mais do que mandaram para fora. São países distribuídos por todas as regiões do continente, com fluxos heterogêneos entre si. Mas, de forma geral, são as viagens dentro do continente que predominam.

Síria

Apesar do alvoroço criado por líderes europeus, o continente está longe de ser o maior polo receptor de sírios. A Turquia, que tem um pé na Ásia, foi o principal destino de quem saiu da Síria (saldo de 1,5 milhão). Líbano, Iraque, Jordânia e Egito vêm na sequência. A Suécia, sozinha, recebeu mais migrantes sírios do que o restante da Europa e as Américas combinadas. Foram 49,3 mil. A Alemanha, um dos países mais receptivos a refugiados, recebeu apenas 3,8 mil sírios nos últimos cinco anos.

Vale levar em conta que muitos migrantes da região vão “pingando” de país em país. Somados, Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque enviaram 120 mil pessoas para terras alemãs. Parte deles pode ser de sírios fugidos da guerra. É o que pode ser visto no Brasil, que não recebeu, oficialmente, nenhum sírio durante esse período. Mas 2.986 pessoas do Líbano vieram ao país.

Para Max Galka, que construiu os mapas, o fluxo relativamente baixo - quando comparado ao conjunto da população europeia - pode indicar que há um exagero por parte dos Europeus ao mensurar o impacto econômico desta migração. Por outro lado, vale lembrar que a crise dos refugiados envolve outros aspectos, como o medo do terrorismo e mesmo a xenofobia. “Então as pessoas que estão assustadas com a possibilidade de abrir seu país para ataques terroristas acho que não concordariam que é um número ‘pequeno’”.

Brexit

A migração “excessiva” pesou para muitos britânicos votarem pela saída da União Europeia. No entanto, com exceção da Polônia (120 mil) e Alemanha (39 mil), os países europeus estão longe de ser recordistas no envio da população para o Reino Unido. Nos últimos sete anos, ao menos 112 mil pessoas chegaram ao reinado de Elizabeth II vindas da Índia, e cerca de 78 mil do Paquistão. China, Nigéria, Zimbabwe, Quênia e Sri Lanka são alguns dos paises cujo número de migrantes para as ilhas britânicas giram entre 20 e 30 mil. Suíça e Luxemburgo, na Europa, receberam mais gente do que enviaram para o Reino Unido.

Estados Unidos

Ninguém recebe mais migrantes do que os Estados Unidos. Foram pelo menos três milhões de pessoas a mais, nos últimos sete anos. A maior parte (781 mil) do México. Outros quatro países da América Central (El Salvador, Guatemala, Cuba, República Dominicana), além de Porto Rico superam a casa dos cem mil. Mas apesar da forte presença latina, a Ásia se destaca. China e Índia superam os 300 mil. Filipinas chega a 212 mil migrantes, e o Vietnã a 174 mil. Além da Austrália e de alguns países europeus, recebem migração dos Estados Unidos o Uruguai e a Dominica, no Caribe.

Austrália

Canadá e Estados Unidos recebem muita gente. Mas a Austrália é um fenômeno. Tirando o Sudão, que na média ficou com 453 pessoas a mais, os australianos receberam mais gente do que enviaram de todos os lugares do mundo. Claro que nem todos os países do mundo enviaram migrantes para o país, o maior da Oceania. Em vários outros, o saldo foi pequeno (caso do Brasil, que mandou ao menos 4,7 mil pessoas a mais). Mas somados todos, em um intervalo de cinco anos, a Austrália ganhou 800 mil habitantes só entre os migrantes. Os principais propulsores são os vizinhos da Nova Zelândia, seguidos do Reino Unido, China, Índia e Filipinas, nesta ordem.

Brasil

Apesar da tradição de diversidade e de ser o maior país da América do Sul, o Brasil não parece ser a principal rota migratória do continente. Em números absolutos, segundo dados da Divisão de População da ONU (não expostos no mapa), o país fica atrás da Venezuela e da Argentina.

No mapa, é possível ver que o fluxo migratório do país é menor do que o da Argentina e da Colombia. Entram no país alguns imigrantes dos países vizinhos. Uruguai, Paraguai, Bolívia, Peru e Colombia. Mas o país que mais manda gente para cá é o Japão (50 mil), seguido da Espanha (35 mil). Os fluxos para fora são clássicos: países europeus, América do Norte, China e Austrália. Na América do Sul, Chile e Guiana Francesa recebem brasileiros.

A pesquisadora Roberta Guimarães Peres, da Unicamp, explica que o fenômeno da migração é estrutural, no Brasil. Grandes levas chegaram ao país no final do século 19 e início do 20, vindas da Europa. A ida para os Estados Unidos, a partir dos anos 1980, é considerada na academia o marco zero da emigração nacional. Nos anos 1990, a lei de imigração japonesa deu origem ao fenômeno do “dekasseguis”, saída de brasileiros para o Japão. Atualmente, coexistem no país várias modalidades migratórias, como a dos latino-americanos (principalmente bolivianos, peruanos e paraguaios, principalmente em São Paulo) e haitianos, além de uma mão de obra qualificada que busca o Brasil em busca de postos do mercado de trabalho ligados ao capital internacional e reestruturação produtiva.

Haiti

Para onde foram os haitianos? O mapa mostra o período de 2010 a 2015, exatamente os cinco anos seguintes ao terremoto que agravou os problemas sociais daquele país e motivou uma migração em massa. Embora o mapa indique que 98,9 mil pessoas sairam do Haiti, nenhuma veio de lá para o Brasil a contar pelos dados da ONU, usados como base. Pesa o fato de que muitos haitianos entraram indiretamente em terras brasileiras, boa parte pela rota República Dominicana, Panamá, Equador, Peru ou Bolívia e então Acre. Mas, embora o mapa aponte para a rota Haiti para República Dominicana, e de lá para o Panamá, ali as pessoas somem. O Panamá não “exporta” migrantes para lugar nenhum, a exceção dos Estados Unidos. É possível que os haitianos que vivem no Brasil, por exemplo, não estejam no mapa.

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