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O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, fala após ser empossado como próximo chefe de estado do país sul-americano para o período 2023-2027
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, fala após ser empossado como próximo chefe de estado do país sul-americano para o período 2023-2027| Foto: EFE/ Juan Ignacio Roncoroni

Um ajuste fiscal e o fim da emissão monetária fazem parte do plano econômico anunciado neste domingo (10) pelo novo presidente da Argentina, Javier Milei, em seu primeiro discurso após tomar posse no cargo. O libertário avisou que a situação econômica da Argentina vai piorar antes que uma luz no caminho seja avistada e que deve adotar uma política de choque e não uma transição gradual.

Milei disse que nenhuma transição econômica gradual deu certo na Argentina e que a melhor alternativa é recorrer a uma política de choque e um ajuste fiscal. Ele disse o setor privado só vai voltar a investir na Argentina quando tiver certeza que algo está sendo feito, mas afirmou que a política de choque deve resultar em "estagflação" - condição que combina crescimento econômico estagnado e altas taxas de desemprego e inflação. Segundo Milei, esse será "o último golpe antes da reconstrução da Argentina”.

"Infelizmente, tenho que repetir: não há dinheiro. A conclusão é que não há alternativa ao ajuste e não há alternativa ao choque", declarou o libertário ao falar para uma multidão nas portas do Congresso argentino.

O novo presidente admitiu que o “plano de choque” que vai aplicar terá um impacto negativo no nível de atividade, no emprego, nos salários reais e na taxa de pobreza e indigência. “Haverá estagflação, é verdade, mas não é algo muito diferente do que aconteceu nos últimos dois anos”, disse.

Milei ressaltou que a “herança” deixada pelo kirchnerismo é a pior que um governo argentino já recebeu, com um déficit financeiro e fiscal equivalente a 17% do PIB, uma inflação que cresce a uma taxa anual de 300%, uma atividade econômica paralisada, uma taxa de pobreza de 45% e uma taxa de miséria próxima de 10%. Segundo ele, nos últimos 12 anos a Argentina acumulou 5000% de inflação e encolheu o equivalente a 15% do PIB.

Por essas razões, ratificou que irá aplicar um ajuste fiscal de 5,5% do PIB que, segundo prometeu, recairá “quase inteiramente” sobre o Estado e não sobre o setor privado.

Além disso, confirmou que vai “limpar” o passivo do Banco Central e acabar com a emissão monetária que, insistiu, é a causa da elevada inflação da Argentina. Nesse sentido, disse ainda que a política monetária funciona com uma defasagem entre 18 e 24 meses, razão pela qual antecipou que a inflação se manterá elevada, e citou prognósticos de entidades privadas que projetam taxas mensais entre 20% e 40%, no período que vai de dezembro ao próximo mês de fevereiro.

Milei pintou um cenário fiscal e monetário delicado que, na sua avaliação, coloca a Argentina à beira da hiperinflação, que pode chegar a 15.000% ao ano. “Este é o legado que nos deixam: uma inflação plantada de 15.000% ao ano, que vamos lutar com unhas e dentes para erradicar”, assegurou.

“É a nossa maior prioridade fazer todos os esforços possíveis para evitar tal catástrofe, que levaria a pobreza acima dos 90% e a indigência acima dos 50%”, completou.

Milei advertiu ainda para a “herança” em termos de dívida: US$ 30 bilhões de dívida com importadores; US$ 10 bilhões de lucros retidos de empresas estrangeiras; US$ 25 bilhões de dívidas do Banco Central e US$ 35 bilhões de dívidas do Tesouro. “A bomba em termos de dívida ascende a US$ 100 bilhões (R$ 493,1 bilhões), que terão de ser somados aos quase US$ 420 bilhões (R$ 2 trilhões) de dívida já existente”, alertou.

A estes somam-se os vencimentos em 2024 da dívida soberana emitida em pesos pelo equivalente a cerca de US$ 90 bilhões (R$ 443 bilhões), mais os vencimentos com organismos multilaterais no valor de US$ 25 bilhões (R$ 123 bilhões). “Com os mercados financeiros fechados e o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) colapsado devido aos descumprimentos brutais do governo em fim de mandato, a rolagem da dívida é extremamente desafiadora”, reconheceu.

Apesar do panorama descrito, Milei afirmou que, depois do “reajuste macroeconômico”, a situação da Argentina começará a melhorar. “Haverá luz no fim do caminho”, prometeu.

Em primeiro ato, Milei reduz ministérios de 19 para nove

Em seu primeiro decreto como presidente empossado, Milei oficializou o enxugamento radical do número de ministérios em seu governo, pela metade em relação à gestão do antecessor Alberto Fernandéz, de 19 para nove. Com isso, ele cumpre uma das promessas de campanha, de cortar o total de pastas para oito ou nove. Duas delas foram classificadas como “superministérios”, combinando várias outras que existiam. O Ministério da Infraestrutura abrigará os de Transporte, Obras Públicas, Mineração, Energia e Comunicações, enquanto o Ministério de Capital Humano reunirá os de Desenvolvimento Social, Trabalho e Educação.

O movimento se assemelha ao arranjo feito na gestão de Jair Bolsonaro para os ministérios da Economia, de Paulo Guedes, e da Infraestrutura, de Tarcísio de Freitas. Ainda neste domingo foram anunciados os nomes dos titulares do ministério do presidente argentino. A lista completa é formada por Luis Caputo (economia), Patricia Bullrich (Segurança), Cúneo Libarona (Justiça), Guillermo Ferraro (Infraestrutura), Diana Mondino (Relações Exteriores), Sandra Pettovello (Capital Humano), Guillermo Francos (Interior), Luis Petri (Defesa) e Mario Russo (Saúde).

Bolsonaro teve participação na posse como chefe de Estado

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos convidados que mais se destacaram nos eventos relacionados à posse de Milei em Buenos Aires. Ele, acompanhado da esposa Michelle, recebeu do cerimonial tratamento igual ao dado aos chefes de Estado presentes, com acessos a locais e assentos reservados. No trajeto entre o Hotel Libertador até a Assembleia Legislativa do país, às 10h30, Bolsonaro interagiu com o público, sendo cumprimentado por populares argentinos e visitantes brasileiros sob os gritos que chamaram por seu nome, o que despertou a atenção da emissora estatal de tevê na transmissão do evento.

Por volta das 11h, o ex-presidente brasileiro assinou o livro de visitantes ilustres com a vice-presidente Victoria Villarruel, empossada neste domingo. Na cerimônia principal, de transferência da transferência, Bolsonaro acompanhou na primeira fila de convidados o juramento prestado pelo presidente argentino, que recebeu a faixa e o bastão presidenciais do antecessor, Alberto Fernández. Bolsonaro estava sentado ao lado dos ex-presidentes da Argentina. Lideranças presentes líderes como Viktor Orbán, da Hungria, e Volodimir Zelenski, da Ucrânia.

Após o discurso na escadaria do Congresso e o retorno à Casa Rosada em carro aberto e da missa na Catedral Metropolitana de Buenos Aires, Bolsonaro e Michelle voltaram a figurar em destaque na recepção de líderes e autoridades estrangeiras. O casal Bolsonaro, acompanhado do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), posou ao lado do presidente e da vice. Embora tenha sido oficialmente convidado por Milei para prestigiar a posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi representado na cerimônia principal pelo chanceler Mauro Vieira.

Tarcísio vê com Milei a chance de ampliar parceria econômica

Em entrevista a Cristina Graeml, colunista da Gazeta do Povo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mostrou-se empolgado com a posse do novo presidente da Argentina e seus primeiros atos, sob a marca do liberalismo econômico. “Torço pela reabilitação econômica do país vizinho, que permitirá a ampliação de sua parceria com a indústria paulista, com destaque para autopeças, veículos e calçados”, disse. Para ele, Milei começou bem, na direção correta do ajuste fiscal e outras medidas importantes. “Espero também que este momento da história argentina seja também o início de um movimento que envolverá todo o continente”, disse.

A deputada Bia kicis (PL-DF), que integrou a comitiva de parlamentares brasileiros que participaram da posse, afirmou à colunista que percebeu no público argentino um espírito geral de grande esperança em dias melhores, apesar dos grandes desafios enfrentados pelo país, sobretudo na economia. “Foi muito bom ver os argentinos vibrando nesse momento, que me fez lembrar a chega de Bolsonaro ao poder em 2019. Milei sabe das muitas dificuldades à frente, mas deixou duro recado de que não se curvará”, comentou. Ela também mostrou esperança de que a vitória do político de direita no país vizinho acene uma perspectiva de retorno da direita no Brasil também. “Espero que nós, argentinos e brasileiros, viremos esta página”.

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