
Milhares de pessoas aguardam nesta quinta-feira (7) nos arredores da Academia Militar de Caracas para se despedir do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em uma fila que se manteve ao longo de toda a noite e que não para de passar pelo caixão.
A fila não diminuiu nem durante a noite, quando os chavistas continuavam cantando palavras de ordem, muitos dos quais as repetem quando chegam ao caixão do governante, onde também levam a mão ao coração ou levantam os punhos, geralmente com os olhos marejados.
Os primeiros da longa fila, que hoje toma toda a área e também o Forte Tiuna, o principal regimento militar do país, que entre outras instalações abriga a Academia Militar onde foi erguida a capela, foram os milhares de venezuelanos que acompanharam o percurso do caixão desde o Hospital Militar, onde Chávez morreu na terça-feira (5).
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O percurso do caixão pelas ruas e avenidas do centro de Caracas levou mais de sete horas, reunindo multidões de seguidores de quem governou o país os últimos 14 anos e que há cinco meses foi reeleito para que continuasse no poder até 2019.
O ataúde está aberto para que seus seguidores possam ver o rosto do líder à hora de dar-lhe o último adeus, mas as fotografias são proibidas no lugar.
O governo ainda não informou onde será sepultado Chávez, e na fila ouvem-se muitos pedidos de que vá para o Panteão Nacional, onde repousam os restos do Libertador Simón Bolívar e outros próceres.
O presidente da Assembleia Nacional unicameral, Diosdado Cabello, manifestou seu apoio a essa possibilidade e anunciou ontem que desde o Parlamento farão todo o possível para isso.
Essa homenagem é reservada a "venezuelanos e venezuelanas ilustres que tenham prestado serviços eminentes à República, e passados 25 anos de sua morte", diz a Carta Magna, que ordena que tal decisão seja tomada pela unicameral Assembleia Nacional (AN, Parlamento).
Prevê-se que o corpo de Chávez permaneça na Academia Militar até sexta-feira, quando acontecem os funerais de Estado, em que espera-se a presença da maioria dos chefes de Estado da América Latina e do príncipe Felipe da Espanha.
Chávez morreu na terça-feira aos 58 anos vítima de um câncer contra o qual lutou por 20 meses após ser diagnosticado e após ser submetido a quatro operações cirúrgicas, a última em 11 de dezembro de 2012, da qual não se recuperou.
Chávez morreu após ataque cardíaco, diz general
O presidente Hugo Chávez morreu de um ataque cardíaco fulminante afirmou o chefe da Guarda presidencial da Venezuela na quarta-feira (6).
"Ele não podia falar, mas ele disse com os seus lábios... ´Eu não quero morrer. Por favor, não me deixe morrer´, porque ele amava seu país, ele se sacrificou pelo seu país", afirmou o general José Ornella à Associated Press, acrescentando que o presidente sofreu bastante antes de falecer.
O general disse que passou os últimos dois anos com Chávez, incluindo seus momentos finais, quando o presidente da Venezuela lutou contra um câncer não especificado na região pélvica.
Ornella conversou com a AP do lado de fora da academia militar onde o corpo de Chávez está sendo mantido. Ele disse que o câncer de Chávez era muito avançado quando a morte ocorreu, mas não deu mais detalhes.
Ornella não respondeu quando perguntado se o câncer havia se espalhado para os pulmões de Chávez. O governo disse na véspera da morte de Chávez que ele estava sofrendo com uma nova infecção respiratória grave. Foi a segunda infecção respiratória relatada pelas autoridades depois que Chávez foi submetido a sua quarta cirurgia de câncer em Cuba, no dia 11 de dezembro.
As autoridades venezuelanas não disseram que tipo de câncer Chávez teve ou especificado exatamente de onde os tumores foram removidos. As informações são da Associated Press.
Corpo é velado em Caracas
Após um percurso de 8 quilômetros pelas ruas de Caracas, que durou mais de sete horas, o caixão com o corpo do presidente Hugo Chávez chegou, por volta das 17h40 de quarta-feira (6), à Academia Militar, onde está sendo velado em capela ardente desde então. Acompanhado por uma multidão de simpatizantes, em sua maioria vestidos de vermelho ou nas cores da bandeira venezuelana (azul, vermelho e amarelo), o cortejo partiu do Hospital Militar ainda de manhã.
Ao chegar ao local do velório, os admiradores de Chávez cantaram, mais uma vez, o Hino Nacional. Em seguida, uma banda militar prestou honras ao presidente, que morreu na terça-feira (5) à tarde de câncer, aos 58 anos.
À frente do cortejo, seguia um soldado que empunhava una réplica da espada do libertador Simón Bolívar. A urna com o corpo de Chávez foi escoltada pela multidão e por membros de seu governo, entre eles, o vice-presidente executivo Nicolás Maduro, o ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, o chanceler Elías Jaua, o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, o ministro do Esporte, Héctor Rodríguez, e a vice-presidenta do Parlamento, Blanca Eekhout. O presidente da Bolívia, Evo Morales, também participou da caminhada de despedida.
A multidão de simpatizantes manifesta carinho e compromisso com o presidente. "Gostei do homem, gostei da ideia e, desde então, o sigo, o admiro e creio que sua luta não foi em vão", disse uma das admiradoras de Chávez, que seguiram o cortejo até a Academia Militar.
Todo o sistema de transporte público funciona hoje gratuitamente em Caracas. O percurso foi transmitido em rede de rádio e televisão. Desde terça, as rádios venezuelanas substituíram a programação musical do dia a dia por peças sacras, enquanto os canais de televisão incluíram sinais de luto na tela.
O corpo do presidente Hugo Chávez será sepultado na manhã de sexta-feira (8).
Comoção popular
Com o coração na mão por ter perdido "fisicamente" o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, milhares de seus seguidores tomaram nesta quarta-feira (6) as ruas de Caracas em um emotivo e prolongado cortejo fúnebre no qual, com o grito "Chávez vive, a luta continua", se negavam a crer na morte de sua revolução bolivariana.
Como não podia ser de outra forma, um autêntica maré de massas se despediu do "presidente do povo" no centro da capital em seu percurso de mais de seis horas de duração, no qual muitos choravam desconsoladamente.
"O luto é algo que cada pessoa sente, venho com um coração na mão", disse, às lágrimas e abraçando sua esposa, Alfredo, um engenheiro civil de 45 anos.
"Acho que não poderia viver o resto da minha vida se não acompanhasse o presidente, pelo menos, neste último passeio, ainda que fisicamente", disse ele à Agência Efe.
Desde o começo da manhã, milhares de chavistas se concentraram nas imediações do Hospital Militar de Caracas para acompanhar o corpo do líder até a Academia Militar, onde de hoje e até sexta-feira será realizado seu velório.
Escoltado por membros do governo e da Guarda de Honra Presidencial e, na parte final, também pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, o carro fúnebre avançava lentamente entre uma maré vermelha que lhe mandava beijos, lhe jurava fidelidade e lhe lançava lembranças.
De fato, ao término do percurso, o caixão do presidente já estava repleto de camisetas, flores, fotos e outros objetos, formando uma curiosa coletânea de mostras de carinho.
"Te amarei para sempre, meu pai", dizia um dos improvisados cartazes levados por uma jovem.
As lágrimas de seus fãs incondicionais se fundiam com as dos membros do governo, da Guarda de Honra e dos soldados do forte dispositivo policial disposto para a ocasião.
"Estamos com vocês!", gritavam os chavistas cada vez que avistavam algum ministro ou dirigente político, que ficaram sem seu carismático líder.
Como órfãos se sentiam também hoje muitos venezuelanos na concentração, apesar de estavam convencidos de que o legado que o presidente lhes deixou já é indestrutível.
"Vamos continuar com a luta. Os revolucionários somos afortunados por termos tido esse líder, mas agora temos que nos unir e nos mobilizar", disse Lenin Sevilla, um administrador de 35 anos.
Perto dele, Rosa Valera, uma aposentada de 69 anos, acompanhada por amigas que nem sequer tinham energias para poder falar, afirmou estar "muito comovida, muito triste e pedindo a Deus que o tenha no lugar onde tem que ficar".
E muitos na concentração falavam da morte física de Chávez, mas não da espiritual.
"Chávez somos todos", "Chávez vive, a luta continua" ou inclusive "Chávez, ao Panteão" foram alguns dos lemas e reivindicações ouvidos na concentração.
"Não acho que exista uma pessoa da magnitude de Chávez como político, como ser humano, com um coração de verdade", argumentou Alejandro Reyes, um aposentado de 68 anos.
Nem o sol incessante incomodou seus seguidores, que não quiseram perder esse ato de tributo a um presidente que muitos já veem como um mito.
O chavismo terá tempo para velar Chávez na Academia Militar até sexta-feira, quando líderes de todo o mundo se unirão ao luto que hoje foi oficializado pela Venezuela.
Foco se volta para nova eleição
Em meio à comoção, aliados esperam que o luto público ajude a garantir a sobrevivência da autointitulada revolução socialista quando os eleitores elegerem um sucessor.
Dezenas de milhares de venezuelanos imediatamente tomaram as ruas para homenagear o líder socialista, e o luto e vai continuar durante o velório, nesta quarta-feira.
O futuro das políticas esquerdistas de Chávez, que ganhou a adoração dos venezuelanos pobres mas enfureceu adversários que o acusavam de ditador, agora recai sobre os ombros do vice-presidente Nicolás Maduro, o homem indicado por Chávez para sucedê-lo.
"Na imensa dor dessa tragédia histórica, que tem afetado a nossa pátria, apelamos a todos os compatriotas para estarem vigilantes pela paz, amor, respeito e tranquilidade", disse Maduro.
"Nós pedimos que o nosso povo canalizar essa dor em paz."
Maduro, de 50 anos, ex-motorista de ônibus e líder sindical, provavelmente enfrentará o governador de oposição Henrique Capriles na próxima eleição presidencial.
Autoridades disseram que a votação seria convocada dentro de 30 dias, mas não estava claro se isso significava que seria realizada dentro de 30 dias ou apenas se a data será anunciada nesse período.
Uma recente pesquisa de opinião mostrou Maduro com ampla liderança sobre Capriles, em parte porque ele recebeu a bênção de Chávez como seu herdeiro. É provável ainda que ele se beneficie da onda de emoção após a morte do presidente.
Maduro tem sido um aliado próximo de Chávez há anos e seria muito pouco provável que fizesse grandes mudanças políticas.
Alguns têm sugerido que ele poderia tentar aliviar as tensões com investidores e o governo dos EUA, embora, horas antes da morte de Chávez, Maduro tenha afirmado que os "imperialistas" inimigos tinha infectado o presidente com o câncer como parte de uma série de conspirações com os adversários internos.
Biografia
Chávez nasceu em 28 de julho de 1954, em Sabaneta. Segundo filho entre oito irmãos, antes de se tornar cadete das Forças Armadas, sonhou em ser jogador profissional de beisebol. A infância de Chávez ocorreu em uma época pós-ditadura militar. Na ocasião, a Venezuela vivia os uma democracia incipiente, sob receitas crescentes advindas de petroleiras.
Nas Forças Armadas, enquanto subia na hierarquia militar, estudava os escritos do libertador da Venezuela, Simón Bolívar, além de estudar os filósofos Nietzsche e Plekhanov. Nesta época, começou a prestar atenção à extrema pobreza e desigualdade social do país, em meio ao surgimento de uma elite venezuelana.
Chávez organizou militares em uma conspiração para substituir o que classificava de uma falsa e venal democracia. Em 1992, liderou uma tentativa fracassada de golpe militar. Apesar disso, seu discurso de rendição, transmitido em rede nacional, impulsionou sua carreira política.
Após dois anos de prisão, Chávez foi libertado e adotado como líder nominal por uma coalizão de movimentos de base e partidos de esquerda. Nas eleições de 1998, este grupo o levou à vitória, com apoio não apenas dos pobres, mas de classe média saturada dos partidos políticos tradicionais.
Pouca gente fora da Venezuela, até então conhecida apenas por misses e pelo petróleo, sabia como avaliar a chegada ao poder de um líder temperamental que elogiava Fidel Castro, mas que dizia não ser nem de direita nem de esquerda, mas sim adepto de uma "terceira via" à moda do britânico Tony Blair. Em poucos anos, Chávez se tornou uma das figuras mais reconhecíveis, e polarizadoras, do planeta.
Em abril de 2002, o presidente foi alvo de um golpe de estado, conduzido por elites venezuelanas, com o apoio de George W. Bush. Reconduzido ao poder, Chávez radicalizou seu discurso: passou a declarar-se socialista e estatizou setores da economia. Com a disparada nos preços do petróleo, custeou a abertura de clínicas de saúde equipadas com pessoal cubano e outros programas sociais, aliviando a pobreza.
O presidente era, constantemente, criticado por ter aparelhado a mídia estatal para promover um culto de personalidade. Além disso, oposicionistas o acusavam de ter reforçado o controle sobre as Forças Armadas, o Judiciário e o Legislativo.
Em 2000, um ano depois da aprovação da nova Constituição do país, Chávez voltou a ganhar as eleições. No ano passado, o presidente foi reeleito para um novo mandato de seis anos.
Hugo Chavez, da infância ao poder
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