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Americanos prestam homenagens aos mortos no massacre em Newtown | REUTERS/Joshua Lott
Americanos prestam homenagens aos mortos no massacre em Newtown| Foto: REUTERS/Joshua Lott

Newtown, EUA, se tornou um lugar de peregrinação, com pessoas vindo de toda a Nova Inglaterra e de outros locais para rezar, acender uma vela, deixar uma guirlanda ou um ursinho de pelúcia, ou apenas se deixar estar calado em solidariedade à cidade de coração partido. Vinte seis árvores de Natal, cada uma representando uma das vítimas do massacre do dia 14 estão na entrada da escola Sandy Hook. Elas foram decoradas por desconhecidos que vieram aos milhares para essa pequena comunidade devastada.

Gina Rider dirigiu 210 km de Holliston, no Massachusetts, com quatro pequenos corações de papel que ela e o filho de 10 anos, Nicholas, recortaram e enfeitaram com as palavras "amor", "paz", "fé" e "esperança". "Meu filho e eu estávamos chorando e nos perguntando o que poderíamos fazer para ajudar, quando ouvimos falar das árvores", disse Gina. "Eu disse: 'vamos fazer alguns enfeites e, se os fizermos, eu prometo que vamos colocá-los numa árvore', completou.

Newtown também é o lugar onde o crescente debate nacional sobre como os EUA lidam com suas armas e suas doenças mentais é profundamente - e dolorosamente - pessoal. Enquanto o presidente Barack Obama e defensores das armas se preparam para lidar com esses assuntos, a discussão aqui nesta semana ainda é inicial.

Steve Perrelli, um corretor de seguros de East Haven, Connecticut, dirigiu 45 minutos até Newotwn porque ele estava "destruído e com o coração partido" por causa do massacre e irritado em razão das legislações que ele acredita terem contribuído para a carnificina.

Ele deixou suas homenagens próximo à escola, junto a centenas de outras que refletem tanto a idade das vítimas como a tristeza de um fim de ano perdido: ursinhos com chapéus de Papai Noel, o sapo Caco (da série Muppet Babies) e o Tigrão do desenho animado Ursinho Puff, uma rena, flores e guirlandas de Natal - tudo molhado e cobertos por lama. "Uma criança ter uma arma daquelas..." disse ele, com a voz arrastada enquanto olhava para o memorial encharcado. Perrelli diz não entender o argumento a favor de manter as armas semiautomáticas legais. "Essas pessoas não têm coração. Se alguém quiser uma arma, vai encontrar", completou.

Três grandes ambulâncias de Newark, Nova Jersey, vieram colocar velas votivas, uma para cada vítima, numa forma de coração na grama molhada. "Nós olhamos do ponto de vista dos socorristas", diz Michael Alves, vestindo, como seus colegas, um uniforme azul marinho. "Nós fizemos isso do fundo do nosso coração", afirmou.

Alves, Brunos Castanheira e Oscar Caicedo disseram ter tirado uma folga e dirigiram cerca de uma hora e 40 minutos para prestar a homenagem. Eles veem a brutalidade da violência armada diariamente no trabalho, dizem, e não acham que a proibição de armas semiautomáticas vá mudar alguma coisa.

"Se alguém realmente quer uma arma, vai encontrar", diz Castanheira, acendendo as velas com um isqueiro. "A mãe desta criança tinha as armas legalmente. Mesmo se você as banir, o que vai impedir alguém de pegar a arma de alguém que a tem legalmente?", indagou.

Conselheiros e cuidadores de todos os tipos - de evangelistas a um grupo de massoterapeutas de Rhode Island que veio oferecer massagens grátis para socorristas voluntários de Newtown - chegaram à cidade para dar algum conforto.

Funerais se entrecruzam

Os visitantes lotaram as ruas de Newtown na terça-feira, enquanto moradores tentavam voltar à vida normal em meio ao impronunciável. Funerais praticamente se entrecruzaram quando mais duas vítimas de seis anos eram enterradas: James Mattioli e Jessica Rekos.

"Nós estamos devastados, e nossos corações estão com as outras famílias que estão lamentando como nós", disseram os pais de Jessica, Rich e Krista Rekos, numa nota.

Os estudantes da cidade, ou a maioria deles, voltaram às aulas pela primeira vez desde o dia 14.

Na Escola Intermediária Reed, eles eram recebidos com uma mensagem: recipientes de plástico vermelhos colocados na cerca, na forma da palavra "Reze".

A frota de ônibus amarelos do distrito carregava decorações em verde e branco, as cores de Sandy Hook. A escola estava vazia, como ficará por meses, enquanto uma unidade desocupada na cidade vizinha Monroe estava sendo preparada para servir em substituição.

Armas são retiradas de lojas temporariamente

Há dezenas de lojas de armas a alguns quilômetros de Sandy Hook, e armas de fogo são comuns nesta parte de Connecticut, cheia de montanhas e florestas densas perfeitas para a caça e o tiro esportivo.

Dick's Sporting Goods, uma importante rede de varejo , vende uma série de armas de fogo na seção de caça de sua loja no shopping Danbury Fair, cerca de 25 km a oeste de Newtown. Na terça-feira pela manhã, entretanto, os stands de armas estavam todos vazios. Um funcionário estava retirando inclusive as armas de ar comprimido das prateleiras, empilhando-as num carrinho.

"Por respeito às vítimas e a suas famílias, durante este período de luto nacional nós removemos todas as armas de venda e de exposição em nossa loja mais próxima a Newtown, e suspendemos a venda de rifles modernos de esporte em toda a nossa a rede", disse a companhia numa nota, no dia 17.

Donos de lojas de armas na região dizem que foram entrevistados por agentes do Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de fogo e Explosivos. Um agente deixou um cartão na porta do J.T.'s Gun Shop em Danbury, Connecticut, no dia 16, pedindo ao dono para ligar "o mais rápido possível". "Connecticut tem uma das mais rígidas legislações sobre armas no país", disse o comerciante James Terico. "Você sabe e eu sei que qualquer um que quiser encontrar uma arma vai encontrá-la. Nada ilegal foi feito. O que se pode fazer?", disse.

Terico diz que Adam Lanza, identificado pela polícia como o atirador, estava "tão cheio de ódio que foi inacreditável".

"Para atirar no rosto da própria mãe você precisa estar realmente com algum distúrbio", disse, acrescentando que filmes violentos e videogames estão contribuindo para tal violência. "Não são as armas. Por que a imprensa sempre aponta os dedos para as lojas de armas? Por que não apontam o dedo para os produtores de filmes?", questionou.

H. Wayne Carver, o chefe do serviço médico legal do estado, disse que os corpos de Adam e da mãe, Nancy Lanza, foram reclamados na tarde de terça-feira. Ele não disse quem, e afirmou que a funerária pediu para que não fosse identificada.

Resultados de exames toxicológicos para determinar se Adam usara alguma droga antes do ataque não vão estar prontos antes de, pelo menos, duas semanas, disse Carter.

Após dias isolando a vizinhança onde os Lanza viviam, a polícia abriu a Rua Yogananda ao tráfego. Duas viaturas de Stamford estavam estacionados na propriedade.

A casa continua decorada para as festas de fim de ano, como uma grande guirlanda pendurada junto ao jardim frontal e enfeites verdes em volta das colunas.

Também continua a ser uma cena de crime, cercada por centenas de metros de fita amarela cercando o vasto jardim.

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