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Egito

Milhares protestam contra prisão de ativista no Cairo

Alaa Abdel Fatah foi detido para prestar esclarecimento no domingo, acusado de incitar cristãos contra a polícia, mas se recusou a dar declarações

Pelo menos três mil pessoas marcharam na noite desta segunda-feira (31) pelas ruas do Cairo exigindo a libertação imediata do ativista pró-democracia Alaa Abdel Fatah, detido no domingo (30) por uma corte militar. A manifestação se transformou em um ato contra a junta militar que governa o país desde a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro passado.

"Abaixo o governo militar!" e "Alaa, estamos te apoiando, não pare!" eram os gritos de ordem mais ouvidos na já lendária Praça Tahrir, no centro da capital egípcia, de onde os manifestantes seguiram para a principal delegacia da cidade. Pelo menos 200 policiais observaram a manifestação, mas não houve confrontos.

Alaa, de 29 anos, foi convocado a depor no domingo, mas se recusou a responder às perguntas da corte sob a alegação de que "não reconhecia o direito do Exército de investigar a violência atribuída a ele". Pesam contra o ativista acusações de incitar cristãos contra a polícia no último dia 9, quando choques entre a minoria copta do país e as forças de segurança causaram pelo menos 24 mortes no Cairo, na maior violência registrada desde a derrocada da ditadura.

Poucos dias depois de a Justiça condenar dois policiais a apenas sete anos de prisão pelo assassinato a pauladas do jovem Khaled Said em Alexandria, episódio que catalisou a ira popular e culminou no levante antiditadura, a detenção de Alaa reacendeu uma fúria pouco vista no Egito.

Alaa Abdel Fatah é um conhecido blogueiro - considerado, aliás, o primeiro do país - e ativista pró-democracia e, desde meados de 2005, denunciava violações de direitos humanos na internet. Ele é filho de um proeminente advogado, Ahmad Saif, preso e torturado por cinco anos durante o regime Mubarak, e de Laila Saif, ativista política e professora de Matemática na Universidade do Cairo.

Ainda em 2006, ele foi detido em um protesto pacífico por defender um Judiciário livre - e graças à mobilização virtual através do movimento "Free Alaa", o jovem foi libertado 45 dias depois. Temendo por sua segurança, o programador de software mudou-se para a África do Sul com a esposa, Manal. Mas, retornou ao Egito para engrossar o movimento anti-Mubarak na Praça Tahrir.

"Alaa está causando problemas (aos militares) porque é um ativista de longa data, que tem muitos simpatizantes e o poder de influenciar. Eles não querem que ouçamos a voz dele", afirmou o manifestante Andy Ishaq, de 24 anos, que usava um adesivo colado à roupa com os dizeres "sou contra julgamentos militares a civis".

Pelas redes sociais, crescem a indignação - sobretudo diante de novos rumores de mortes causadas por torturas em penitenciárias - e o movimento para libertar o ativista. Embora não haja dados precisos, estima-se que milhares de egípcios estejam sendo detidos sob acusações duvidosas e julgados em cortes militares.

"Estamos tentando manter o foco nos julgamento de civis também, e não só em Alaa", disse a esposa dele, Manal, prestes a dar à luz o primeiro filho do casal.

O Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) chamou de "cúmulo da hipocrisia" a tentativa da junta militar de intimidar críticos com julgamentos militares. Em um comunicado, a Anistia Internacional também denunciou a prática.

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