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Após líderes de milícias islâmicas terem abandonado a capital da Somália na quinta-feira, em meio ao avanço de forças do governo, alguns combatentes livravam-se de seus uniformes, homens leais a chefes locais reapareciam nas ruas e moradores escondiam-se com medo.

Enquanto o Conselho das Cortes Islâmicas da Somália (SICC) fugia das forças do governo somali apoiadas por tanques e jatos etíopes em Mogadíscio, a cidade parecia mergulhar novamente em uma situação caótica.

"Fomos derrotados. Eu tirei meu uniforme. A maior parte dos meus camaradas também passou a usar roupas civis", disse um ex-combatente do SICC entrevistado pela Reuters nesta conturbada cidade portuária.

"A maior parte dos nossos rebeldes fugiu. Eu não sou mais um soldado das Cortes Islâmicas."

Disparos de armas de fogo e ondas de saque marcaram o final de meses de relativa estabilidade iniciados quando, em junho, os combatentes muçulmanos expulsaram da cidade chefes locais aliados dos EUA e impuseram a sharia (lei de inspiração islâmica).

"Há um clima de incerteza no ar. Meu maior medo é de que a capital mergulhe na sua antiga anarquia", disse Muktar Abdi, um morador de Mogadíscio.

"O governo deveria ingressar aqui, agora, e assumir o comando", afirmou. "Essa é a melhor chance que eles têm antes de a cidade cair novamente nas mãos dos chefes locais."

Temendo represálias, os combatentes islâmicos queimaram ou jogaram fora seus uniformes. E um grupo de rebeldes contrário à Etiópia e presente na cidade teria se escondido.

Dentre os 2 milhões de habitantes da cidade, poucos saíram de suas casas na quinta-feira. Mas alguns disseram estar prontos para celebrar a chegada das forças governamentais e etíopes.

ARMAS À VENDA

Sucessivos conflitos armados abalaram a capital, localizada em uma região costeira, deixando marcas de bala e de morteiro em suas antes elegantes construções de pedra.

Refugiados moram, hoje, em tendas improvisadas dentro de alguns prédios semidestruídos e localizados em ruas cobertas de areia e buracos.

Em meio às barracas e à pobreza, no entanto, podem ser vistos alguns complexos brancos de grandes dimensões e cercados por muros. Eles pertencem, em sua maioria, a ex-chefes locais e a empresários que se aproveitaram da situação caótica para ganhar dinheiro realizando importações e oferecendo serviços de telefonia celular e de Internet sem pagar impostos.

Segurando uma flor e caminhando na direção da periferia da cidade, Rukia Shekeye contou à Reuters estar feliz. "Hoje, Deus expulsou as chamadas Cortes Islâmicas que estavam usando a religião em benefício próprio", afirmou.

"Eu decidi dar as boas-vindas aos soldados do governo. Centenas de pessoas vão fazer a mesma coisa. Esse é um dia histórico."

Mas outros temiam a retomada da violência generalizada já que as milícias leais a chefes locais ressurgiam nas ruas dirigindo caminhonetes carregadas de armamento pesado.

"Eu pretendo comprar várias metralhadoras para minha própria segurança e para proteger meus negócios", disse um outro morador, Abdi Hassan.

"Tenho certeza de que o preço das armas vai diminuir. As pessoas estão levando as armas que saquearam para vender", contou. "Eu vi uma senhora carregando uma metralhadora pesada nos ombros. Ela trouxe essa arma para vender."

Inicialmente, os combatentes muçulmanos foram bem-recebidos pelos moradores da capital, cansados com os incessantes conflitos internos e com a extorsão praticada em vários postos de controle criados pelas milícias dos chefes locais.

Mas o sentimento de boas-vindas esfriou entre alguns setores da sociedade depois de os combatentes muçulmanos terem proibido o consumo do gat, uma planta narcótica bastante popular, e terem fechado cinemas improvisados que exibiam filmes de Bollywood e partidas da Copa do Mundo.

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