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O avião da FAB que fez viagem de bate-e-volta para buscar brasileiros no país vizinho: muitos planejam retornar ao garimpo em breve | Wilson Dias/ABr
O avião da FAB que fez viagem de bate-e-volta para buscar brasileiros no país vizinho: muitos planejam retornar ao garimpo em breve| Foto: Wilson Dias/ABr
  • Veja onde fica o Suriname

Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) buscou ontem em Paramaribo, capital do Suriname, 33 brasileiros que desejavam deixar a região onde "marrons" – surinameses descendentes de quilombolas – atacaram garimpeiros na noite da última quinta-feira.

Com ferimentos graves, três brasileiros foram levados de ambulância ao avião. Um deles tinha cicatrizes de um golpe de facão no rosto. Outro estava com um braço engessado.

O restante do grupo seguiu para o aeroporto de micro-onibus.

De acordo com o Ministério de Relações Exteriores (MRE), o Hércules C-130 trouxe ao Brasil todos aqueles interessados em deixar o Suriname. Mas, apesar do terror enfrentado no dia de Natal, para muitos dos 33 brasileiros atacados em Albina que embarcaram ontem no voo, o retorno ao Brasil será quase um "bate e volta’’.

Garimpeiros com quem a reportagem conversou, ainda antes da partida do avião, afirmaram que não têm perspectivas em suas cidades de origem, das quais partiram há anos, e que por isso passarão pelo país apenas para tirar os documentos perdidos no conflito, voltando para a região do Suriname em poucos meses.

A Embaixada do Brasil em Paramaribo divulgou uma lista com nomes de 124 brasileiros que estavam na região de Albina, no dia do crime. Uma das principais dificuldades do MRE é que a maioria dos cerca de 15 mil brasileiros que estão no Suriname é ilegal e não dispõe de documentação.

O caso

Conforme testemunhas, quilombolas surinameses atacaram cerca de 200 brasileiros e outros estrangeiros – como chineses e javaneses – que viviam na região de Albina, na noite de Natal. A maioria das vítimas é ligada ao garimpo ilegal. Os "marrons" estavam revoltados com a morte de um surinamês, atribuída a um brasileiro. Pelo menos 25 ficaram feridos no ataque. Houve também agressões físicas, estupros e depredações.

Não há registro oficial de mortes, e o governo brasileiro pede cautela na definição sobre um número de desaparecidos.

O padre José Virgílio da Silva, que dirige a rádio Katólica e deu as­­sistência aos brasileiros vítimas do ataque, afirmou que há pelo me­­nos sete desaparecidos, incluindo três brasileiros. De acordo com relatos de brasileiros que moram no Suriname, quilombolas surinameses teriam matado e jogado os corpos das vítimas nos rios e matas da região.

Ontem, o MRE esclareceu que não nega a existência de desaparecidos, mas ressaltou que é comum, pa­­ra aqueles que vivem na região de Albina e trabalham em garimpos no interior do Suriname e da Guiana Francesa, passar "semanas na floresta", sem comunicação. "Por esse motivo, é necessário aguardar antes de considerar ‘desaparecido’ qualquer desses cidadãos", afirmou o MRE, em comunicado.

Estupros

O governo brasileiro enviou ao Su­­riname uma assessora da Se­­cre­­taria de Políticas para Mulheres, vin­­culada à Presidência, para dar assistência às brasileiras vítimas de agressão sexual em Albina.

"Estamos aqui para ter um olhar mais sensível às questões específicas de violência de gênero. As mulheres vão receber orientações sobre como recuperar a autoestima e ter autonomia para tomar a decisão de voltar ou não ao Suriname no futuro’’, afirmou Clarissa Carvalho, assessora técnica da secretaria.

As vítimas dos sexo feminino seguiriam hoje à noite para Be­­lém, onde seriam encaminhadas ao centro de referência mantido pelo governo para lidar com violências contra as mulheres. Lá, serão atendidas por psicólogos e assistentes sociais.

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