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Mineiros sepultam nesta sexta-feira (31) um de seus colegas mortos no confronto com os policiais na mina de Marikana | AFP Photo/Rodger Bosch
Mineiros sepultam nesta sexta-feira (31) um de seus colegas mortos no confronto com os policiais na mina de Marikana| Foto: AFP Photo/Rodger Bosch

Um tribunal sul-africano indiciou nesta quinta-feira (3) por assassinato os mineiros presos no dia 16 de agosto, quando a polícia realizou a operação repressiva mais sangrenta desde o final do Apartheid, deixando 34 grevistas mortos nas imediações da mina de Marikana.

Os sindicatos e o grupo mineiro Lonmin continuavam negociando sob os auspícios do governo sul-africano para tentar pôr fim à greve em Marikana. Apenas 6,6% dos 28 mil assalariados da mina foram trabalhar nesta quinta-feira, segundo a empresa.

"O tribunal indiciou todos os mineiros por assassinato, com base na lei de intenção comum", informou o porta-voz da promotoria, Frank Lesenyego.

A lei do país determina que todas as pessoas detidas em um lugar onde houve um tiroteio envolvendo policiais têm que ser indiciadas por assassinato, independente de as vítimas serem agentes ou não.

A acusação recai sobre 270 mineiros: os 259 que foram detidos no dia 16 de agosto mais os feridos que foram presos ao sair do hospital.

O juiz marcou a próxima audiência para quinta-feira, 6 de setembro, e ordenou que continuassem detidos até essa data.

Um especialista questionou esta interpretação da lei. "Não vejo como se pode usar a doutrina da intenção comum para culpá-los pela morte de outros mineiros mortos pela polícia", considerou Vincent Nmehile, professor de Direito na Universidade de Witwatersrand.

O ativista Julius Malema, expulso em abril do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder na África do Sul, compareceu à audiência desta quinta-feira e também criticou a decisão judicial.

"É uma loucura!", disse depois da decisão do juiz, "nenhum dos policiais que matou esses mineiros está na prisão".

A greve não autorizada na mina de platina de Marikana deixou um total de 44 mortos.

Dez homens, entre eles dois policiais e dois guardas, morreram nos enfrentamentos entre sindicatos entre os dias 10 e 12 de agosto, e 34 mineiros em greve perderam a vida no dia 16 de agosto, quando a polícia atirou nos manifestantes.

A polícia alegou que atuou em legítima defesa, já que os mineiros portavam armas brancas.

Na quinta-feira foram mantidas as negociações iniciadas na quarta entre a Lonmin e os sindicatos. Pela primeira vez, os 3 mil perfuradores da mina que iniciaram a greve no dia 10 de agosto para reclamar que seus salários sejam triplicados aceitaram que os sindicatos os representem.

A empresa busca um "acordo de paz" prévio que permita "voltar à normalidade antes de qualquer discussão" sobre outros temas.

Na quarta-feira (29), depois de mais de três semanas de greve na mina de Marikana, o vice-presidente sul-africano Kgalema Motlanthe considerou que as enormes desigualdades entre ricos e pobres podem desencadear uma revolução na África do Sul.

"O consumo de ostentação (...) em meio à miséria" pode reavivar o ressentimento contra os ricos. "É um ingrediente para uma revolução", declarou.

"Já estamos em uma situação insustentável com 15 milhões de pessoas recebendo auxílio social" em uma população de 50 milhões de pessoas, disse Motlanthe, que pode se candidatar em dezembro contra o presidente Jacob Zuma durante o próximo congresso do ANC.

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