No dia mais sangrento desde o início do intenso bombardeio do Líbano por forças israelenses na semana passada, 63 civis morreram na quarta-feira em várias áreas do país atingidos por bombas, mísseis, estilhaços ou soterrados sob toneladas de escombros, enquanto milhares fugiam para o norte tentando afastar-se o mais possível do fogo inimigo.
A violência dos ataques, que fez o número de mortes de civis libaneses e estrangeiros chegar a quase 300 em apenas oito dias de conflito, coincidiu com a advertência da alta comissária de Direitos Humanos da ONU, que afirmou que o bombardeio indiscriminado de cidades tanto no Líbano e nos territórios palestinos como em Israel pode constituir crime de guerra.
Preocupada com o morticínio, a canadense Louise Arbour disse que o bombardeio das cidades é inaceitável por que causa o sofrimento de civis. Ainda segundo ela, quem estiver em posição de comando é passível de ser responsabilizado. Para alta comissária de Direitos Humanos da ONU, a lei humanitária internacional é clara sobre a obrigação de proteger não-combatentes em qualquer conflito.
Esta obrigação também está expressa na lei penal internacional, que define crimes de guerra e crimes contra a Humanidade disse ela.
Por sua vez, o relator especial para Direitos Humanos em Saúde da ONU, o neozelandês Paul Hunt, pediu uma investigação independente sobre possíveis crimes de guerra cometidos por Israel em Gaza. Ele ressaltou que a situação naquele território palestino piora a cada dia e disse que o ataque israelense a uma estação elétrica, causando corte de energia e de água, foi uma violação da lei humanitária internacional.
Hunt também citou o que chamou de "resposta desproporcional de Israel" contra os ataques palestinos.
Em incursões no sul do Líbano, na quarta-feira, dois soldados israelenses morreram e nove ficaram feridos no confronto com militantes do Hezbollah.
O oitavo dia de enfrentamentos entre o grupo xiita libanês Hezbollah e Israel viu um desesperado primeiro-ministro Fuad Siniora repetir seu apelo por um cessar-fogo que detenha a destruição de seu país. Ambos os lados, no entanto, se disseram prontos a continuar a luta até que seus objetivos sejam alcançados: Israel exige a libertação de dois militares seqüestrados, o desarmamento do Hezbollah e o fim dos ataques de foguetes contra seu território, enquanto o grupo xiita quer a troca dos reféns por prisioneiros libaneses em cárceres israelenses.
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, afirmou que os bombardeios durariam "o tempo que for necessário" para libertar os dois soldados capturados pelo Hezbollah no dia 12 de julho e para garantir que o grupo xiita seja desarmado.
O presidente sírio, Bashar al-Assad, conversou por telefone com o primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, a respeito da necessidade de um cessar-fogo, disseram meios de comunicação.Os EUA firmaram posição contra os apelos para que a ONU declare um cessar-fogo entre Israel e o Líbano.
Apanhada no meio do fogo cruzado, a população civil de ambos os lados continua sofrendo, embora o número de vítimas seja desproporcionalmente superior entre os libaneses. Nesta quarta-feira, 17 pessoas morreram e 30 ficaram feridas num ataque aéreo que destruiu casas na aldeia de Srifa, no sul do Líbano.
Houve um massacre aqui lamentou o prefeito Afif Najdi.
Outras 46 pessoas perderam a vida em bombardeios em diversas áreas. O Hezbollah anunciou a morte de mais um de seus militantes, o sexto até agora. Numa entrevista ao jornal francês "Le Figaro", o premier Fuad Siniora disse que "os israelenses praticamente não atingem o Hezbollah; eles matam civis libaneses". Israel, no entanto, alega que já destruiu 50% da capacidade de fogo do grupo xiita.
Num ataque de foguetes contra Israel, duas crianças de origem árabe morreram em Nazaré, elevando para 15 o número de civis mortos no país. Autoridades da cidade, de população majoritariamente árabe-israelense, reclamaram que não há alarmes antiaéreos nem abrigos e que os avisos da polícia são dados apenas em hebraico, língua que nem todos entendem.
Haifa voltou a ser atingida e houve dezenas de feridos em várias localidades do norte de Israel. Já nos territórios palestinos, 14 pessoas morreram em ataques das forças israelenses, entre elas seis civis, e 60 ficaram feridas. À noite, a Cisjordânia foi fechada pelo Exército de Israel.
Muitos habitantes de aldeias do sul do Líbano dizem que começa a faltar água, comida e remédios por causa da destruição de pontes e estradas. O Unicef (órgão da ONU para a infância) pediu US$ 7,3 milhões para assistência imediata.
Famílias desabrigadas na região da fronteira lotaram picapes e caminhões, muitas agitando bandeiras brancas, em direção a Sidon, a principal cidade do sul, onde há menos violência.
Os estrangeiros também fogem em pânico do país.
- É muito ruim, muito triste, não posso acreditar no que está acontecendo - disse aos prantos Lubna Jaber, uma australiana que foi ao Líbano visitar parentes.
Ela aguardava no centro de Beirute, com cerca de 350 compatriotas, os ônibus que os levariam até uma balsa com destino à Turquia.
Cerca de 1.100 americanos deixaram o Líbano por mar e ar em direção a Chipre na quarta-feira. É o maior grupo de cidadãos dos EUA já resgatado do país em um só dia.
A França disse que 8 mil dos 17 mil cidadãos seus que vivem no Líbano pediram para serem retirados. A Alemanha enviou pelo menos 500 cidadãos de ônibus para a Síria.



