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Aplicativo WhatsApp fez com que multidões revoltadas matassem várias pessoas inocentes na Índia desde abril | Marcelo AndradeGazeta do Povo
Aplicativo WhatsApp fez com que multidões revoltadas matassem várias pessoas inocentes na Índia desde abril| Foto: Marcelo AndradeGazeta do Povo

Falsos rumores sobre sequestradores de crianças viralizaram no WhatsApp, fazendo com que multidões revoltadas matassem várias pessoas inocentes na Índia desde abril.

O fenômeno é parte de uma tendência de informações falsas que inundam as mídias sociais há alguns anos, incitando a violência em várias partes do mundo, desde o Brasil até o Sri Lanka. 

Na índia, as mensagens se baseiam em um medo universal: o mal causado aos pequenos. Algumas delas, no WhatsApp, descreviam gangues de sequestradores à espreita; outras incluíam vídeos mostrando pessoas passando de carro e roubando crianças. 

O modelo do aplicativo facilita a divulgação dos boatos. Muitas mensagens são compartilhadas em grupos e quando são encaminhadas não apresentam nenhuma indicação de sua origem. Em geral, os avisos de sequestro parecem vir de amigos e familiares. 

O WhatsApp, que é propriedade do Facebook, tem 250 milhões de usuários só na Índia. Com baixa escolaridade, muitos dos que utilizam o aplicativo pela primeira vez acreditam sem pestanejar no que veem no celular.

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Uma das primeiras a ser morta foi uma mulher de 65 anos chamada Rukmani. 

Ao lado de quatro membros da família, ela se dirigia a um templo no estado meridional de Tamil Nadu, em maio; uma multidão na estrada os confundiu com "traficantes de crianças" e os agrediu. 

Venkatesan, cunhado de Rukmani que estava no carro com ela, foi ferido durante o ataque, que descreveu em detalhes. Quando se aproximava do templo, a família parou para pedir informações; por alguma razão, uma mulher que estava por perto começou a ficar desconfiada e chamou o filho, que deu o alarme. 

A família ficou nervosa e decidiu dar meia volta, mas quando chegou à próxima aldeia, uma multidão esperava por eles. 

Foram despidos e espancados com barras de ferro, paus, socos e chutes. Vídeos do ataque foram amplamente divulgados na internet. 

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Quando tudo acabou, Rukmani estava morta. Os outros, feridos, foram deixados onde estavam. O carro foi destruído, e os pertences do grupo, roubados. 

A principal autoridade do governo da região contou que a polícia havia passado semanas lá antes do ataque alertando as pessoas para que não acreditassem nos boatos de sequestro, mas não eram páreo para o WhatsApp. "Não dá para competir", disse ele. 

A polícia prendeu 46 pessoas pelo ataque a Rukmani e sua família e está atrás de outras 74. 

Restrição do WhatsApp na Índia

O WhatsApp declarou que ficou horrorizado com os assassinatos. Recentemente, começou a rotular todas as mensagens encaminhadas. Além disso, usou anúncios de jornal para educar as pessoas sobre a desinformação e prometeu trabalhar mais de perto com a polícia e com verificadores de fatos independentes. Também iniciou um teste para limitar o encaminhamento de mensagens

Autoridades em todo o país tentaram conter a violência. Além de alertar as pessoas sobre os falsos rumores, prenderam algumas que os espalharam. Em certos lugares, derrubaram brevemente o acesso à internet. A Suprema Corte da Índia exigiu que o governo adotasse uma "linha dura" contra a violência das massas. 

No ataque mais recente, um engenheiro de software foi morto e três companheiros seus foram feridos depois que ofereceram chocolate a crianças na frente de uma escola.  

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