• Carregando...
Jimmi Akesson, líder dos Democratas Suecos | Mikael Sjoberg/Bloomberg
Jimmi Akesson, líder dos Democratas Suecos| Foto: Mikael Sjoberg/Bloomberg

Viking rock e porcos assados atraíram milhares de suecos a um festival organizado por nacionalistas prontos para provocar a maior agitação política de seu país em um século. 

Os Democratas Suecos são liderados desde 2005 por Jimmie Akesson. Ele transformou o partido, que tem suas raízes no neonazismo e na defesa da supremacia branca. Algumas pesquisas eleitorais mostram que o grupo pode se tornar o maior no Parlamento sueco após as eleições gerais de 9 de setembro. Este resultado acabaria com 100 anos de domínio social-democrata. 

Na cidade natal de Akesson, Solvesborg, grandes multidões o aplaudiram enquanto ele expunha a visão do partido de barrar a imigração. A agenda é parte de uma onda global de sentimento nacionalista e antissistema que se seguiu à crise financeira de 2008, com a eleição de Donald Trump nos EUA e a decisão da Grã-Bretanha em deixar a União Europeia como os exemplos mais marcantes da nova ordem mundial. 

Para a Suécia, um ponto crítico foi a crise de refugiados de 2015. Nas últimas décadas, a outrora nação homogênea de 10 milhões de pessoas foi transformada, com 18% da população agora nascida fora do país. 

A maioria dos suecos diz ter uma visão positiva em relação à imigração, mas os eleitores ficaram mais confortáveis ao expressar suas dúvidas depois que seu país aceitou mais de 600 mil refugiados nos últimos cinco anos. 

No festival do seu partido, Akesson agitou a multidão ao criticar os fracassos do sistema político, qualificando os dois últimos governos como os piores na história sueca. As camisetas que pediam por um Swexit, ou uma saída da UE, eram vestidas enquanto bandas tocavam canções nacionalistas. 

Leia também:  Polícia sueca atira e mata homem com síndrome de Down que segurava arma de brinquedo

Ted Lorentsson, aposentado da ilha de Tjorn, disse que é um defensor entusiasta dos Democratas Suecos. "Eu acho que eles querem melhorar o atendimento aos idosos, a assistência médica e os cuidados às crianças", disse. "Devolvam a velha Suécia", acrescentou. Mas Lorentsson também reconhece que seu ponto de vista levou a divergências dentro de sua família já que sua filha sente que essa é uma retórica no estilo de "Hitler". 

Outros apoiadores dizem que estão frustrados pelo fato de que o boom econômico da Suécia, nos últimos anos, não tenha se traduzido em ganhos de bem-estar e outros serviços. "Trens e hospitais não funcionam, mas a imigração continua", disse Roger Mathson, trabalhador aposentado de uma fábrica de óleo vegetal. 

"Não sou racista, mas sou nacionalista", disse ele. "Não gosto de ver a praça da cidade cheia de senhoras vestidas com o niqab e pessoas brigando umas com as outras". 

Violência e filas de espera

O governo liderado pelos social-democratas do primeiro-ministro Stefan Lofven tem registrado taxas de crescimento econômico que superam os 3%, em parte impulsionadas pela imigração. Mas, ao mesmo tempo, os suecos estão tendo de esperar mais tempo para ter acesso a serviços essenciais, como o atendimento hospitalar. As taxas de criminalidade aumentaram com mais tiroteios relacionados com gangues, relatos de estupros e vandalismo. Na semana passada, dezenas de carros foram incendiados em Gotemburgo, segunda maior cidade do país, no que a polícia diz ter sido um ataque coordenado

Pia Persson, de 60 anos, que mora em Kristianstad e trabalha na Absolut Vodka, diz que está votando nos Democratas Suecos depois de se sentir negligenciada pelo atual governo. Isto inclui esperar muito tempo no consultório de seu médico, onde Persson diz que às vezes é a "única sueca". 

Kristianstad, a cerca de meia hora de carro da cidade natal de Akesson, tem a mesma proporção de população nascida no exterior que a média nacional. Os rendimentos são 8% inferiores aos da média nacional e apenas um terço chegou à faculdade. Os Democratas Suecos obtiveram 21,5% dos votos em Kristianstad em 2014, contra 12,9% em todo o país. 

Segundo uma análise dos Democratas Suecos feita pela empresa de pesquisa Novus, apenas 5% acreditam que a Suécia está no caminho certo. Quase dois terços dos eleitores são homens, tem educação abaixo da média, tendem a morar em áreas rurais e ganham menos do que os que apoiam os dois maiores partidos: o Social Democrata e o Moderado. Suas principais preocupações são imigração, segurança e assistência médica. 

Expansão econômica 

A mais longa expansão econômica da Suécia em pelo menos quatro décadas é insuficiente para dar mais apoio do governo, conforme mostram as pesquisas. Os imigrantes desempenharam um papel importante no crescimento econômico, solucionando uma escassez crescente de mão-de-obra. Os trabalhadores nascidos no exterior foram responsáveis por todo o crescimento do emprego no setor industrial no ano passado e preencheram 90% das novas vagas em assistência social. 

A Suécia também se sai bem em pesquisas globais sobre satisfação de vida e competitividade econômica. E goza de um saudável superávit orçamentário. 

Leia também: Suécia x Suíça: imigração é assunto dentro e fora de campo

Mas até mesmo os eleitores mais jovens estão dando as costas ao sistema político tradicional. Um potencial defensor dos Democratas Suecos é o estudante de direito Oscar Persson. Apesar de ainda não ter decidido como vai votar, ele diz que é hora dos partidos tradicionais pararem de tratar os Democratas Suecos como párias. "Este jogo que eles participam agora, onde as outras partes não querem falar com eles, mas ainda querem seu apoio, é algo que realmente não entendo", disse ele. 

Akesson conseguiu atrair os eleitores de ambos os lados do espectro político com uma mensagem de mais bem-estar e menos impostos. 

Sebastian Svensson, um engenheiro que trabalha em um escritório de agrimensura, diz que apoiou o partido de oposição de centro-direita, os Moderados, no passado. Mas mudou de ideia. "Seria bom ter impostos muito altos se tivéssemos a melhor assistência médica da Europa, por exemplo. Mas nós não temos". 

Ser considerado racista não é uma grande preocupação para Ulf Hansen, um político municipal e também baterista do Ultima Thule, uma das bandas favoritas de Akesson. Desde que foi criada no início dos anos 80, a banda tem sido a favorita dos círculos de direita. O primeiro disco foi até patrocinado pela Bevara Sverige Svenskt (Mantenha a Suécia sueca), um movimento neonazista a partir do qual os Democratas Suecos cresceram. 

Hansen acredita que a imigração "foi longe demais". "As pessoas dizem que existem 'racistas nas ruas'. Eventualmente, eu apenas penso, bem, me chame assim então. Eu sei que não sou, mas ...”.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]