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Solenidade foi realizada em frente à estátua do Parque da Paz de Nagasaki. | Kyodo/Reuters
Solenidade foi realizada em frente à estátua do Parque da Paz de Nagasaki.| Foto: Kyodo/Reuters

Três dias depois de Hiroshima, foi a vez de Nagasaki lembrar, neste domingo (9) – data local –, o ataque nuclear que arrasou a cidade do oeste do Japão e matou cerca de 70 mil pessoas há 70 anos, em meio às críticas a uma reforma do governo que busca fortalecer o papel do exército.

Em 9 de agosto de 1945, às 11h02 (horário local), a explosão atômica destruiu 80% dos edifícios de Nagasaki, entre eles sua célebre catedral de Urakami, situada a 500 metros do ponto de impacto.

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Na mesma hora do domingo (23h02 de sábado no Brasil), a população fez um minuto de silêncio enquanto soaram sinos e sirenes em toda Nagasaki, antigo centro de intercâmbios comerciais entre o Japão e o exterior e cidade conhecida por sua importante comunidade cristã.

Papa pede proibição das armas

  • São Paulo

Durante sua tradicional oração do Angelus, o papa Francisco recordou neste domingo (9) os ataques nucleares sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, que disse serem o “símbolo do poder desmedido de destruição do homem”.

A uma multidão reunida sob um sol escaldante na Praça de São Pedro, Francisco afirmou que as explosões foram um “acontecimento trágico que continua a provocar horror e repulsa”.

Para o pontífice, elas são “o símbolo do poder desmedido da destruição humana quando se faz um uso errado dos avanços da ciência e tecnologia.”

Francisco publicou recentemente uma encíclica sobre o meio ambiente, intitulada “Laudato si”, na qual alerta a humanidade sobre a sua propensão excessiva ao antropocentrismo, em detrimento da natureza.

“O antropocentrismo moderno coloca a razão de ordem técnica acima da realidade. A vida está sendo abandonada às circunstâncias condicionadas pela tecnologia, vista como a principal forma de interpretar a existência”, escreveu.

Apelando para o que a humanidade “renuncie para sempre à guerra e acabe com as armas nucleares e de destruição em massa”, Francisco destacou a necessidade de construir uma “ética da fraternidade” no mundo.

“Que em todo o mundo se eleve uma única voz: não à guerra e à violência, sim ao diálogo e à paz”, exclamou o papa.

“Com a guerra, sempre perdemos, a única maneira de ganhar uma guerra é não fazê-la”, acrescentou.

Batizado de “Fat Man”, o projétil de plutônio estava destinado inicialmente à cidade de Kokura (norte de Nagasaki), onde ficava uma importante fábrica de armas. Mas condições meteorológicas desfavoráveis levaram o bombardeiro americano B-29 a mudar a rota.

Três dias antes, uma primeira bomba atômica, a “Little Boy”, tinha causado cerca de 140 mil mortes em Hiroshima (oeste). Os dois bombardeios precipitaram a rendição do Japão, em 15 de agosto de 1945, e o fim da Guerra do Pacífico.

Em dezembro de 1967, o governo japonês se comprometeu solenemente a não fabricar, possuir nem permitir a entrada de armas nucleares em seu território.

Apelo

“Eu apelo aos jovens: escutem a palavra dos mais velhos e reflitam sobre o que vocês pode fazer para a paz”, declarou o prefeito de Nagasaki, Tomihisa Taue, diante de uma multidão de 6,7 mil japoneses, incluindo o primeiro-ministro Shinzo Abe e a embaixadora americana no Japão, Caroline Kennedy, entre representantes de 75 países.

O prefeito convidou “o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e representantes de todos os países detentores de armas nucleares” a visitar Nagasaki.

Em seguida, o prefeito criticou o primeiro-ministro Abe. “Agora há preocupação e ansiedade entre nós com a perspectiva de que este compromisso assumido há 70 anos, o princípio da paz na Constituição japonesa, possa estar em risco”, disse ele, recebendo aplausos da multidão.

Um dos sobreviventes, Sumiteru Taniguchi, de 86 anos, também criticou as tentativas de Abe de reformar o caráter pacifista da Constituição japonesa.

“A lei de segurança que o governo está tentando promover é uma ameaça aos muitos anos do movimento para a abolição das armas nucleares e às esperanças dos hibakushas (sobreviventes vítimas da bomba)”, disse, com o a voz embargada. “Não podemos tolerar essas leis”, insistiu.

A média de idade dos “hibakushas” supera os 80 anos.

As cidades de Hiroshima e Nagasaki, através destas cerimônias e campanhas recorrentes contra as armas nucleares, buscam perpetuar a lembrança destes ataques.

Premier renova promessa de Japão sem armas nucleares

  • Tóquio

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, durante a cerimônia que lembrou os 70 anos do ataque nuclear a Nagasaki, renovou seu comprometimento com um Japão livre de armas nucleares, depois de receber críticas por não ter feito o mesmo discurso no aniversário do bombardeio de Hiroshima, na semana passada.

“Como a única nação do mundo a ter sofrido um ataque nuclear em tempos de guerra, eu renovo minha resolução de desempenhar um papel de liderança na busca de um mundo sem armas nucleares e manter os três princípios não-nucleares”, disse Abe no Parque da Paz de Nagasaki.

Os “três princípios não-nucleares” são a política de longa data do Japão de não possuir ou produzir armas nucleares e de não deixar outros levarem tais armas ao país.

O ministro da defesa do Japão desencadeou uma nova discussão sobre a controversa legislação de segurança na quarta-feira (5), quando disse que as leis sob consideração no Parlamento não excluiriam o transporte militar de armas nucleares por forças estrangeiras.

No ano passado, o gabinete de Abe adotou uma resolução que reinterpreta a Constituição pacifista, redigida pelos norte-americanos após a Segunda Guerra Mundial, para permitir que o Japão exerça autodefesa coletiva ou defenda um aliado sob ataque.

As leis impopulares já passaram pela câmara baixa e o bloco de Abe também tem a maioria na câmara alta. Pesquisas mostram, porém, que a maioria dos eleitores se opõe ao que seria uma mudança significativa na política de defesa do Japão.

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