A possibilidade de que uma consulta popular seja realizada nos próximos meses em Honduras foi definitivamente descartada nesta terça-feira (13), depois de negociadores do presidente deposto Manuel Zelaya e do governo de facto de Roberto Micheletti entrarem em acordo sobre o tema.
Representantes de Zelaya concordaram em se submeter ao quinto ponto do Pacto de San José, texto que serve de base para as negociações de Guaymuras, segundo o qual o líder deposto não poderá abrir caminho para uma constituinte caso retorne à presidência.
Ao todo, os rivais hondurenhos já entraram em consenso em cinco dos oito pontos-chave da negociação: será formado um gabinete de união nacional; não ocorrerá uma anistia geral; não será convocada uma consulta até janeiro, quando acaba o mandato de Zelaya; as eleições não serão antecipadas; e o Exército será submetido ao Tribunal Eleitoral trinta dias antes da votação de novembro.
Até a noite desta terça-feira, porém, não havia acordo sobre a restituição do presidente deposto - ponto mais delicado do diálogo. O limite imposto por Zelaya ao diálogo expira na quinta-feira.
O presidente deposto afastou definitivamente de seu time de negociadores Juan Barahona, líder da ala mais radical de sua base de apoio, a Frente Nacional de Resistência (FNR). Barahona disse ter saído porque se recusava a abrir mão da consulta popular. Em comunicado, a FNR declarou que a substituição de seu líder pelo advogado Rodil Rivera, do Partido Liberal (PL), foi uma exigência da delegação do governo de facto.
Barahona afirmou que "respeita" a decisão de Zelaya de abrir mão da consulta popular. Mas o líder garantiu que seu grupo voltará às ruas para protestar pelo processo constituinte "um dia depois de Mel (apelido do presidente deposto) regressar ao poder".
Carlos Eduardo Reyna, aliado de Zelaya, disse nesta terça-feira à Agência Estado que, caso não haja consenso em relação o tema da restituição até a quinta-feira, um plano de boicote às eleições de novembro será "imediatamente" colocado em prática. "Já temos toda a estratégia definida", assegurou.
Segundo um deputado da base aliada do presidente deposto, comunidades pró-Zelaya estariam prontas para impedir qualquer campanha eleitoral e até mesmo a colocação de urnas. "Temos muito apoio em certas regiões e com isso boicotaremos", garantiu
Responsável por garantir as eleições, segundo a Constituição hondurenha, o Exército diz estar preparando medidas adicionais contra um eventual boicote. "Nossos serviços nacionais de informação estão em ação e pretendemos usar 600 veículos", disse um membro do alto escalão das Forças Armadas que pediu anonimato
Nesta terça-feira, o hotel onde estão ocorrendo as negociações amanheceu cercado por policiais. No fim da manhã, pelo menos trezentos manifestantes se aglomeraram na esquina, sob os gritos de "Viva Alba!", em referência à Aliança Bolivariana para as Américas, capitaneada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Contudo, não houve violência.
Da embaixada do Brasil, Zelaya disse hoje que os golpistas que o derrubaram em 28 de junho "devem ser entregues à Corte Internacional de Justiça (CIJ)", o braço judiciário da Organização das Nações Unidas (ONU). "Essa será a condição imposta após as eleições, caso não me restituam antes."



