Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
dinheiro e negócios

Acordo sobre empresa aérea causou problemas

Investidores de private equity foram presos depois Pluna, a companhia aérea nacional do Uruguai, foi à falência | Claudio Santana/Getty Images
Investidores de private equity foram presos depois Pluna, a companhia aérea nacional do Uruguai, foi à falência (Foto: Claudio Santana/Getty Images)

Pode ter sido o vulcão. Em meados de 2012, um sindicato brasileiro litigioso, o aumento nos preços do combustível aéreo e uma mudança de governo, além de uma erupção vulcânica, acabaram causando problemas para a companhia aérea nacional do Uruguai, a Pluna.

O colapso também atrapalhou o investimento da empresa de private equity que era dona majoritária da companhia aérea. Mas o prejuízo foi muito mais do que financeiro.

“Estamos escrevendo de uma prisão uruguaia”, os três fundadores da Leadgate escreveram em fevereiro de 2014 para seus investidores.

Um juiz e um promotor uruguaios investigam o colapso há três anos, averiguando acusações de irregularidades. Porém, graças a uma peculiaridade do sistema judiciário uruguaio, nenhuma queixa havia sido feita.

Depois de estudar e trabalhar em outros países, Matías Campiani, empresário argentino que chefiou a Pluna, Arturo Álvarez-Demalde e Sebastián Hirsch fundaram a Leadgate em 2004 para investir na América Latina.

A empresa fez seu primeiro investimento no Uruguai em 2005, comprando a Parmalat Uruguay da problemática empresa italiana de laticínios que vendia seus ativos. A equipe de Leadgate reestruturou US$32 milhões em dívidas, negociou com êxito com o governo e os sindicatos, reforçou a produção de leite e acabou trazendo a empresa de volta à rentabilidade.

Em 2007, a Leadgate vendeu a Parmalat Uruguay para uma empresa venezuelana, o Grupo Maldonado, e com o lucro começou a buscar o próximo investimento.

Acabaram chegando até a Pluna, que o governo uruguaio havia assumido depois que seu dono, a companhia aérea brasileira Varig, declarou falência em 2005. A Leadgate adquiriu 75 por cento da Pluna por US$15 milhões em 2007. O governo manteve os 25 por cento restantes.

A Pluna recrutou executivos da American Airlines e da British Airways, comprou vários jatos e abriu novas rotas. Depois de dois anos, tanto o número de passageiros quanto sua receita triplicaram.

Em 2011, a Argentina impôs rígidos controles de capital para proteger suas reservas de dólares depois de um declínio acentuado. A Pluna, que vendia metade de suas passagens em Buenos Aires, de repente teve dificuldade de conseguir dinheiro, o que acabou dificultando o pagamento de salários e a compra de combustível. A desvalorização da moeda argentina também determinou a queda do número de viagens para o Uruguai. Então, o vulcão Puyehue no Chile entrou em erupção, complicando o tráfego aéreo.

Em 2010, um novo presidente assumiu o poder: José Mujica, um ex-guerrilheiro, sucedeu Tabaré Vázquez (que havia vendido a Pluna para a Leadgate). O governo começou a exigir termos punitivos da Pluna.

O acontecimento mais prejudicial veio em 2012 com a liquidação da Varig. Os brasileiros que perderam o emprego com a falência entraram com ações contra qualquer credor potencial, incluindo a Pluna.

Os sócios da Leadgate conseguiram uma nova linha de financiamento de US$ 30 milhões. Representantes do governo no conselho da Pluna, no entanto, vetaram esse novo débito da companhia. A Leadgate devolveu sua participação de 75 por cento ao governo uruguaio em 15 de junho de 2012, sem receber nada em troca.

Pouco depois, a companhia aérea entrou em greve. O governo fechou a Pluna e a liquidou.

Para Campiani e seus dois sócios, isso deveria ter sido o fim de tudo. Os três homens se mudaram para a Flórida e encerraram a Leadgate. Mas membros do partido de Mujica abriram processos para averiguar supostas irregularidades na venda de aviões da Pluna.

Em dezembro de 2013, Campiani, Álvarez-Demalde e Hirsch foram chamados para testemunhar. Acabaram na cadeia.

Entre os supostos erros: após a falência da Pluna, a companhia petrolífera estatal Ancap tentou descontar cheques não amortizados da Pluna que haviam sido assinados por Campiani, quando ele era o executivo-chefe. Os cheques não tinham fundos, o que fez a Ancap afirmar que Campiani agiu de má fé.

Os advogados de Campiani disseram que o juiz e o promotor pouco sofisticados não conheciam as práticas comuns dos negócios.

O juiz, no entanto, decidiu que os sócios deveriam ser julgados.

“É uma jogada puramente política. O governo não tem nada contra eles”, disse o advogado argentino Luis Moreno Ocampo.

Álvarez-Demalde, agora com 42 anos, foi libertado em abril de 2014. Hirsch, de 44 anos, foi solto em fevereiro. Os dois voltaram para a Flórida. Campiani, no entanto, ficou preso por mais de um ano, até ser liberado no dia 22 de maio.

“Não havia nenhuma evidência de fraude. Eles basicamente entraram em conflito com a situação política de lá”, disse Martin Harrison, antigo diretor de operações da Pluna que agora é consultor de aviação em Londres.

Em março, Vázquez foi novamente eleito presidente, e sua facção moderada voltou ao poder.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.