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Bulgária questiona a indústria armamentista

Uma equipe da Cruz Vermelha búlgara conforta os familiares dos operários da fábrica de Midzhur | Vassil Donev/European Pressphoto Agency
Uma equipe da Cruz Vermelha búlgara conforta os familiares dos operários da fábrica de Midzhur (Foto: Vassil Donev/European Pressphoto Agency)

As explosões que destruíram uma fábrica, matando todas as quinze pessoas que lá estavam, fez o país, de luto, questionar um setor perigoso: o desmantelamento de munição obsoleta.

A tragédia, ocorrida na Midzhur, em Gorni Lom, na Bulgária, a cerca de 145 km da capital Sofia, em 1º de outubro, foi o décimo mais grave do gênero na história do país. Os operários estavam desmontando antigas minas terrestres gregas quando o primeiro estouro ocorreu, à tarde, e outros, menores, continuaram durante horas.

O local continuava tão perigoso no dia seguinte que as equipes de busca e resgate não tiveram permissão para entrar. O governo então enviou um grupo de especialistas com veículo blindado para avaliar os danos e drones sobrevoando a área – e o que eles viram foram duas crateras, cada uma do tamanho de um campo de futebol, com destroços espalhados a centenas de metros.

"Parecia que eu estava olhando para uma paisagem lunar. A fábrica e as pessoas tinham simplesmente desaparecido", descreve Valentin Radev, que participou da operação. A Bulgária, que já foi aliada soviética, entrou para a OTAN e a União Europeia após a queda do comunismo, mas está entre as nações mais pobres do continente. E o setor que passou a se destacar foi o de manipulação de grandes quantidades de munição que restaram da Guerra Fria e que se tornou fonte de empregos mais que bem-vinda.

Acontece que os acidentes nos galpões aumentaram "drasticamente" nos últimos 35 anos, segundo o Small Arms Survey, um grupo de pesquisa de Genebra.

Em 2008, uma série de explosões em um armazém de descarte de armamentos na periferia de Sofia sacudiu a cidade feito um terremoto; três pessoas ficaram feridas. Em junho de 2012, três pessoas morreram em uma fábrica de explosivos perto de Sliven, no leste. A fábrica de Midzhur já tinha sofrido com duas explosões: uma em 2007 e outra, em 2010, que feriu seis pessoas e destruiu dois prédios próximos.

Da mesma forma, uma explosão imensa ocorreu em uma fábrica na Albânia, em 2008, onde moradores inexperientes desmontavam peças antigas de artilharia. Vinte e seis pessoas morreram.

O presidente Rosen Plevneliev culpa o "não cumprimento arrogante" das regras de segurança e leis pelas mortes em Gorni Lom.

Já o Ministério do Trabalho disse que em uma inspeção ao local, há dois meses, descobriu equipamentos ultrapassados, explosivos armazenados de forma imprópria e munições de manipulação segura.

O ministro, Yordan Hristoskov, jurou que o local, que empregava 150 pessoas, não seria reaberto, mas os funcionários protestaram, alegando que não tinham outro meio de subsistência.

Segundo a Small Arms Survey, as explosões acidentais vêm sendo registradas em uma proporção de 26,8/ano desde 2010, aumento estratosférico em relação às 4,3/ano nos anos 80. Só a Rússia teve mais de 66 acidentes desde 1979, matando mais de 400 pessoas; no mesmo período, os EUA tiveram 19, com quatro mortes.

"Durante a Guerra Fria, a Bulgária se especializou na produção de munição e armas pequenas, e há muita gente qualificada por aí. Continua sendo um setor importante para o país, só que está se tornando cada vez mais perigoso", define Radev.

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