
Das 43 mil variedades de aranhas conhecidas, uma esmagadora maioria é solitária: tecendo teias, atirando laços, liquidificando presas e atacando invasores.
Mas 25 espécies de aracnídeos trocaram a solidão por uma estratégia mais sociável, na qual dezenas ou centenas de aranhas juntam seus poderes.
Essas aranhas podem levar a novas descobertas sobre uma série de mistérios humanos: como nossas personalidades se formam e por que elas são como são.
"É muito gratificante para mim que o mais difamado dos organismos possa ter algo a nos dizer sobre quem somos", disse Jonathan Pruitt, biólogo da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, que estuda aranhas sociais.
O novo trabalho faz parte do crescente campo de pesquisa sobre a personalidade dos animais, que tenta entender as várias diferenças estilísticas identificadas numa ampla gama de espécies, incluindo macacos, martas, carneiros selvagens, certas lulas, o peixe esgana-gata e hienas pintadas.
Em um artigo na revista "The Proceedings of the Royal Society B", Pruitt e Kate Laskowski, do Instituto Leibniz de Ecologia de Água Doce e Pesca, em Berlim, constataram que a construção do caráter em aranhas sociais é um processo comunitário. Embora elas demonstrem sua predisposição bem cedo tendência à timidez ou à ousadia, à irritabilidade ou à doçura, tal personalidade também é influenciada por outras aranhas.
Em experimentos de laboratório, os pesquisadores demonstraram que as aranhas expostas cotidianamente ao mesmo grupo desenvolviam personalidades mais fortes e distintas do que aquelas que foram deslocadas de um conjunto de aranhas para outro. As aranhas em ambiente social estável ficavam cada vez menos parecidas entre si com o passar do tempo.
Os pesquisadores estudaram a espécie Stegodyphus mimosarum, pequenas aranhas sociais que vivem em colônias de 20 a 300 integrantes, tecendo enormes teias comunitárias do tamanho de automóveis sobre árvores e arbustos do Kalahari, no sul da África. As comunidades de aranhas ganham força por meio de uma divisão do trabalho, com alguns membros especializados em consertar teias e outros em atacar e subjugar presas. Com trabalho em equipe e experiência profissional, as aranhas sociais prosperam.
"É possível capturar presas muito maiores", disse Pruitt. "Vi esqueletos de pássaros e ratos em algumas dessas colônias".
Mas como decidir quem faz o quê? A personalidade parece ditar a profissão. Pruitt verificou que as aranhas encarregadas de defender a colônia e capturar presas tiveram o melhor desempenho em testes de agressividade, enquanto as responsáveis por cuidar das mais jovens eram comprovadamente mais dóceis.
Para medir o desenvolvimento da personalidade sob ambientes estáveis em relação a cenários de mudança social, os pesquisadores simularam a aproximação de um predador, jogando ar na aranha com uma seringa de borracha, o que faz o animal reagir se encolhendo e retraindo as pernas.
O tempo levado para que voltassem à atividade serviu como medida de ousadia, e as diferenças foram grandes.
A mais ousada recuperou-se da ameaça detectada depois de quatro ou cinco segundos, enquanto a mais tímida permaneceu inerte por 10 minutos ou mais.
Igualmente impressionante foi o impacto das condições sociais no teste de ousadia. Grupos estáveis de aranhas, formados por seis aranhas que permaneceram juntas por até quatro semanas, mostraram a maior variedade entre os membros.
Alison Bell, que estuda o esgana-gata na Universidade de Illinois, disse que o trabalho da aranha ilustra a combinação de plasticidade e predileção por trás da personalidade. "É interessante a ideia de que interações sociais possam resultar em nichos sociais. Isso remete à nossa própria experiência como humanos".



