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 | Sandy Huffaker/The New York Times
| Foto: Sandy Huffaker/The New York Times

Em 1942, no auge da Segunda Guerra Mundial, um jovem cientista militar tomou conhecimento do plano dos Aliados de invadir o noroeste da África por mar, para desalojar as forças do Eixo.

O cientista, Walter Munk, fez algumas pesquisas rápidas e descobriu que as ondas na região eram muito altas, o que impediria os barcos levando as tropas de chegar às praias em segurança. Havia o potencial de um desastre. Munk mencionou isso a seu oficial comandante.

Hoje com 97 anos, Munk ainda lembra qual foi a resposta: “Eles já devem ter levado isso em conta”. Mesmo assim, o jovem persistiu. Ele telefonou a seu mentor no Instituto Scripps de Oceanografia para pedir sua ajuda.

Ele e seu mentor arquitetaram uma maneira de calcular as ondas que os barcos dos Aliados poderiam enfrentar. O trabalho ajudou os barcos a fazer o trajeto durante uma janela de relativa calma, e a ciência da previsão de ondas decolou, passando a fazer parte do planejamento para os desembarques do Dia D, em 1944.

Proezas como essas explicam por que Walter Munk às vezes é descrito como o Einstein dos oceanos. Além da previsão de ondas durante a guerra, ele já fez pesquisas pioneiras com transmissão sonora de ondas, com marés das águas profundas e até com mudanças climáticas.

Fotografia de 1952 mostra Walter Munk (à esquerda, em pé) preparando instrumentos perto do atol de EniwetokSpecial Collections & Archives, University of California, San Diego

Nascido em 1917 em uma família de banqueiros de origem judaica, Munk cresceu em Viena. Seus pais se divorciaram, e em 1932 sua mãe o matriculou em uma escola em Nova York.

Depois de cursar a Universidade Columbia, em Nova York, ele decidiu abandonar o ramo dos bancos e foi aceito no Instituto Califórnia de Tecnologia, onde estudou física aplicada.

Em 1939, quando passava o verão perto da casa de uma namorada na comunidade litorânea de La Jolla, em San Diego, ele conseguiu um emprego no Instituto Scripps (hoje integrado à Universidade da Califórnia em San Diego), onde passaria a maior parte de sua vida profissional.

Um dos pontos altos de sua carreira, segundo Munk, ocorreu em 1991, quando ele viajou à ilha Heard, ponto remoto no oceano Índico, para testar sinais sonoros de longo alcance no oceano.

A meta do experimento na ilha Heard era determinar se um som gerado no sul do oceano Índico poderia ser ouvido em outras partes do mundo. A velocidade de deslocamento dos sinais sonoros poderia fornecer dados úteis sobre o aquecimento das temperaturas marítimas, Munk calculou, porque o som se deslocaria um pouco mais rápido quando o oceano se aquecesse.

Horas antes do início previsto do experimento, Munk foi despertado com uma ligação de Bermudas. De milhares de quilômetros de distância, o posto de escuta já tinha ouvido o som. Na realidade, Bermudas tinha ouvido o breve teste de som feito pelos técnicos que prepararam o teste completo.

“Foi a melhor notícia que já ouvi”, disse Munk. As transmissões feitas a partir da ilha Heard acabaram sendo conhecidas como “o som ouvido em todo o mundo”.

No entanto, a empolgação de Munk em usar os sons oceânicos para medir as mudanças climáticas criaria problemas alguns anos depois. Em 1994, como parte de um projeto do instituto Scripps, Munk tentou instalar um transmissor sonoro no Santuário Marinho Nacional de Monterey Bay, ao largo da costa da Califórnia, para ajudar a medir mudanças nas temperaturas oceânicas ao longo do tempo.

Porém, ambientalistas temeram que as transmissões pudessem prejudicar baleias, que se orientam e encontram alimentos por meio de seu próprio sonar e se alimentam no santuário.

A ONG Natural Resources Defence Council pediu uma audiência pública para tentar suspender o projeto de Munk, e seu pedido foi aceito.

Munk e o instituto Scripps concordaram em transferir o posto de escuta para mais longe da costa e priorizar o estudo dos efeitos dos sons sobre os mamíferos marinhos.

Munk ainda anseia por usar sons para medir o aquecimento oceânico. “Estou convencido de que é possível fazer um bom trabalho acústico submarino sem prejudicar as baleias, desde que sejam tomadas algumas precauções”, disse.

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