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 | Bara Kristinsdottir /The New York Times
| Foto: Bara Kristinsdottir /The New York Times

Em um trailer não muito distante da maior usina de energia geotérmica da Islândia, uma pesquisadora se debruça sobre uma caixa de amostras — cilindros de rocha retirados do subsolo por uma broca.

Em um teste que começou em 2012, cientistas injetaram centenas de toneladas de água e dióxido de carbono em porosas rochas basálticas, produto de antigos rios de lava do vulcão Hengill, 457 metros abaixo da superfície. Agora, a pesquisadora, Sandra Snaebjornsdottir, que faz doutorado na Universidade da Islândia, buscava sinais de que o CO2 — o maior contribuinte do aquecimento global — havia se combinado aos elementos do basalto, transformando-se em calcita. Resumindo, ela queria ver se o gás havia se transformado em pedra.

Pesquisadores estudam amostras de solo na Islândia para verificar se o dióxido de carbono que foi injetado se transformou em mineralBara Kristinsdottir/The New York Times

“Há um pouco de calcita aqui”, disse ela, apontando para partículas brancas nas amostras de rocha cinza. “Vamos examiná-las com mais cuidado depois.”

Esse trabalho é parte de um projeto de 10 milhões de dólares chamado CarbFix, que busca desenvolver uma alternativa de armazenamento de parte do dióxido de carbono emitido por usinas de energia e indústrias que, quando na atmosfera, segura o calor. Para ajudar a combater a mudança climática, dizem os especialistas, bilhões de toneladas de CO2 terão que ser capturadas e armazenadas.

Mas fazer isso custa caro. E, com pouco incentivo financeiro para incentivar o armazenamento do carbono, existem poucos projetos em larga escala operando pelo mundo, armazenando um total de menos de 30 milhões de toneladas por ano, de acordo com o Global CCS Institute, que promove a tecnologia. Nesses projetos, o gás é altamente comprimido, até se portar como um líquido, e é injetado geralmente em arenito, ou, algumas vezes, em um antigo campo de petróleo ou gás.

O projeto CarbFix possui uma abordagem diferente dessa convencional, pois utiliza água junto com o dióxido de carbono, e o injeta em rochas vulcânicas. A água e o CO2 injetados se misturam dentro de um poço como se fosse uma gigante máquina geológica de refrigerante. A água carbonada resultante, que é ácida, ajuda a quebrar a pedra, liberando cálcio e outros elementos que se combinam com o carbono e o oxigênio do CO2.

Como o gás de fato desaparece, “não gostamos de chamar de armazenagem”, disse Edda Aradottir, coordenadora do projeto. O termo preferido é, segundo ela, carbonação mineral.

Porem, a injeção de grandes quantidades de água junto com o CO2 faz o custo aumentar. Os cientistas do CarbFix estimam que o transporte e a injeção poderiam custar 17 dólares por tonelada de CO2, cerca do dobro do transporte e injeção do gás sozinho. (Esse custo se soma ao custo maior de capturar e separar o CO2 da fumaça gerada por uma usina de força.)

Sigurdur Gislason, cientista chefe do projeto, disse que o método do CarbFix pode ter vantagens de custo em longo prazo. Por causa do risco de vazamento, a zona de armazenamento convencional precisa ser monitorada, potencialmente por centenas de anos. A área do CarbFix, que é de minerais estáveis, pode ser deixada em paz.

A carbonação mineral pode ocorrer em vários tipos de rochas, mas normalmente é muito lenta. A abordagem do CarbFix acelera o processo com a injeção no basalto, uma rocha muito reativa. E poucos locais no mundo possuem tanto basalto quanto a Islândia; o país é quase todo feito dele. A ilha está no topo da Dorsal do Atlântico Médio, a fronteira entre as duas maiores placas tectônicas do planeta, onde o magma basáltico vem das profundezas da terra para formar novas crostas.

O que não há na Islândia, no entanto, são grandes quantidades de emissão de CO2. Estações de geração geotérmicas, como a de Hellisheidi, próxima da área do CarbFix, emitem CO2 mas as quantias são cerca de cinco por cento das emissões de uma usina que use gás natural.

“Não conseguimos fazer injeções de CO2 em larga escala” na Islândia, disse Edda Aradottir. Porém, por causa da geologia, o país é o local ideal para demonstrar a eficácia do projeto.

Há grandes depósitos de basalto em outros locais. Na área da bacia do Rio Columbia, perto de Wallula, em Washington, um projeto-teste similar está em fase de análise.

Na Islândia, análises detalhadas das amostras irão determinar se a abordagem do CarbFix funciona, mas ainda está em aberto a questão da adoção do processo de mineralização quando e se a armazenamento de carbono se popularize.

“Se o ponto de vista for ‘Será que uma usina que utiliza combustível fóssil vai querer sequestrar CO2 através da água carbonatada?’, então isso não faz sentido”, disse Elizabeth Burton, gerente geral das Américas do Global CCS Institute. Mas se a usina tiver que reinjetar água de qualquer jeito, disse ela, “talvez compense economicamente”.

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