• Carregando...

Um romancista digitando em um notebook pode não parecer ter muito em comum com um jogador de basquete profissional fazendo uma bandeja. Porém, se fosse possível examinar o interior da cabeça deles, veríamos algumas semelhanças impressionantes no funcionamento dos seus cérebros.

Essa é uma das implicações de uma nova pesquisa sobre a neurociência da redação criativa. Pela primeira vez, neurocientistas utilizaram escâneres de ressonância magnética para acompanhar a atividade cerebral tanto de escritores tarimbados quanto de iniciantes durante o processo de produção de uma obra de ficção.

Os pesquisadores, coordenados por Martin Lotze da Universidade de Greifswald na Alemanhã, observaram uma extensa rede de regiões cerebrais trabalhando em conjunto enquanto os participantes produziam suas histórias. As atividades internas dos escritores profissionais, os cientistas argumentam, exibiram algumas semelhanças com as pessoas com habilidades em outras atividades complexas, como a música ou os esportes.

Alguns especialistas apontam isso como um avanço importante na compreensão da redação e da criatividade, enquanto outros criticam a pesquisa como muito básica e incapaz revelar alguma coisa significativa sobre os mistérios da literatura ou da inspiração.

Nos estudos anteriores, Lotze observou o cérebro de pianistas e de cantores de ópera, utilizando aparelhos de ressonância magnética para localizar as regiões que ficavam incomumente ativas no cérebro.

Isso pode ser desafiador quando o participante está cantando uma ária. Os aparelhos são muito parecidos com câmeras do século 19: eles podem tirar fotos muito nítidas, desde que os pacientes permaneçam imóveis. A fim de conseguir dados precisos, Lotze desenvolveu um software que pode considerar as flutuações causadas pela respiração ou pelos movimentos da cabeça.

Lotze queria fazer o escaneamento dos candidatos enquanto eles estivessem de fato escrevendo. Mas não conseguia fornecer aos participantes um teclado para escrever porque o campo magnético gerado pelo aparelho arremessaria o teclado para o outro lado da sala. Assim, criou uma escrivaninha personalizada, colocando um pedaço de papel em um bloco onde os participantes se reclinariam.

Para começar, Lotze pediu aos 28 voluntários que copiassem um texto, o que lhe deu uma leitura de referência sobre a atividade cerebral durante a escrita.

A seguir, mostrou aos voluntários algumas frases de um conto e lhes pediu que continuassem a história com suas próprias palavras. Os voluntários podiam pensar por um minuto, e depois escreviam por pouco mais de dois minutos. Algumas regiões do cérebro eram ativadas apenas durante o processo criativo, mas não durante a cópia, constataram os pesquisadores.

Contudo, Lotze também reconhece que seus voluntários não tinham nenhuma experiência prévia com redação criativa. O cérebro dos escritores em tempo integral responderia de forma diferente?

Para descobrir isso, ele e os seus colegas foram à Universidade de Hildesheim, também na Alemanha, que tem um programa de redação criativa altamente competitivo, e recrutaram 20 escritores de lá.

Conforme os cientistas relatam na publicação NeuroImage, os cérebros dos escritores profissionais pareciam trabalhar de forma diferente. No centro profundo dos cérebros dos escritores profissionais, uma região chamada de núcleo caudado ficava ativa. Nos iniciantes, o núcleo caudado ficava em silêncio.

Quando começamos a aprender uma habilidade – seja tocar piano ou jogar basquete – usamos muito esforço consciente. Com a prática, essas ações se tornam mais automáticas. O núcleo caudado e as regiões adjacentes começam a coordenar a atividade cerebral conforme ocorre essa alteração.

Steven Pinker, psicólogo da Universidade de Harvard, não acredita que os experimentos possam fornecer uma imagem clara da criatividade. "É uma comparação esdrúxula", declarou. Até mesmo os experimentos mais bem projetados podem não perceber os sinais da criatividade, alertou o dr. Pinker.

A própria natureza da criatividade pode torná-la diferente de uma pessoa para outra, e assim pode ser difícil ver o que os diferentes escritores têm em comum. Pinker especulou que o escritor Marcel Proust possa ter ativado as regiões de percepção do paladar quando se lembrava do sabor de um biscoito. Porém, outro escritor pode depender mais dos sons para evocar uma época e lugar. "A criatividade é uma coisa perversamente difícil de estudar", ele disse.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]