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Moldura com réplicas em cera da coleção permanente do Museu de Anatomia Mórbida | Misha Friedman para The New York Times
Moldura com réplicas em cera da coleção permanente do Museu de Anatomia Mórbida| Foto: Misha Friedman para The New York Times

Talvez seja porque as pessoas estejam vivendo mais e a morte, consequentemente, esteja mais distante, ou a maioria já se armou com cópias do "Guia de Sobrevivência a Zumbis" para se sentir imune aos seus efeitos colaterais.

Qualquer que seja a razão, Nova York recentemente abriu três exposições de arte associadas ao luto e à prestação de homenagens póstumas: "Death Becomes Her: A Century of Mourning Attire" (A Morte Se Tornou Ela: Um Século de Roupas Fúnebres"), no Museu Metropolitano de Arte; "Sylvan Cemetery: Architecture, Art and Landscape at Woodlawn" (Cemitério Sylvan: Arquitetura, Arte e Paisagem em Woodlawn", na Galeria de Arte Wallach, na Biblioteca Avery da Universidade de Columbia, e "The Art of Mourning" ("A Arte do Luto"), exposição inaugural no Museu de Anatomia Mórbida do Brooklyn.

Sinistro demais? "Eu acho bastante saudável. A sociedade está se abrindo para a discussão de todos os tópicos que eram proibidos e as pessoas, desejosas de cicatrizarem as feridas naturalmente, preferem compartilhar a dor", diz Mary Rockefeller Morgan, psicoterapeuta e autora de "When Grief Calls Forth the Healing: A Memoir of Losing a Twin" ("Quando a Dor Anuncia a Cura: Memórias da Perda de Um Irmão Gêmeo").

Os curadores afirmam não terem sentido nenhum tipo de relutância ao abordar o tema.

"Ainda temos um medo inacreditável da morte, mas somos massacrados por questões relacionadas a ela, presentes na cultura pop, o tempo todo; acho que é mais uma questão de curiosidade", afirma Susan Olsen, diretora de homenagens históricas do Cemitério Woodlawn, no Bronx, que organiza cerimoniais para nomes como George M. Cohan e Duke Ellington.

"Grande parte da população está numa idade em que o interesse pela morte é inevitável; além disso, temos cemitérios que se promovem como espaços verdes e reúnem arte e arquitetura, por exemplo; outros, que eram extremamente restritos, agora se abriram ao público. Outra coisa que estimulou esse fascínio é a genealogia, a relação com o passado que, de repente, passou a ser tão acessível", ela explica.

No Costume Institute do MET, o plano inicial era fazer apenas uma exposição sobre a transformação da silhueta da roupa feminina – até que os curadores viram que a melhor forma de mostrar isso era através de vestidos pretos, geralmente usados para o luto.

"Achamos que seria um tópico importante no contexto da história da moda do século XIX. Tentamos não dar um aspecto mórbido à mostra e provar que o uso do luto não era uma preocupação com a morte em si, mas sim um instrumento de expressão da dor", explica a curadora assistente, Jessica Regan.

O Museu de Anatomia Mórbida foi inaugurado em junho. "Todos os objetos contidos aqui – as fotos post-mortem, as coroas de flores, as máscaras mortuárias – têm como objetivo expressar a perda", informa Joanna Ebenstein, a diretora criativa.

"Por que é mórbido contemplar a mortalidade, analisar a morte? A ideia de negá-la é um luxo que não podemos nos dar. Essa noção de que a morte é exótica e pode ser negada é nova e já cria reações contrárias, é claro. O que torna nós, humanos, únicos, é o fato de termos o conhecimento antecipado da morte", filosofa Joanna.

"Ela não vai desaparecer porque fingimos que não existe; é preciso haver uma forma cultural de lidar com essa realidade da vida."

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