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Ciência & tecnologia

Faculdades tentam animar a aula de ciência

Catherine Uvarov surpreende os alunos com perguntas na turbulenta sala de aula da Universidade da Califórnia, em Davis | Max Whittaker para The New York Times
Catherine Uvarov surpreende os alunos com perguntas na turbulenta sala de aula da Universidade da Califórnia, em Davis (Foto: Max Whittaker para The New York Times)

Centenas de alunos ocupam seus lugares, mas a sala de aula está suficientemente silenciosa para que todo mundo ouça o som de alguém tossindo ou de um papel sendo amassado. O professor fala de um pódio durante quase 80 minutos. A maioria dos estudantes toma notas. Alguns navegam pela internet. Outros cochilam.

Em outra sala, a professora Catherine Uvarov fazia perguntas aos alunos e os pressiona a explicar e expandir suas respostas. Em intervalos de alguns minutos, ela faz com que eles resolvam problemas em pequenos grupos. Andando pela sala, ela põe um microfone na cara de um aluno assustado, pedindo uma resposta.

As duas são aulas introdutórias de Química no campus da Universidade da Califórnia em Davis, mas há um contraste — a tradicional e organizada, mas sem graça, contra a experimental e envolvente, mas barulhenta. Longe de práticas que muitos educadores dizem serem ineficazes, as aulas de Catherine são parte do esforço de transformar a maneira como a ciência é ensinada em um pequeno, mas crescente número de faculdades americanas.

"Não fazemos um bom trabalho nos cursos introdutórios de Ciências e Matemática", disse Hunter R. Rawlings III, presidente da Associação de Universidades Americanas.

Vários estudos mostram que os alunos se saem melhor com uma abordagem mais ativa ao aprendizado, usando algumas das ferramentas adotadas aqui na Davis, enquanto nas aulas tradicionais, os alunos aprendem frequentemente menos do que seus professores acham.

A Universidade do Colorado, líder nacional na reforma do ensino de Ciências, testou milhares de estudantes ao longo de vários anos, antes e depois de terem feito um curso de introdução à Física, e relatou em 2008 que alunos das aulas que utilizam os novos métodos obtiveram notas cerca de 50 por cento melhores do que os das aulas tradicionais.

Na Universidade da Carolina do Norte, os pesquisadores relataram recentemente que uma revisão das aulas de introdução à Biologia havia produzido um efeito particularmente benéfico para alunos negros e para aqueles cujos pais não foram para a faculdade.

Empregadores e autoridades do governo passaram anos se queixando de que existem poucas pessoas — e especialmente poucas mulheres e poucos negros — com diploma em Matemática e Ciência.

Na verdade, não há nenhuma falta de alunos interessados, mas as taxas de insucesso nas aulas introdutórias são elevadas. Em cursos com duração de quatro anos, 28 por cento dos alunos começam na Matemática, na Engenharia e em Ciência, mas apenas 16 por cento se formam nessas áreas. A taxa de abandono é alta entre mulheres e negros.

O projeto empresta elementos de várias fontes. Muitas das ideias — como novos usos da tecnologia, exigência de que os alunos trabalhem em grupos e façam exercícios em classe — se adaptaram bem em diferentes séries dos ensinos médio e fundamental. Mas o ensino superior tem sido mais lento na mudança.

Enquanto professores em níveis inferiores recebem treinamento em métodos de ensino, os das faculdades não o possuem.

"O ensino superior assume que se você conhece o assunto, pode ensiná-lo, o que não é verdade. Vejo um monte de coisas que eu estava perdendo antes e que faltavam na minha própria educação", disse Catherine.

Membros do corpo docente universitário dizem que alguns colegas estão relutantes em aceitar uma sala de aula mais turbulenta que coloca os alunos no centro do palco. "Dá mais trabalho, e seu controle diminui", disse Mitch Singer, o primeiro professor no campus Davis a dar uma aula de biologia introdutória no novo estilo.

A transição aqui mal começou. Em suas aulas, Singer e Catherine aproximam-se dos alunos, andam pela classe, prestam atenção nos grupos de trabalho. Eles evitam perguntas simples, e cada assunto tem um follow-up, ou dois ou três.

"Eu não gosto de ser perguntada assim. Mas isso faz você participar e prestar atenção, porque sempre há algo novo acontecendo, e faz o tempo passar muito rápido", disse Jasmine Do, aluna do primeiro ano que foi uma das chamadas por Catherine.

Os professores têm aplicativos em seus smartphones que permitem que chamem alunos aleatoriamente. Quando apresentam perguntas de múltipla escolha em telões, os alunos respondem com controles remotos, fornecendo feedback instantâneo sobre quanta informação estão absorvendo, permitindo que os professores controlem presença, mesmo em uma classe de 500 alunos.

Singer disse que isso "faz muita diferença".

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