
Quando o carro Ambassador nasceu em 1957 em uma Índia recém-independente, ele foi o ápice do estilo e do status. Era padrão para os servidores públicos do alto escalão e para as autoridades do governo; a sua posse indicava status, e sua onipresença era o símbolo de uma Índia anterior e mais simples.
A economia altamente protecionista do país também o tornou um dos poucos carros na estrada, com design único frequentemente comparado a um chapéu-coco.
Porém, esse ícone da estrada indiana pode ter chegado ao fim da linha, retirado do seu domínio pela mudança de gosto dos consumidores, pela abertura do mercado e pela feroz concorrência. Em maio, a fabricante do carro, a Hindustan Motors, anunciou que suspenderia a produção do seu Ambassador.
Até 1999, a Hindustan Motors divulgou um prejuízo de 9,5 milhões de dólares da única fábrica em Bengala Ocidental, parcialmente por causa de uma força de trabalho maior que o normal. Segundo a Reuters, no ano fiscal terminando em março de 2014, apenas 2.200 veículos foram vendidos. No ano encerrado em setembro de 2013, a empresa divulgou prejuízos maiores que o patrimônio líquido.
O quase monopólio que a Hindustan Motors deteve durante décadas foi a perdição do carro, declarou Siddharth Varadarajan, jornalista que possui três unidades do Ambassador.
"Nunca houve nenhum incentivo para a Hindustan Motors melhorar o produto", ele disse. "Era uma empresa altamente míope".
Contudo, a empresa declarou que a suspensão da produção é temporária, e que a fábrica em Bengala Ocidental em algum momento será reinaugurada.
Ainda assim, o Ambassador é o carro da Índia de Jawaharlal Nehru. Nesse sentido, tem a distinção de ser um dos poucos veículos cujo nome evoca o poder, a elegância e algo agradavelmente clássico. Entretanto, na forma de táxis e de veículos oficiais em Calcutá e em Deli, o carro quase sempre é marcado pela degradação.
Os motoristas reclamam que os pedais quebram após poucos milhares de quilômetros e que o ar-condicionado para de funcionar. Alguns utilizam cúrcuma para tapar buracos no radiador qualquer coisa para evitar a manutenção com peças de reposição cada vez mais caras e raras. Muitos carregam garrafas com água para esfriar os radiadores que superaquecem. Porém, a afeição que alguns motoristas têm parece superar qualquer inconveniência.
V. P. Verma, engenheiro aposentado, orgulhosamente estaciona o seu Ambassador verde-menta do lado de fora de sua casa no sul de Deli. Ele contou que a lista de espera era de cinco anos quando seu pai, funcionário administrativo do município de Bihar, o comprou em 1962.
"Possuir um Ambassador em 1962 era como possuir um Audi na Índia agora", declarou Verma. "Era status, prestígio".
Ele recordou como colocavam a família inteira 14 pessoas dentro do carro nas viagens entre Darbhanga, uma cidade ao norte de Bihar, para Patna, sua capital.
Há vinte anos, o carro levou a esposa e ele em uma viagem de 1.000 quilômetros de Ranchi para o atual Estado de Jharkhand, através de Uttar Pradesh, até as colinas de Almora nos pés das Himalaias, e não quebrou uma só vez. Ele permanece sendo o seu único carro.
"De vez em quando, precisa de uma plástica", declarou a esposa, Sabine Verma. "Mas o coração ainda está forte".



