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Tendências fascistas de Le Corbusier, acima em 1935, preocupam estudiosos | Agnes Dherbeys /The New York Times
Tendências fascistas de Le Corbusier, acima em 1935, preocupam estudiosos| Foto: Agnes Dherbeys /The New York Times

Três livros recém-lançados sobre o famoso arquiteto conhecido como Le Corbusier desencadearam nova polêmica em torno das posições políticas do mestre modernista.

À luz dos livros, uma exposição do Centro Pompidou (Paris) sobre o cinquentenário da morte do arquiteto está sendo criticada por passar por cima do bem documentado envolvimento de Le Corbusier com elementos da extrema-direita francesa dos anos 1920 aos 1940. A polêmica na França acirrou-se tanto desde a inauguração da mostra, que o Pompidou anunciou um simpósio em 2016 sobre as posições políticas de Le Corbusier.

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Antoine Picon é presidente da Fundação Le Corbusier, que administra o arquivo do arquiteto e ajuda a preservar suas obras. Ele teme que o debate possa afetar o pedido encaminhado neste ano à Unesco para que trabalhos de Le Corbusier em sete países sejam classificados como Patrimônio Mundial.

As críticas também chegam em um momento de ascensão da Frente Nacional, partido de extrema direita, e de uma discussão mais ampla sobre o passado da França no pós-Segunda Guerra e sobre o legado do modernismo.

“Ficamos muito surpresos com a violência das críticas”, disse Frédéric Migayrou, um dos curadores da exposição “Le Corbusier, a Medida do Homem”. Migayrou disse que a mostra lança mão das esculturas e pinturas pós-cubistas de Le Corbusier para mostrar como ele usava a forma humana como princípio organizador em vários aspectos de seu trabalho —sendo a forma humana um elemento que não é comumente associado às linhas puras da arquitetura racionalista.

Porém, a partir de que ângulo Le Corbusier abordava o indivíduo?

Os autores de“Le Corbusier, un fascisme français” , do jornalista Xavier de Jarcy, “Le Corbusier, Une Froide Vision du Monde”, do jornalista Marc Perelman, e “Un Corbusier”, do arquiteto e crítico François Chaslin, argumentam essencialmente que a estética de Le Corbusier não pode ser distanciada de sua postura política, que pendia mais para a direita do que para a esquerda.

Cidade Radiante em MarselhaAgnes Dherbeys/The New York Times

“Ainda há um mito que cerca Le Corbusier —o mito de que ele foi o maior arquiteto do século 20, um homem generoso, um poeta”, disse Jarcy. Essa visão, argumenta, é “uma grande mentira coletiva”.

Algumas das críticas se voltam contra uma parte da exposição que enfoca o Modulor, uma silhueta humana desenvolvida por Le Corbusier em 1943, no auge da guerra, como base do sistema de proporções que ele utilizou em seu trabalho posterior. Os organizadores da mostra e muitos acadêmicos enxergam o Modulor como expressão humanista que ajudou a lançar as bases da arquitetura em escala humana.

“Para mim, é exatamente o oposto”, disse Perelman. “É a matematização, a padronização e a racionalização do corpo.”

Nascido na Suíça em 1887 com o nome de Charles-Edouard Jeanneret, filho de família protestante pequeno-burguesa, Le Corbusier ergueu algumas de suas maiores obras na Rússia soviética na década de 1930. Ele admirava Mussolini e, em 1940 e 1941, passou 18 meses em Vichy, na França, tentando (e não conseguindo) conquistar a aceitação do regime fascista do marechal Pétain, que acabou por achar suas ideias vanguardistas demais.

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Em 1940, dias antes de um decreto do governo de Vichy proibir os judeus de ocupar cargos eleitos e de exercer outras profissões, Le Corbusier escreveu à sua mãe dizendo: “Os judeus estão passando por tempos muito difíceis. Às vezes me sinto contrito por isso. Mas parece realmente que sua sede ardente por dinheiro corrompeu o país.”

Estudiosos observam, porém, que ele também construiu projetos para famílias judaicas na Suíça, nunca denunciou judeus publicamente e nunca se filiou a uma organização fascista. “A meu ver, insistir sobre o antissemitismo dele é equivocado”, disse Chaslin.

O que muitos consideram mais preocupante é o envolvimento de Le Corbusier com elementos da direita na década de 1920. Alguns partidários do regime de Vichy enxergaram o plano Cidade Radiante para Marselha, na França —baseado na forma do corpo humano— como expressão rematada do programa fascista.

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Durante a Segunda Guerra, Le Corbusier ficou amigo do cirurgião laureado com o Nobel Alexis Carrel, encarregado pelo governo de Vichy de estudar meios para promover a “renovação nacional”. Le Corbusier tinha lido e se entusiasmado com “L’Homme, cet Inconnu” [O homem, esse desconhecido], livro de 1935 de Carrel que foi sucesso de vendas e que defendia que partes da população francesa deveriam ser eliminadas com gás para preservar os elementos mais “viris”.

Jarcy e Perelman argumentam que a arquitetura de Le Corbusier foi inspirada nas ideias repugnantes de Carrel sobre como arrancar o velho para dar espaço para o novo. Outros estudiosos, porém, consideram que os novos livros tiraram de contexto elementos negativos de uma vida complexa.

Picon, presidente da Fundação Le Corbusier, considera que a polêmica revela mais sobre a própria França, onde a esquerda perdeu o rumo e está dividida em relação a tudo menos o antifascismo e onde existe a tendência a reduzir tons de cinza a preto e branco. “Os franceses precisam compreender e aceitar as ambiguidades de sua história.”

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