O grande interesse de investidores importantes está ajudando a gerar avaliações espantosas das novas empresas indianas de tecnologia.
Empresas de capital de risco, fundos hedge e gente do calibre de Rupert Murdoch estão disputando um pedaço do mercado de comércio eletrônico da Índia. É um cenário bem diferente do de alguns anos atrás, quando menos smartphones, um número menor de usuários de internet e a falta de financiamento dificultavam a vida das startups.
Um exemplo dessa mudança é o dinheiro que rapidamente apareceu para Pranay Chulet. Quando montou seu portal de classificados on-line chamado Quikr, todo investidor que procurava mostrava-se um tanto cético com a ideia de vender artigos usados, um tabu social na Índia.
Chulet levou três anos para conseguir o primeiro apoio financeiro para o Quikr. Mas agora a Tiger Global Management, a Warburg Pincus e o eBay estão entre seus investidores. O Quikr hoje é avaliado em US$1 bilhão após a rodada de financiamento de abril.
Conhecidos investidores como Masayoshi Son, presidente-executivo do SoftBank; Jack Ma, presidente executivo do Alibaba; e Murdoch, o magnata da mídia, puseram dinheiro em empresas de comércio eletrônico da Índia.
Son disse que poria US$10 bilhões na Índia, e conta que já fez contato com diversos empresários. O executivo-chefe da Amazon, Jeff Bezos, aparece em uma foto em um caminhão todo enfeitado segurando um cheque de US$2 bilhões que serão investidos na unidade indiana da empresa.
O potencial de mercado da Índia é sedutor. Apenas 300 milhões de indianos, ou menos de 25 por cento do país, são usuários da internet, o que faz dele o segundo maior mercado da internet no mundo, depois da China. E 5 milhões de usuários chegam a cada mês, de acordo com Rajan Anandan do Google Índia. Esse número deve chegar a 500 milhões em três anos, ele disse.
“Meio bilhão é uma enormidade”, disse Ravi Gururaj da organização de comércio da indústria da tecnologia da Índia, a Nasscom.
Foi esse interesse que criou vários “unicórnios” de tecnologia na Índia — ou startups privadas que valem US$1 bilhão ou mais. O valor da loja on-line Flipkart subiu de US$3 bilhões para US$11 bilhões em um ano. A avaliação do Snapdeal, site líder de e-commerce bancado pelo SoftBank, subiu para US$2 bilhões, vindo de US$350 milhões em 2014.
“Nenhum grande mercado se multiplicou desse modo na história dessa mídia”, disse Kunal Bahl, cofundador da Snapdeal.
Esse crescimento trouxe seu próprio conjunto de desafios. Nenhum integrante do comércio eletrônico da Índia é rentável ainda. Por enquanto, o que existe é uma corrida por parcelas desse mercado.
Há a questão das avaliações agressivas exigidas pelos fundadores de startups. Relatos deste ano sugeriram que um acordo entre o Alibaba e a Snapdeal falhou porque os lados não concordaram com a avaliação. Com preços tão inflacionados, os investidores precisam ser cautelosos. Qualquer desaceleração pode fazer desaparecer centenas de milhões de dólares.
“As negociações pós-financiamento começam antes mesmo que os empresários fechem a rodada anterior. É meio caótico”, disse Shailendra Singh do Sequoia Capital na Índia.
Mesmo assim, o interesse e o dinheiro dos investidores estão sendo agressivamente colocados em uso por empresas como a Flipkart, que triplicou seu número de funcionários em um ano, com 33 mil desde março. E ela alugou 140 mil metros quadrados para seu novo campus em Bangalore.
Cada um dos dois ou três líderes em cada categoria conta com 10 investidores interessados. “Isso está aumentando as avaliações. Tudo está sendo amplificado”, disse Mukul Singhal da SAIF Partners.
Um recente relatório da Morgan Stanley disse que o comércio eletrônico indiano se expandiria para US$100 bilhões em receita até 2020, vindo de US$2,9 bilhões em 2013, tornando-o mercado com o mais rápido crescimento do mundo.
O jovem mercado da Índia é atraente para o e-commerce, disse Vijay Shekhar Sharma, fundador da maior plataforma de pagamentos móveis da Índia, o Paytm.
“Os jovens facilitam a adoção em massa da tecnologia. Esse tipo de revolução do e-commerce pode nunca acontecer na Europa com suas populações envelhecidas”, disse Sharma.
O Paytm tem 20 milhões de usuários e tenta quintuplicar esse número até 2016. Alguns especialistas preveem que os usuários desse tipo de meio de pagamento vão ultrapassar os usuários de cartão de crédito na Índia.
Para quem quer investir no e-commerce indiano, o crescimento da China fornece provas de que a escala é real e viável, disse Gururaj da Nasscom, o grupo da indústria indiana de tecnologia. Como na China, as pequenas cidades e vilas da Índia não possuem infraestrutura de comércio. Em cinco mil cidades e vilas, utilizar um aplicativo é o novo equivalente a ir ao shopping e poderia suprir a demanda reprimida por bens de consumo.
“Por isso, os investidores que ganharam dinheiro na China estão vindo para a Índia. Quem perdeu dinheiro na China, também veio para a Índia. Esta é a terra das oportunidades”, disse Gururaj.



