Problemas? Sim, admitiu Tommaso Sodano, vice-prefeito daqui. Nápoles tem problemas. As dívidas a saldar já chegam a dois bilhões de dólares. Há ruas repletas de buracos. Falta verba para a Polícia, o crime organizado funciona como um estado paralelo e aterros ilegais estão espalhados por toda a cidade portuária, que ainda é bela, mesmo não sendo das mais fáceis.
Eis algo que também não falta em Nápoles: aquilo que os cachorros deixam nas calçadas.
No entanto, para a surpresa de alguns, a Prefeitura está tentando deixar um marco cívico ao transformar Nápoles em uma cidade inovadora no que diz respeito à erradicação do cocô de cachorro, por meio da coleta de amostras de DNA dos animais.
"Eu sei que algumas pessoas vão achar engraçado que com todos os problemas que a cidade tem, estamos tratando do cocô de cachorro", disse Sodano, rindo. "Eu sei disso".
Porém, para muitos napolitanos que caminham pelas calçadas da cidade, a iniciativa está longe de ser desagradável. No elegante bairro de Vomero, muitos moradores estão bastante satisfeitos além de surpresos com o que está acontecendo em Nápoles.
"Essa iniciativa parece mais ser alemã ou finlandesa do que italiana", disse Virpi Sihvonen, finlandesa que se mudou para Nápoles no final de 1980. Quando é de manhã, contou Sihvonen, muitas vezes ela vê um homem soltar três cachorros nas ruas para defecar. Ele assobia, os cães voltam, e as fezes são deixadas para trás.
Ter um cachorro em uma grande cidade exige equilibrar o amor e as obrigações, e nem todo mundo respeita o dever de limpar a calçada após as caminhadas matinais. As Prefeituras já tentaram de tudo, desde usar o serviço postal (a prefeito espanhol enviou o cocô por correspondência para os donos de cães), envergonhar os donos de animais (algumas cidades têm divulgado os nomes dos proprietários que não limpam os resíduos dos animais) e suborná-los (alguns parques da Cidade do México oferecem Wi-Fi gratuito em troca de sacos de lixo).
Nápoles optou pela ciência e pela tecnologia. A ideia é que cada cachorro da cidade receba um exame de sangue para que seu DNA integre um banco de dados de cachorros e proprietários. Se as fezes do animal forem encontradas na rua, serão removidas e submetidas a testes de DNA. Se for encontrada uma correspondência na base de dados, o proprietário terá de pagar uma multa de até 500 euros cerca de 685 dólares.
Estimando ter de mais de 80 mil cachorros na cidade, Nápoles enviou patrulhas de equipes de policiais e profissionais de saúde para disseminar informações sobre o programa e distribuir multas. No hospital veterinário da cidade, os técnicos coletaram amostras de sangue de cerca de 200 cães. A campanha, até agora, custou mais de 27 mil dólares.
Daniele Minichini, membro do Sindicato Independente de Polícia, argumenta que o dinheiro deveria ser gasto com equipamentos melhores ou até mesmo com uniformes. Para ele, Nápoles tem que enfrentar a máfia Camorra e melhorar o sistema de esgotos, estradas e outros aspectos de infraestrutura e não se concentrar no que os cachorros deixam para trás.
Já para Sodano, "o objetivo principal é o respeito pelas regras", afirmou, acrescentando que os problemas da cidade não devem impedi-la de investir em iniciativas que a mantém bonita.
"Administrar Nápoles", disse ele, "certamente requer um pouco de loucura".
Gaia Pianigiani contribuiu



