Johannes e Melissa. David e Michaela. Ben e Justin. Esses são alguns dos nomes escritos em milhares de cadeados de metal presos à balaustrada da Pont des Arts, uma das pontes mais belas sobre o Sena na cidade de Paris. As chaves há muito foram jogadas na água por aqueles que colocaram os apetrechos ali, casais que desejam estar, como uma das fechaduras descreve, "unidos pelo amor para sempre". Na melhor das hipóteses, a cena lembra uma escultura moderna; na pior, um tipo de tumor metálico que tomou conta da passagem.
De uma forma ou de outra, ela destoa completamente da arquitetura local. E a ponte, projetada e construída no início do século XIX e reconstruída nos anos 80, não é a única a sofrer com o excesso de amor: a Pont de lArchevêché e a Passarela Simone de Beauvoir também são populares entre aqueles que gostam de professar seus sentimentos através de ferragens.
Agora ela se tornou palco de uma disputa entre a estética clássica e a compulsão contemporânea de se expor publicamente, em um contraste interessante com o clima de romance que sempre definiu a capital, tanto para turistas como para o pessoal local. Para quem valoriza a história arquitetônica da cidade, os cadeados não passam de "poluição visual", como explica Lisa Taylor Huff, a escritora norte-americana que vive em Paris e criou uma campanha para convencer a Prefeitura a retirá-los. "Por que a cidade tem que se sacrificar em nome do turismo?", ela questiona, referindo-se às pontes.
Verdade seja dita, há franceses que também prendem os cadeados, mas a reação mais comum é a do casal que vi recentemente por ali ao cruzá-la, com o homem sacudindo a cabeça, desgostoso. "Isso aí está arruinando uma das pontes mais bonitas de Paris", lamentou.
Há quem seja mais condescendente. "Não melhora em nada o visual da ponte, é verdade", comenta a artista belga Marianne Truffine, em visita à cidade. "Por outro lado, é uma prova de amor e todas as provas de amor são belas". Embora eles tenham começado a surgir na cidade em 2008, a tradição remonta há pelo menos cem anos.
Para Francesco e Caroline Castillo, admirando o Sena e o vaivém dos barcos turísticos enquanto instalam na ponte o seu cadeado, o gesto simples é uma prova sincera do amor de um pelo outro. Os dois médicos da Clínia Mayo, de Rochester, em Minnesota, adiaram a lua-de-mel um ano para, finalmente poderem jogar a chave no rio. "O que vale é o momento. Nossa intenção é voltar daqui a alguns anos e encontrá-lo aqui ainda." O que é pouco provável, já que o peso dos milhares de cadeados acaba fazendo os painéis de metal afundarem, forçando a substituição. A Prefeitura guarda os antigos, com as fechaduras, em um galpão bem longe da vista do Sena.
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