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Onda de menores corre para o norte

Imigrantes tentam o embarque no trem em Tenosique, México. À esquerda, meninas esperam encontrar refúgio nos Estados Unidos | fotografias de MERIDITH KOHUT para THE NEW YORK TIMES
Imigrantes tentam o embarque no trem em Tenosique, México. À esquerda, meninas esperam encontrar refúgio nos Estados Unidos (Foto: fotografias de MERIDITH KOHUT para THE NEW YORK TIMES)
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Após uma década de separação, Robin Tulio, de 13 anos, finalmente estava se dirigindo para a fronteira a fim de estar com a mãe. Empregada doméstica, vivendo ilegalmente em Maryland, ela decidiu que estava na hora de contrabandear seu filho para os Estados Unidos.

Robin disse que a mãe acreditava que a administração Obama havia silenciosamente alterado a política em relação a menores desacompanhados e que se ele tentasse, teria uma melhor chance de permanecer.

Ela contratou um coiote, mas Robin não conseguiu.

"É muito difícil", ele disse após ser pego no México recentemente e deportado para Honduras. Contudo, sua viagem interrompida ajuda a explicar por que houve um avanço tão severo na imigração de menores não acompanhados, tanto que a ONU classificou a situação como uma crise humanitária.

Desde primeiro de outubro, um recorde de 47.017 crianças não acompanhadas foram detidas no sudoeste da fronteira dos Estados Unidos, a maioria viajando da América Central, parte de uma onda maior que inclui jovens com os seus pais.

Muitos afirmam que vão porque acreditam que os Estados Unidos tratam as crianças imigrantes viajando sozinhas e as mulheres com crianças mais brandamente do que imigrantes ilegais adultos.

A administração de Obama afirma que a causa do fluxo de crianças é o aumento da criminalidade e as economias enfraquecidas da América Central.

A percepção de uma alteração na política inspirou os pais que não veem seus filhos há anos a contratarem os denominados coiotes, guias quase sempre envolvidos com o crime organizado, para trazerem seus filhos para os EUA. Isso fez com que outros pais tentassem a viagem com seus bebês a tiracolo, algo raramente visto antes na região.

Em San Pedro Sula, no nordeste de Honduras, mulheres com seus filhos estavam amontoadas em um terminal de ônibus, prontas para começar uma viagem de várias semanas para o México e além.

"A travessia é mais fácil com as crianças, e dessa forma não estamos deixando eles com parentes", declarou Arelys Sánchez, que estava viajando com duas filhas. "Acho que com elas é mais fácil receber permissão para ficar".

Embora a administração Obama tenha agido agressivamente para deportar adultos, ela de fato tem expulsado bem menos crianças do que no passado. Em grande parte por causa de uma lei de 2008 visando a proteção contra o tráfico de crianças, a administração em 2013 deportou um quinto das crianças da América Central em comparação com os números de 2008.

Muitos perceberam o aumento na liberação de crianças. Devido às oportunidades que elas estavam recebendo, os pais foram encorajados a defender processos nas cortes – mesmo que no final não tivessem chance de ganhar.

"É um dilema enorme", disse Wendy Young, presidente da organização Kids in Need of Defense, que põe os menores desacompanhados em contato com os advogados voluntários. "O problema aqui é que o sistema está quebrado. Ele vai implodir".

A administração divulgou nesse mês que liberaria dois milhões de dólares em doações para cadastrar cerca de 100 advogados e assistentes legais para representar crianças imigrantes no sistema judicial.

Os especialistas afirmam que a combinação dinâmica entre o crime doméstico e a aparente indulgência do outro lado da fronteira inspirou muitos na América Central a arriscarem a viagem.

A ONU tem consistentemente listado Honduras como o país com o maior índice de homicídios do mundo. O seu relatório mais recente divulgou que o país tinha 90,4 assassinatos por cada 100.000 moradores, quase três vezes o valor de uma década atrás. Em El Salvador, esse número é 41.

Elizabeth Kennedy, pesquisadora da Fulbright que estuda a migração dos jovens salvadorenhos, declarou que 60 por cento dos 326 entrevistados citaram gangues e o crime como razão para deixar o país.

Maynor Dubón, de 17 anos, tentou atravessar a fronteira no ano passado. Mas também foi pego e enviado para a Casa Alianza, abrigo infantil em Tegucigalpa, a capital hondurenha, durante um ano.

"Você não sabe exatamente quando vai morrer", ele disse sobre a vida em Honduras. "As gangues dizem coisas como, ‘Você trabalha para mim agora’. Eles tentaram me recrutar, e eu disse, ‘Deixe-me pensar no assunto por alguns dias’, e então fugi. É como estar no inferno".

Um membro de sua família imediata foi assassinado na frente da casa da família esse ano, então, ele está usando a habilidade como barbeiro que aprendeu na Casa Alianza para economizar e tentar novamente. "Preciso sair antes de completar 18 anos em setembro", disse.

Os funcionários do governo afirmam que não sabem o que fazer, porque não podem proibir as crianças de partir, mas se preocupam com o que tal êxodo significará para a nação.

"As autoridades precisam tomar uma atitude; não podemos continuar assim. Essas crianças são o nosso futuro", declarou Felipe Morales, diretor executivo da Agência Federal de Serviços da Infância de Honduras. "Isso é uma tragédia".

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