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Música

Pharrell Williams transforma o velho em novo

 | Dan Anderson/European Pressphoto Agency
(Foto: Dan Anderson/European Pressphoto Agency)

O chapéu de Pharrell Williams pode servir de explicação para todo o seu sucesso – um chapéu assinado por Vivienne Westwood que o artista usou na entrega dos Grammys em janeiro.

Parte caubói, parte guarda-florestal, o chapéu acrescentou vários centímetros a sua altura e vários meses a sua relevância cultural. Com uma pequena pincelada, Williams foi capaz de se redesenhar completamente. Naquela noite ele se apresentou, ganhou diversos prêmios, inclusive o de produtor do ano, e ainda foi protagonista de uma aparição muito suave.

Contudo, essa é a essência de Pharrell Williams: pegar uma velha ideia e, com um toque de exagero e a coragem de ficar levemente deslocado, fazer ela parecer completamente atual. Ele faz o comum se tornar extraordinário.

Aos 40 anos, Williams tem produzido e escrito canções há duas décadas: primeiro no hip-hop e R&B, e depois no pop. No último ano, ele participou dos dois maiores hits de 2013, "Blurred Lines", de Robin Thicke e "Get Lucky", do Daft Punk.

E agora é a vez de "G I R L", seu segundo disco solo. As músicas são verdadeiros chicletes com letras inofensivamente vazias que são bem sucedidas justamente pela capacidade que Pharrell Williams tem de se manter bravamente em um território que ninguém mais tenta roubar.

O ensolarado "G I R L" – composto, produzido e cantado quase exclusivamente por Williams – é um retorno ao black pop utópico dos anos 70 e do início dos anos 80, cheio de funk suave e soul amigável.

"Happy", lançada pela primeira vez na trilha sonora de "Meu Malvado Favorito 2", que concorreu ao prêmio de melhor música no Oscar, onde Williams também se apresentou, é incansavelmente brilhante. "Bata palmas se você se sente em uma sala sem telhado", canta Williams. "Bata palmas se você acredita que a felicidade é a verdade".

Você fica tão contente que é capaz de assistir a versão do clipe que dura 24 horas, com participações especiais de Jamie Foxx, Jimmy Kimmel e do grupo de rap Odd Future, entre outros. São literalmente 24 horas de alegria; uma felicidade tão grande que chega a doer. E ainda assim, "Happy", que praticamente não combina com o restante da música pop atual, chegou ao número dois do Billboard Hot 100.

Williams pode ter encontrado uma saída para o cinismo da cultura jovem, ou pode ser a primeira pessoa do pop adulto contemporâneo a fazer um som que realmente seja contemporâneo.

Seja como for, ele consegue falar de prazeres comuns e ainda ser considerado um minimalista, ou um esteta. Há momentos de ostentação musical em "G I R L", mas eles são raros. Ao invés disso, o artista apresenta um R&B sem excessos e uma disco music com rigor quase militar. "Lost Queen" é um dos destaques – uma canção de ninar virtual, com citações de "The Lion Sleeps Tonight", além de "Brand New", com homenagens à linha de metais do Jackson 5, mostrando que Williams nem deu bola para o processo que dizia que "Blurred Lines" lembrava demais o trabalho de Marvin Gaye, sem dar o pagamento necessário. Justin Timberlake empresta os vocais para a música e Williams consegue que o destaque não seja o cantor.

Nenhuma das ideias por trás dessas canções pode ser considera original, mas em sua maior parte elas estão fora de moda, de forma que a audácia e a facilidade com que Williams as apresenta parece refrescante.

O ponto de comparação mais vital para "G I R L" pode ser justamente o contrário: o outro lançamento do black pop do ano passado, "Yeezus", de Kanye West, um álbum severo do começo ao fim. "G I R L" é, sob muitos aspectos, um antiYeezus.

Embora Williams tenha ajudado a abrir o caminho para a postura vanguardista de West, ele nunca quis isso para si. Pelo contrário, ele está bastante satisfeito como grande reconciliador do pop contemporâneo. Ele trabalhou com Britney Spears, Mystikal e Hans Zimmer. Ele foi o guia espiritual de Miley Cyrus durante sua recente transição do início levemente country do período pós-Disney, ao fenômeno pop sensual. Williams produziu algumas músicas do disco "Bangerz" (RCA), e Cyrus retribuiu o favor fazendo os vocais de "Come Get It Bae".

Enquanto artista, Williams é um verdadeiro camaleão, mas ele não tem um habitat natural. Sua voz é neutra e quase atemporal. Ele não é um grande cantor. Embora seu tom seja inconfundível, sua força não é genuína. Além disso, vindas de qualquer outro cantor, suas letras seriam atacadas pelo excesso de simplicidade.

Ao invés disso, o que Williams faz de melhor está no andamento, no ritmo e na capacidade de encontrar saídas que pareçam intuitivas. Ele canta de forma percussiva, cheia de pontadas vocais, e sua voz passa facilmente por um arrulho suave.

"G I R L", assim como aquele chapéu, foi tirado do fundo do baú. É um olhar para o passado que talvez se revele completamente voltado para o futuro.

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