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Portugueses rejeitam o trabalho na agricultura

Poucos portugueses querem trabalhar na lavoura: trabalhadores recrutados na Tailândia e em outros países | Patricia de Melo Moreira
Poucos portugueses querem trabalhar na lavoura: trabalhadores recrutados na Tailândia e em outros países (Foto: Patricia de Melo Moreira)

Portugal pode ter 15 por cento de desemprego, mas isso não significa que a Reiter Affiliated Companies (RAC), produtora de frutas dos EUA, consiga encontrar trabalhadores locais para sua plantação de 76 hectares. No ano passado, a empresa iniciou uma campanha de recrutamento e contratou 40 portugueses. Metade pediu demissão após o primeiro dia. No fim da semana, não havia sobrado nenhum trabalhador local.

"Eles queriam um emprego, mas isso não era o que eles estavam procurando, pois o trabalho é duro demais e a remuneração, pequena", afirmou Arnulfo Murillo, gerente de produção da propriedade. Em vez disso, a fazenda importou um terço de sua mão de obra da Tailândia – 160, de um total de 450 funcionários –, alternativa mais cara.

Os motivos para o trabalho agrícola não atrair os portugueses são complexos, mas o principal é que ele faz pouco sentido econômico. Para seu setor agrícola, cerca de 2,4 por cento da produção econômica do país, o problema de encontrar mão de obra vem sendo ampliado pelo baixo salário mínimo de Portugal, benefícios de desemprego ainda grandes e, não menos importante, um problema de imagem.

Trabalhar numa plantação "é muito mal visto em Portugal, é um emprego do passado, e não do futuro", explicou José Alberto Guerreiro, prefeito da municipalidade de Odemira. Laura Miquelino, 32, está desempregada há um ano. Mesmo assim, disse que só trabalharia numa fazenda por um salário maior. "O governo português definiu um valor mínimo para fazer esse tipo de trabalho, pois você estaria recebendo pouco por um emprego muito duro".

Como parte dos termos de seu resgate de 78 bilhões de euros, o governo praticamente reduziu pela metade o período em que o seguro-desemprego pode ser reivindicado, para 18 meses. Hoje eles estão oferecendo isenção dos pagamentos de segurança social para as empresas que contratarem novos funcionários. Mas essas medidas não criaram incentivos suficientes para muitos jovens portugueses. Os subsídios da União Europeia contribuíram para o problema, ao reduzir a pressão para reestruturar o setor agrícola e reforçar sua rentabilidade, segundo Catarina Santos Ferreira, advogada trabalhista.

Na profundezas da crise econômica de Portugal, há três anos, a RAC passou a importar mão de obra da Ásia.

Trazer trabalhadores tailandeses exigiu vistos e provas de que a RAC não conseguiu encontrar trabalhadores locais, além de custar quase 2 mil euros a mais por ano do que contratar um português. A empresa paga por uma passagem aérea de volta e oferece moradia. Mesmo assim, o retorno é alto porque os tailandeses trabalham de forma rápida e cuidadosa, de acordo com Eduardo Lopez, californiano que comanda as operações da RAC em Portugal.

A RAC paga o salário mínimo português aos colhedores de frutas, ou US$770 por mês. Ela também oferece um sistema de bônus por produção adicional. No ano passado, trabalhadores tailandeses ganharam cerca de US$1.440 por mês – cerca de US$135 a mais do que a média geral. Hoje, pouco menos de 100 funcionários são portugueses, 50 dos quais colhem frutas. Os outros são técnicos ou administradores de escritório. Além dos trabalhadores tailandeses, outros vêm da Europa Oriental, ou de países como Brasil, Marrocos e Nepal.

Segundo Sunil Pun, apanhador de frutas nepalês, muitos nepaleses também se mudaram para Portugal porque era fácil de se obter residência de trabalho. Antes, Pun trabalhava numa fazenda de frangos na Polônia."O dinheiro é melhor no norte da Europa, mas aqui o tratamento é mais igualitário e existe menos racismo", garantiu ele.

Carlos Bernardino, engenheiro químico, disse: "Todos querem trabalhar na administração, mas não conheço ninguém que trabalha na agricultura".

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