
David Vaughan mergulha o braço em um dos nove tanques onde milhares de diminutas colônias de corais crescem a uma velocidade impressionante, perto do Laboratório Mote de Pesquisa Tropical. Ele, que é diretor-executivo do laboratório, retira uma pedra do fundo. Uma colônia de corais-cérebro, com cerca de 20 centímetros de largura, havia crescido na superfície, praticamente encobrindo a pedra.
Um ano atrás, a colônia começou como fragmentos com largura inferior a 4 centímetros, extraídos da mesma colônia-mãe. Essas "sementes" de coral começaram a crescer 25 vezes mais rápido do que ocorreria na natureza. Quando dispostas separadamente sobre a pedra, as minicolônias avançavam na superfície até se tornarem um único organismo.
Outras espécies que cresceram a partir de minúsculas sementes de coral no Laboratório Mote se desenvolveram ainda mais rapidamente até 50 vezes a velocidade normal. Vaughan e um biólogo da equipe, Christopher Page, dizem que a técnica, chamada microfragmentação, pode possibilitar a produção em massa de corais, que seriam então transplantados para recifes que hoje estão agonizando.
"Este é o projeto mais promissor de restauração do qual eu já tive notícia", disse o especialista em corais Billy Causey, funcionário da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional encarregado de supervisionar todos os santuários marinhos federais no sudeste dos Estados Unidos .
Um quarto dos corais da Terra desapareceu nas últimas décadas, e os cientistas do Mote afirmam que ninguém pode prever o que acontecerá se os oceanos continuarem a se aquecer, a poluição a aumentar e o excesso de pesca a dizimar espécies benéficas para os corais. "Na pior das hipóteses, estamos ganhando um pouco de tempo", disse Page. "Na melhor, poderíamos restaurar o ecossistema."
Vaughan, 61, passou os últimos três anos estudando os corais "maciços" que compõem a maior parte da estrutura em um recife vivo. Esses corais se mostraram menos suscetíveis do que outros à elevação das temperaturas marítimas e às alterações químicas da água. Mas na natureza eles crescem menos de cinco centímetros por ano. Até agora, isso atrapalhou os esforços para o cultivo de corais com o objetivo de restaurar os recifes. Vaughan se deparou com a ideia da microfragmentação oito anos atrás, quando estava transferindo colônias entre aquários. Ele retirou uma colônia que crescia em um disco de concreto.
"Parte do coral grudou no fundo do aquário", disse. Ele o quebrou e deixou dois ou três pólipos para trás. "Achei que esses eu tinha matado." Uma semana depois, ele notou que "aqueles pólipos, de um a três, eram agora cinco a sete pólipos", disse. "Eles não apenas haviam sobrevivido como cresceram e dobraram de tamanho."
Mas somente quando Page foi contratado, em 2011, Vaughan aplicou pela primeira vez essa descoberta à produção de corais maciços em grande escala. Page, 29, sabia que negociantes de corais vivos dividiam colônias em fase de crescimento. "Eu já havia feito isso como hobby", afirmou.
Ele disse que, três anos depois, consegue produzir em quatro dias mil microfragmentos de apenas um centímetro quadrado. Com mais espaço e financiamento, acrescentou, "o céu é o limite".
No ano passado, ele implantou oito fragmentos de corais-cérebro em 18 colônias mortas, compostas por pólipos geneticamente idênticos, cada uma das quais com mais de meio metro de largura. "Eles estão cobrindo muito bem a estrutura inteira", disse. "Talvez dentro de um ou dois anos você veja uma colônia contínua que teria levado de 15 a 30 anos para crescer em condições naturais".
Em junho, cientistas do Mote obtiveram autorização para criar uma cobertura de corais vivos sobre a estrutura de um recife morto na costa da ilha Big Pine Key.
Eles começaram implantando 4.000 corais de quatro espécies na área do teste, com um hectare. Estes se somarão a mais de mil corais da espécie chifre-de-veado criados por outra equipe. A meta, segundo Vaughan, é criar "em curtíssimo prazo um recife como os recifes dos quais nos lembramos".
O projeto é, segundo Vaughan, o primeiro esforço em grande escala nas ilhas Keys (Flórida) e um dos poucos no mundo voltados para a restauração de grandes áreas de corais na natureza.
A implantação continuará indefinidamente. Se for bem-sucedida, os pesquisadores planejam restaurar outras áreas de recifes degradadas ao longo das Keys e treinar outras pessoas para estabelecerem uma produção própria de corais. Mas, como observou Page, o tempo está se esgotando. "Esta poderá ser nossa última e melhor oportunidade", disse ele.



