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Royal Ballet reinventa homenagem com flores

Apresentação do New York City Ballet; no passado, as bailarinas ganhavam casacos de pele e diamantes de seus admiradores | Andrea Mohin/The New York Times
Apresentação do New York City Ballet; no passado, as bailarinas ganhavam casacos de pele e diamantes de seus admiradores (Foto: Andrea Mohin/The New York Times)

Após a estreia da nova coreografia de David Daw, os dançarinos ofegantes do Royal Ballet voltaram ao palco para se curvar diante da plateia que aplaudia. Então surgiram os funcionários do teatro carregando flores. E, para desgosto dos tradicionalistas, os buquês foram entregues tanto aos homens quanto às mulheres. Os amantes de balé ficaram entre resignados e chocados. O caso teve ampla repercussão no Twitter.

No Royal Ballet, a meca da tradição floral na dança, os homens não recebem flores, a menos que estejam representando papéis femininos, o que ocorre com certa frequência. Esse é um dos diversos costumes e regras que regem a arte do buquê em Londres. As flores são muito importantes: quantas, de que tipo, quem as dá e quem as recebe.

Em apresentações no City Ballet e no American Ballet Theater, em Nova York, geralmente as flores são dadas pela companhia em noites de abertura e estreias em determinados papéis. Na Royal Opera House, porém, flores são entregues no palco em quase todas as apresentações de balé, principalmente por fãs.

Lee McLernon, advogado em Londres que envia "cerca de dez a doze" buquês por temporada, disse que esse pequeno gesto demonstra seu apreço.

A arte do buquê foi aperfeiçoada em Londres, afirmou Mark Welford, que atua como florista perto da Royal Opera House. Welford disse acreditar que a tradição remonta ao início do balé britânico nos anos 1930. "Os dançarinos eram muito mal pagos naquela época, e as pessoas lhes enviavam flores, alimentos finos e presentes", esclareceu Welford. Posteriormente, bailarinas "passaram a ganhar casacos de pele e diamantes", acrescentou.

"Havia uma aura e uma fascinação envolvidas na preparação de um buquê de flores."

Na grande tradição de atirar flores avulsas aos dançarinos da parte mais elevada do teatro, havia também outros tipos de projéteis. Em 1734, a bailarina Marie Sallé causou tamanha sensação em Londres que os fãs atiraram moedas de ouro. Colum McCann observa no romance "Dancer" [Dançarino], baseado na vida de Rudolf Nureyev, que, na primeira temporada do artista em Paris, um casaco de mink, fotos eróticas com os nomes e números de telefone das mulheres retratadas e 18 peças de lingerie feminina foram atirados ao palco.

Pode parecer fácil telefonar para um florista ou fazer seu próprio buquê e treinar a pontaria, mas o protocolo de dar flores não é tão simples. Até 1997, quando a Royal Opera House fechou para reformas, os buquês eram levados ao palco por dois homens usando perucas brancas, calções presos à altura dos joelhos e muitos atavios dourados.

A Royal Opera House ainda emprega pessoas para levar as flores, sobretudo homens, no caso de buquês, mas hoje eles se vestem de forma discreta e não usam peruca. Embora a política da companhia seja ofertar flores às principais dançarinas na noite de abertura, buquês chegam em quase todas as apresentações, disse Johanna Adams Farley, diretora de palco do Royal Ballet.

"Às vezes isso pode se transformar em uma situação delicada", salientou Farley.

"Quando chegam flores para um dançarino ou solista do corpo de balé, mas a primeira bailarina não recebe nenhuma, não as mostramos no palco."

Os buquês devem ser feitos de tal modo que a bailarina consiga segurá-los enquanto faz mesuras durante os aplausos. "As flores devem ser dispostas e entrelaçadas firmemente em um formato alongado, para que a bailarina possa sustentá-las em um braço", esclareceu Deborah Koolish, assistente pessoal de Peter Martins, mestre de balé no City Ballet.

Na Metropolitan Opera House há uma equipe masculina que prepara as flores, segundo a gestora de palco Danielle Ventimiglia.

"É preciso tirar os espinhos das rosas e estames que poderiam estragar os figurinos. Nós cuidamos desses detalhes e asseguramos uma flor fácil de puxar para cada dama."

Ventimiglia referia-se a um momento quase padrão no ritual da chamada à ribalta, no qual, após receber seu buquê, a bailarina retira uma flor, a beija e a oferece a seu parceiro. "Não sei como isso começou, mas não era comum no início da minha carreira", comentou Julie Kent, dançarina do Ballet Theater. "Acho que se tornou um gesto automático. "

Obviamente, também há riscos em ser homenageada com buquês. Leanne Benjamin, ex-primeira bailarina do Royal Ballet, recorda-se de que quase cortou um dedo quando tentava ajeitar as flores que recebeu após sua última apresentação no papel de Julieta.

Alessandra Ferri mencionou que teve de se esquivar de montes de flores escorregadias no Met, após sua apresentação de despedida do Ballet Theater em 2007. "Ninguém quer encerrar a carreira levando um tombo", disse ela.

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