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Livros de colorir para adultos conquistam público; “Eles nos remetem ao que amávamos quando crianças”, diz editora | José Ja Ja Ja
Livros de colorir para adultos conquistam público; “Eles nos remetem ao que amávamos quando crianças”, diz editora| Foto: José Ja Ja Ja

O melhor de nós está a apenas alguns rabiscos de distância.

Enquanto no passado desenhar e outras atividades artísticas eram território reservado a poucos, agora soltar a criatividade se tornou o mais recente mantra do crescimento pessoal e sucesso profissional.

Nutrimos o Helmut Newton que trazemos dentro de nós usando o Instagram. Empregamos o iPhone como instrumento para contar histórias. Dizem-nos que basta comprar uma caixa de lápis de cera para que sejamos mais criativos no trabalho. A criatividade se tornou mercadoria.

Esse interesse favoreceu editoras e varejistas que buscam tirar vantagem dos atrativos do espírito artístico. O Zentangle, uma forma de desenho meditativo que usa uma caneta e pedaços quadrados de papel, voltou a se tornar popular. Mais de 60 livros sobre essa técnica serão publicados só em 2015, de acordo com a Amazon. Os livros de colorir para adultos também estão em ascensão. Em abril, a ilustradora Johanna Basford lançou dois best-sellers: “Jardim Secreto” e “Floresta Encantada”.

Diversos livros publicados recentemente sugerem que a criatividade tem os mesmos benefícios holísticos de um final de semana em um spa, reforçando a autoestima e aliviando o estresse. Até a respeitada Mayo Clinic, em Minnesota, recomenda os benefícios da pintura e da cerâmica. Segundo a instituição, as pessoas que realizam esse tipo de tarefa criativa têm menor probabilidade de sofrer perda de memória.

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É claro que algumas companhias abraçaram a criatividade apenas como truque de marketing. Visitei uma pop-up shop de uma nova marca de estilo de vida chamada “5 Points”, em Los Angeles, que oferece aos consumidores “maneiras de levar ao mundo os benefícios da criatividade”. Na prática, a loja estava lotada de pessoas comprando coisas feitas pelos outros.

Elizabeth Gilbert, escritora que se tornou guru de autoajuda com “Comer, Rezar, Amar”, de 2006, lançou um novo livro intitulado “Grande Magia: Vida Criativa Sem Medo”. Ela argumenta que criatividade não quer dizer largar tudo para buscar uma carreira como pintor ou cantor de ópera. Em vez disso, escreve, “estou falando de uma vida mais propelida pela curiosidade do que pelo medo”.

É claro que buscar uma vida mais criativa não é novidade. Robert Henri, professor da Art Students League of New York, aconselhava a pintores e escultores dos anos 1920 que uma vida artística tem tanto de atitude quanto de prática.

Julia Cameron, que aconselhou aspirantes à arte em “Guia Prático Para a Criatividade”, livro de 1992, argumenta que isso pode perturbar o delicado equilíbrio dos relacionamentos. “Muitos de nós descobrem ter desperdiçado suas energias criativas ao investir desproporcionalmente em vidas, esperanças, sonhos e planos dos outros.”

Outros percebem uma vida criativa como proposição do tipo “largar o emprego ou nada”. Mas muita gente não está interessada em mudar completamente de carreira. Quer apenas escapar momentaneamente a uma vida assoberbada. Esse é um dos motivos da popularidade dos livros de colorir para adultos.

A possibilidade de autoestudo criativo está em toda parte —especialmente em nossos celulares. Agora é fácil registrar e editar imagens, áudio e vídeo em um celular, o que torna ainda mais pronunciada a transformação da criatividade em mercadoria.

“Nós, como cultura, nos deixamos fascinar pela inovação”, disse Aaron Rasmussen, fundador da MasterClass, empresa de educação on-line. “As pessoas costumavam ver um filme e pensar que seriam capazes de fazer melhor, mas não tinham como”. Agora, todo mundo pode assistir a vídeos de instrução no YouTube.

O aspecto comunal também é atraente. Adultos se reúnem no Make Meaning Studio, em Manhattan, para pintar canecas de cerâmica e ouvir música. “As pessoas gostam de sair com algo, com a ideia de que ‘fui que fiz isso’”, diz Amy Kotulski, do Make Meaning.

O Make Meaning recentemente realizou um evento para um escritório de relações públicas encarregado de repaginar uma marca de comida congelada. Os participantes foram convidados a criar uma pintura colorida baseada em um símbolo de chakra. O objetivo, diz Kotulski, era motivar novas maneiras de pensar sobre a venda do produto. “É OK ser criativo mesmo que você já não seja criança”, disse.

Ela tem razão.

Nos anos 1950, um chimpanzé que espalhava tinta sobre uma tela com um pedaço de madeira era visto como sátira ao expressionismo abstrato. Hoje, macacos tiram ótimos selfies.

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