
Ao longe, os três jovens que vagam por meio de um campo de milho parecem fazendeiros verificando sua colheita. E a colheita parecia ser boa, com espigas gordas pendendo de hastes verdes vibrantes.
Mas conforme adentravam o campo, os homens na verdade jovens cientistas apontavam para as folhas amarelecidas de algumas plantas. "Definitivamente há algum dano," disse Tiago Tomaz, bioquímico da Austrália.
As folhas sinalizam problemas e não apenas em um único lote de milho. Os cientistas estavam estudando o tipo de dano que poderia ameaçar gravemente o fornecimento de alimentos em um planeta aquecido.
Uma rede de canos borrifa no ar uma quantidade extra de dióxido de carbono e de ozônio, um poluente corrosivo. Lâmpadas e outros equipamentos simulam futuras secas e ondas de calor. Muitos pesquisadores estão tentando simular as condições de crescimento que podem advir da atmosfera tomada por gases que retêm calor e outros poluentes resultantes da atividade humana.
O trabalho vem acontecendo há quase uma década, e as respostas até agora têm sido preocupantes. No início deste ano, pesquisadores da Universidade de Harvard uniram dados do projeto de Illinois com as conclusões de cientistas de três outros países. Eles relataram que as culturas de ambientes que imitam condições futuras têm graves deficiências de certos nutrientes.
Porém, os pesquisadores de Illinois não estão apenas tentando documentar os potenciais problemas. A grande questão é: o que pode ser feito para tornar as culturas mais resistentes?
Durante décadas, muitos especialistas climáticos estavam relativamente otimistas com relação à questão, acreditando que o aquecimento nos países frios do hemisfério norte beneficiaria culturas, compensando prováveis perdas de produção nos trópicos. Além disso, algumas pesquisas viram a possibilidade de safras potencialmente enormes graças a um fator contra intuitivo: o aumento de dióxido de carbono que está aquecendo o planeta.
Plantas capturam o dióxido de carbono do ar e utilizam a luz solar para transformá-lo em açúcares, e uma pesquisa feita nas décadas de 80 e 90 sugeriu que níveis mais elevados de dióxido de carbono no futuro poderiam impulsionar culturas. Mas esse trabalho foi realizado em condições artificiais, tais como estufas. Pesquisadores viram a necessidade de testes em condições mais reais.
Eles possuem apenas conjecturas sobre quais serão as condições climáticas e os níveis de poluição futuros. "Sabemos que não é uma simulação perfeita, mas acreditamos que possibilitará a criação de soluções", disse Andrew D.B. Leakey, cientista da Universidade de Illinois.
Ele disse que, até agora, os testes confirmaram o "efeito de fertilização de CO2". Mas nas condições reais, o benefício para as colheitas não foi tão grande quanto nas experiências anteriores em estufa, e provavelmente não o suficiente para compensar o calor e outras tensões de um planeta aquecido. "A questão é, o quanto isso será benéfico?" Leakey disse.
Outras pesquisas sugerem que o aumento da temperatura em algumas regiões de cultivo mais importantes do mundo já vem diminuindo a produção de grãos. Esse problema também pode ter contribuído para uma espiral ascendente dos preços de grãos há alguns anos, que acabou levando a motins contra a fome.
Em um relatório de abril, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática das Nações Unidas disse que os "impactos negativos das tendências climáticas foram mais comuns do que os positivos".
Mas o painel também apontou o enorme potencial de a agricultura se adaptar às mudanças climáticas, com mudanças nas práticas agrícolas e maior variedade de culturas melhoradas.
Os pesquisadores aqui de Illinois criaram uma inusitada mistura de ciência climática, agricultura e a genética moderna para estudar possíveis métodos de se chegar a um abastecimento alimentar mais resiliente.
Nos últimos anos, cientistas de renome vêm alertando sobre a necessidade da redução do ozônio. Embora o ozônio proteja o planeta de algumas das radiações prejudiciais do sol, no nível do solo ele é um poluente que se forma a partir de reações químicas envolvendo as emissões dos carros e das centrais de geração de energia. É uma forma corrosiva de oxigênio que ataca tanto as plantas quanto os pulmões das pessoas.
"Poderemos realmente aumentar a oferta de alimentos significativamente se prestarmos atenção a isso", disse Denise L. Mauzerall, pesquisadora da Universidade de Princeton.
Desenvolver plantas resistentes aos efeitos do ozônio seria outra abordagem. Os cientistas já descobriram que algumas variedades de milho resistem melhor do que outras ao ozônio. Da mesma forma, existem variedades de soja que crescem especialmente bem em níveis elevados de dióxido de carbono. E os cientistas estão começando testes com tomates, ervilhas e morangos.
Os pesquisadores querem descobrir as razões genéticas pelas quais algumas plantas se dão melhor do que outras em condições difíceis. A esperança é desenvolver culturas capazes de enfrentar a tensão causada pelo aquecimento global.
Tendo em conta os problemas já ocorridos no sistema alimentar global devido às perturbações climáticas, Elizabeth A. Ainsworth, cientista do o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, disse: "Alcançar a resiliência na agricultura é uma busca comum a todos".



