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A técnica chinesa Ni Meijuan (centro) num cotonifício do Grupo Keer na Carolina do Sul; produção têxtil na China está deixando de ser lucrativa | Travis Dove/The New York Times
A técnica chinesa Ni Meijuan (centro) num cotonifício do Grupo Keer na Carolina do Sul; produção têxtil na China está deixando de ser lucrativa| Foto: Travis Dove/The New York Times

Há 25 anos, Ni Meijuan ganhava US$ 19 por mês trabalhando nas máquinas de uma imensa fábrica de fios têxteis na cidade chinesa de Hangzhou.

Atualmente, Ni treina operários americanos para fazerem esse mesmo trabalho no cotonifício que o Grupo Keer inaugurou em março na Carolina do Sul.

“Eles aprendem rápido”, disse Ni após mostrar a duas novatas a forma correta de recolher mechas soltas de algodão que caem nas engrenagens. “Mas precisam aprender a ser mais rápidos.”

Muitas indústrias têxteis oriundas de países onde antigamente os custos eram baixos agora estão se instalando nos EUA. Isso é parte da dissolução de fronteiras outrora claras entre os países industriais de alto custo e baixo custo — algo que poucos anteveriam dez anos atrás.

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A produção têxtil na China está se tornando cada vez menos lucrativa após anos de aumentos dos gastos com salários, energia e logística — além de novas quotas governamentais sobre a importação de algodão.

Ao mesmo tempo, os custos industriais nos EUA vêm se tornando mais competitivos. No condado de Lancaster, onde fica a localidade de Indian Land, a Keer encontrou moradores desesperados por trabalho, mesmo com salários baixos, além de acesso a terrenos baratos e abundantes, energia e algodão fortemente subsidiado.

Autoridades do condado, do Estado e do governo federal prontamente ofereceram verbas e isenções tributárias à Keer para estimular a recuperação empregos industriais que muitos consideravam definitivamente perdidos.

A perspectiva de um amplo acordo comercial no Pacífico – liderado pelos EUA e excluindo a China – também está levando as fábricas chinesas de fios têxteis a colocarem um pé aqui, prevenindo-se do risco de serem expulsas do lucrativo mercado americano.

A fábrica da Keer, um investimento de US$ 218 milhões, beneficia algodão bruto para vendê-lo a tecelagens de toda a Ásia. A empresa ainda processa a maior parte do seu algodão na China, importando algodão bruto dos EUA, mas isso está mudando.

“Por que a Keer está vindo para cá? Incentivos, terrenos, o meio ambiente, os trabalhadores”, disse Zhu Shanqing, presidente da Keer, numa recente viagem aos Estados Unidos.

“Na China, todo o setor de fabricação de fios está perdendo dinheiro”, acrescentou. “Nos Estados Unidos é muito diferente.”

Desde que Pequim e Washington reataram relações comerciais, no início da década de 1970, os Estados Unidos geralmente tiveram um enorme déficit comercial bilateral, já que os americanos consumiram bilhões de dólares em aparelhos eletrônicos baratos, vestuário e outros produtos chineses.

Mas o aumento dos custos trabalhistas e energéticos na China está minando sua competitividade industrial. Segundo o Boston Consulting Group, os salários industriais ajustados pela produtividade quase triplicaram na China em uma década, saltando de US$ 4,35 por hora em 2004 para US$ 12,47 no ano passado.

Nos Estados Unidos, os salários industriais ajustados pela produtividade subiram menos de 30% desde 2004, chegando a US$ 22,32 por hora, segundo a empresa de consultoria. E os salários mais altos para os trabalhadores americanos são compensados pelo custo inferior do gás natural e do algodão, além dos incentivos fiscais e subsídios locais.

Hoje, o Boston Consulting Group estima que o mesmo produto industrial que custaria US$ 1 nos EUA sairia por US$ 0,96 na China. Atualmente, os gastos com a produção de fios na China são 30% mais elevados do que nos Estados Unidos, segundo a Federação Internacional da Indústria Têxtil.

“Todo mundo acreditava que a China sempre seria mais barata”, disse Harold Sirkin, sócio-sênior do Boston Consulting. “Mas as coisas estão mudando mais rapidamente do que se imaginava.”

O aumento dos custos na China está levando ao deslocamento de alguns tipos de indústria para países de custo mais baixo, como Bangladesh, Índia e Vietnã. Em muitos casos, o êxodo foi liderado pelos próprios chineses, que agiram agressivamente na instalação de bases industriais em outros países.

De 2000 a 2014, as empresas chinesas investiram US$ 46 bilhões em novos projetos e aquisições nos Estados Unidos. A Carolina do Sul e a Carolina do Norte acolhem atualmente pelo menos 20 indústrias chinesas.

“Nunca pensei que seriam os chineses que trariam os empregos têxteis de volta”, disse Keith Tunnell, presidente da Corporação de Desenvolvimento Econômico do Condado de Lancaster.

Colaborou Alexandra Stevenson

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