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Consumidores em uma loja que vende os pastizzi em Paola, Malta | GIANNI CIPRIANO/NYT
Consumidores em uma loja que vende os pastizzi em Paola, Malta| Foto: GIANNI CIPRIANO/NYT

O Mediterrâneo é conhecido há tempos por sua mistura de sol, mar, peixes, castanhas e azeitonas, uma combinação considerada um elixir de saúde e boa forma. Uma verdadeira indústria foi criada para promover a dieta mediterrânea, que promete revelar os segredos dos ilhéus da Grécia e da Itália, que vivem ativamente até mais de 100 anos.

E então, existe Malta.

Em todo o pequeno arquipélago no meio do Mediterrâneo, entre a Itália e a Líbia, as cinturas arredondadas são uma visão comum e derramam-se em cafés perto das grandes muralhas de onde seus antepassados repeliram os invasores otomanos e lançaram ataques a navios norte-africanos.

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No café da manhã, os clientes fazem fila para comprar pastizzi, um pastel em formato de diamante, feito com manteiga e banha de porco e recheado com um queijo similar à ricota ou com pasta de ervilhas, e frequentemente vendido em pequenas lojas familiares. Muitos voltam na hora do almoço para tortas timpanas, cheias de massa e carne – e muitas calorias. As lojas de doces lotam as vitrines com pacotes gigantes de chocolates e biscoitos, alguns da Inglaterra, de quem a ilha foi colônia até 1964.

Lugares que servem hambúrgueres jumbo fazem sucesso.

“Não há dúvida de que a obesidade é o maior desafio” para esta geração e a próxima, afirma Chris Fearne, secretário parlamentar de Saúde em Malta e membro do gabinete do governo trabalhista.

Tempos áureos

Os ilhéus se lembram de sopas feitas em casa com batatas extraídas de seus jardins e de um tempo em que os frutos do mar eram abundantes em suas dietas.

Malta costumava ser um lugar em que “os adultos viviam até uma idade muito avançada” e as refeições eram principalmente compostas de vegetais e algumas vezes peixe, descreveu Maturin Murray Ballou, escritor de viagens americano, em um livro chamado “The Story of Malta” (A História de Malta) no final do século 19.

Godfrey Farrugia, de 55 anos, ex-ministro da Saúde e presidente do grupo parlamentar de trabalho sobre diabetes, diz que o peixe costumava ser tão comum que o freezer de sua mãe ficava constantemente cheio com os pescados que ele trazia para casa na juventude.

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Mas uma combinação de pescaria em excesso, poluição, aquecimento das águas e fazendas industriais de criação em algumas baías perturbaram o ecossistema perto da costa e reduziram a pesca local, conta ele.

Como resultado, o peixe pode ser caro e difícil de conseguir, assim como vegetais, a maioria trazida de fora de Malta (os malteses importam mais de 90% do que comem). Apesar de o país reconhecer seus problemas com a obesidade e a saúde, há um grande debate sobre a possibilidade de se voltar à dieta no estilo mediterrâneo rápido o suficiente para ajudar a lidar com as taxas recordes de diabetes e outras complicações.

Os americanos ainda são, em média, mais pesados do que os malteses, e algumas populações de pequenas ilhas no Sul do Pacífico têm até mais sobrepeso. Mas, em setembro, Malta, o menor país da União Europeia em tamanho e população, com 425 mil cidadãos, passou a República Checa como o local com a maior população acima do peso, de acordo com um relatório da Organização Mundial de Saúde.

Os malteses, diz o documento, estão mais obesos do que seus vizinhos de Chipre, Grécia, Espanha e Itália.

Em dezembro, a Federação Internacional de Diabetes disse que a ilha possuía a maior taxa nacional de diabetes para pessoas com idades entre 20 e 79 anos, com quase 14%, entre os 56 países pesquisados. Acontecem duas vezes mais mortes por algumas formas de doença cardíaca do que a média da União Europeia, de acordo com o escritório de estatísticas do bloco.

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Mudança de hábito

A expectativa de vida, de 81,9 anos, ainda é maior do que a média da UE e um pouco maior do que a da Grécia. Mas é menor do que de outros países mediterrâneos incluindo Itália, Espanha e Chipre, e a longevidade em Malta pode eventualmente diminuir à medida que mais ilhéus contraiam doenças relacionadas com a obesidade quando jovens e morram mais cedo, avisa Josanne Vassallo, endocrinologista da Escola Médica da Universidade de Malta.

O governo está tentando combater a crise com passos como encorajar as mulheres a amamentar, uma prática que alguns estudos dizem reduzir a obesidade no decorrer da vida. Os governantes também restringiram bebidas açucaradas e comidas gordurosas nas escolas, e as obrigam a medir o índice de massa corporal, que avalia a gordura, de todas as crianças de três a 16 anos.

Mas persuadir os malteses a mudar seus hábitos de alimentação é outra questão.

“Não posso vir aqui para tomar um expresso e não comer um pastizzi”, afirma John Azzopardi, de 78 anos, terminando seu café da manhã com amigos no finamente decorado Caffe Cordina, situado em um elegante palácio de Valeta.

Os consumidores malteses perguntam “O que é isso?” quando são servidos com uma quantidade de massa que seria aceitável para os turistas, conta Aaron Degabriele, de 43 anos, chef com programa na televisão e dono do restaurante Aaron´s Kitchen. As porções de massa dos malteses precisam ser 50% maiores, afirma.

Reinventar a cozinha maltesa “é uma coisa que tenho no coração”, diz Degabriele, que está entre um grupo de nove candidatos a um diploma de master chef no curso lançado em 2015 pela Universidade de Malta para promover uma culinária mais saudável.

Entre os desafios que Degabriele precisa encarar, junto com os malteses comuns que querem uma dieta melhor, estão os custos. Maçãs podem ser mais caras do que os pastizzi, e o robalo pescado na região tem preço três vezes mais alto do que as variedades criadas nas fazendas de Malta, em sua maioria exportada para países como Itália e Japão.

Pratos como sopa de vegetais são considerados “comida de pobre, o que é irônico”, afirma Claire Sillato Copperstone, de 47 anos, palestrante de Estudos da Comida e Saúde Ambiental na Universidade de Malta. “Estamos falando para nossos cidadãos adotarem uma dieta mediterrânea, o que possivelmente não vale a pena em termos econômicos para a típica família de quatro ou cinco pessoas”, explica ela.

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