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“Foto de família” da reunião do G20 em Buenos Aires | Reprodução G20 Argentina
“Foto de família” da reunião do G20 em Buenos Aires| Foto: Reprodução G20 Argentina

No primeiro dia da reunião do G20, em Buenos Aires, nesta sexta-feira (30), o presidente argentino, Mauricio Macri, disse que “ainda que existam diferenças importantes nas agendas dos líderes presentes, temos de ter em mente o mesmo senso de urgência que nos reuniu em 2008”. “Desta vez, o desafio é justamente como estabelecer diálogo num mundo tão diverso.”

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O dia iniciou com um encontro entre o norte-americano Donald Trump e Macri na Casa Rosada. Além de oferecer apoio dos EUA para que a Argentina saia da crise econômica e prometer estimular investidores norte-americanos a trazer seus negócios ao país, Trump usou o mandatário argentino para dar seu primeiro recado à China. 

Disse a Macri que os chineses estavam praticando, no comércio, ações “depredadoras”. 

O recado foi lido como um possível preâmbulo para uma possível reunião sem acordo, neste sábado (1), entre os líderes da China e dos EUA, tema que causa mais interesse nessa cúpula, pois a maioria dos países espera uma possível resolução da guerra comercial entre ambas potências. 

Macri também declarou, nesta sexta-feira (30) que poderia não haver um acordo específico no final da reunião. “Não tenho dúvida de que não se constrói consenso da noite para o dia. Esse processo continua para além da reunião, o importante é que daqui saiam compromissos que levem a ações concretas que melhorem a vida de nossos cidadãos.” 

Um desses consensos foi firmado ainda pela manhã entre Trump, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que assinaram a autorização para o novo acordo de comércio entre os três países, que substitui o antigo Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte). 

Boa parte dos itens, porém, ainda precisa passar pelas equipes técnicas dos três países e pelos respectivos congressos. 

Michel Temer defende a globalização 

Em seu discurso na plenária, o brasileiro Michel Temer disse que “a escolha do Brasil é pela integração de todos às possibilidades de um mundo crescentemente interconectado”, mas que reconhecia que “a globalização também é fonte de ansiedade para parcelas significativas de nossas populações. Infelizmente, não são poucos aqueles que, sem acesso a capacitação adequada, alijados das inovações tecnológicas, sentem um legítimo mal-estar: mal-estar diante das mudanças no mercado de trabalho, das mudanças em nossas sociedades. Surge, aí, a tentação de soluções que podem soar simples, mas são ilusórias. Pois há que resistir. Há que recusar as aparentes facilidades do protecionismo e de isolacionismo.” 

Filipe Figueiredo: O que você precisa saber para entender o G20, Brasil e G-Zero

Temer chegou à capital argentina na noite desta quinta-feira (29), onde jantou com o embaixador brasileiro. Na magra agenda até o momento, constam apenas duas reuniões bilaterais, com os representantes de Singapura e Austrália. 

Pouso de emergência 

Angela Merkel, a mulher mais poderosa do mundo (por enquanto), passou a noite em um hotel próximo ao aeroporto de Colônia, na Alemanha, em vez de em seu avião a caminho do G20. Logo após decolar de Berlim, na quinta-feira, o avião oficial alemão sofreu uma pane em todos os seus sistemas de comunicação, obrigando um pouso de emergência no aeroporto de Colônia-Bonn. 

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“Esse foi um colapso sério”, reconheceu Merkel na quinta-feira à noite. Até o momento, as autoridades não puderam determinar o que causou o mau funcionamento, mas não há indícios de sabotagem deliberada. 

Na sexta-feira, a chanceler alemã embarcou em um avião comercial em Madri, com turistas, viajantes de negócios e alguns assessores. A ausência de Merkel na abertura da cúpula acabou sendo uma quebra na conhecida pontualidade alemã. A chanceler foi a última líder a chegar em Buenos Aires, na tarde de sexta-feira, e perdeu a foto oficial. 

Putin e Mohammed bin Salman 

O presidente russo, Vladimir Putin, e o príncipe saudita, Mohammed bin Salman, cumprimentaram-se de modo efusivo, com um “high five”, um aperto de mãos e um sorriso, quando se encontraram na plenária do G20, nesta sexta-feira. 

A presença de bin Salman tem sido um dos pontos delicados do encontro, já que o herdeiro do trono saudita está envolto em polêmicas. 

Ele o principal suspeito de ser o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, que foi morto na embaixada saudita em Istambul. 

O príncipe também é o idealizador da ação militar saudita na guerra do vizinho Iêmen, acusado de apoiar um série de violações dos direitos humanos que acontecem no conflito. 

Desde que chegou a Argentina, Bin Salman tem se mantido isolado na embaixada de seu país, e realizou, por enquanto, apenas uma reunião bilateral, com a Índia, ali mesmo. 

Dias antes de a cúpula do G20 ter início, a entidade de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch pediu à Justiça argentina que detivesse e interrogasse o príncipe saudita por conta das denúncias. 

Na quinta-feira (29), o presidente argentino, Mauricio Macri, disse que o assunto deveria ser debatido no encontro. 

E, nesta sexta, o francês Emmanuel Macron, em conversa com o príncipe, disse estar preocupado. Enquanto bin Salman lhe respondia sorrindo, o mandatário francês se manteve quieto todo o tempo. 

A Justiça argentina acolheu a causa da entidade de direitos humanos. O juiz federal Ariel Lijo ordenou o início de investigações, mas é pouco provável que uma decisão seja tomada antes de o príncipe deixar o território argentino. 

Theresa May e Mauricio Macri 

Sem se aprofundar nas questões mais espinhosas da relação bilateral, Mauricio Macri e Theresa May buscaram ampliar a agenda positiva entre Argentina e Gã-Bretanha, em um dos momentos de maior aproximação entre os dois países desde a Guerra das Malvinas, segundo o jornal argentino La Nacion. 

Segundo o jornal, que citou porta-vozes do governo argentino, May falou ao presidente que a partir da confirmação do Brexit buscará falar de forma independente com o Mercosul. Os dois mandatários falaram sobre a possibilidade de aumentar a presença de investidores ingleses na Argentina e de impulsionar o comércio e investimentos bilaterais. 

O chanceler argentino, Jorge Faurie, falou ao La Nacion que os mandatários não falaram sobre a soberania das Ilhas Malvinas, o tema de maior tensão desta relação bilateral. 

Trump e Macri 

Os presidentes da Argentina, Mauricio Macri, e dos EUA, Donald Trump, tomaram café da manhã juntos na manhã desta sexta-feira e tiveram uma reunião de 45 minutos. 

Na conversa, Trump afirmou ao mandatário argentino que a China está adotando uma “atividade econômica depredadora”, porém Macri e sua equipe foram evasivos na resposta. 

Trump tem previsto um encontro com o líder chinês Xi Jinping neste sábado (1º), assim como um jantar programado para a mesma noite. Trata-se do encontro mais esperado desta cúpula do G20. Se antes Trump havia acenado para uma solução das diferenças entre as duas potências, seu desembarque em Buenos Aires está sendo diferente. 

Além de conversarem sobre a guerra comercial, os dois presidentes falaram de novos acordos comerciais, como o da carne, firmados nos últimos dias entre os dois países, além de novos investimentos norte-americanos na área de energia nas províncias de Santa Cruz e de San Juan, a construção de um parque eólico na Patagônia e um investimento direto do governo norte-americano de US$ 45 milhões para investimentos em infraestrutura na cidade de Buenos Aires. 

Macri pediu a Trump que estudasse estender o estímulo aos investimentos dos EUA na planta de petróleo de Vaca Muerta (ao sul do país). 

Trump disse, ao final, que o “modelo econômico argentino está funcionando bem”, e que continuaria tendo apoio de seu governo.

Ativistas protestam durante o encontro de líderes do G20 em Buenos airesALBERTO RAGGIO / AFP

Trump, Putin e Mohammed bin Salman 

Enquanto os líderes se reuniam para a sessão de abertura da cúpula do G20, Trump pareceu frio para algum de seus colegas e não foi visto cumprimentando Putin, o autocrata cuja interferência na eleição presidencial de 2016 é objeto de investigação do Departamento de Justiça americano. 

Trump foi um dos últimos líderes a entrar no local da cúpula para uma foto do grupo e passou por Putin e Mohammed sem parar para bater papo ou apertar as mãos. Trump, que por muito tempo teve afinidade com os autocratas, atraiu críticas antes da cúpula por concordar em se encontrar com Putin e por apoiar as negativas de envolvimento de Mohammed no assassinato do jornalista Khashoggi. 

Por outro lado, Trump conversou amigavelmente com o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, bem como com o presidente francês Emmanuel Macron, que apenas duas semanas atrás, fez uma repreensão forte do nacionalismo de Trump em uma cerimônia na França com a presença do presidente dos EUA. 

Trump soou otimista com o que ele chamou de “dois dias muito ocupados” de reuniões econômicas e diplomáticas internacionais. Ele disse, pelo Twitter, no início da sexta-feira que “o nosso grande país está extremamente bem representado” na cúpula dominada pelos temores globais guerra comercial entre Estados Unidos e China. 

Trump descartou um encontro planejado com Putin, que teria sido a peça central de sua visita à Argentina, citando a agressão da Rússia na Ucrânia. No último fim de semana, forças navais russas atacaram navios ucranianos ao largo da costa da Crimeia e apreenderam três embarcações e 23 marinheiros.

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