![A torre Antilia [nesta foto ainda em construção], no centro de Mumbai, será a casa do homem mais rico da Índia a partir do próximo dia 28 | Wikimédia Commons](https://media.gazetadopovo.com.br/2010/11/antilia_2011!-1.0.67362049-full.jpg)
A torre residencial mais nova e exclusiva para os ricaços desta cidade é revestida de aço e vidro, com 27 andares que parecem tocar o céu. Só a garagem ocupa seis andares. Três heliportos estão localizados no último andar. Há três terraços, piscinas aéreas e jardins suspensos em um edifício meio Blade Runner, meio Babilônia, com vista para a cidade mais dinâmica da Índia.São nove elevadores, um spa, um teatro com 50 lugares e um grande salão de baile. Espera-se que centenas de serventes e funcionários trabalhem lá. E agora, depois de vários anos de planejamento e construção, os moradores estão prestes a se mudar. Todos os cinco.
A torre, conhecida como Antilia, é o novo lar do homem mais rico da Índia, Mukesh Ambani, cuja fortuna de US$ 27 bilhões o coloca entre as pessoas mais ricas do mundo. Até mesmo na capital financeira do país, onde os moradores testemunham os extremos da pobreza e da riqueza indiana, o prédio de Ambani é tão espetacular que as fronteiras elásticas do excesso e da disparidade da cidade estão sendo esticadas a novos patamares.
"Uma só família vai morar naquilo?", disse Prahlad Kakkar, produtor de filmes publicitários e famoso morador da cidade. "Ou é um marco, ou um símbolo, ou Mammon [culto à riqueza]". E acrescenta: "Há choque e medo ambos ao mesmo tempo".
Ambani, sua esposa, Nita, e seus três filhos devem se mudar para o edifício depois de uma festa de inauguração para 200 convidados, agendada para o dia 28 de novembro. Ambani se recusou a comentar sobre o projeto e exigiu que seus projetistas, decoradores e outros fornecedores assinassem contratos de confidencialidade, como se um cone de silêncio pudesse ser erguido ao redor de um arranha-céu próximo ao Mar Árabe.
Presumivelmente, e talvez intencionalmente, aconteceu o oposto. Os detalhes vazaram muitos deles confirmados ou contestados de forma anônima por pessoas familiarizadas com o projeto. Alguns relatos calcularam o espaço residencial total em 37.161 km2, embora as pessoas próximas digam que o número real é mais humilde, 5.574 km2. Relatos na mídia também estimam o valor do edifício em US$ 1 bilhão, um número contestado por pessoas familiares ao projeto.
De qualquer forma, uma cidade admirada recebeu a nova torre com um misto de moralização e perplexidade, inveja e condenação, tudo isso permeado por análises freudianas envolvendo a questão mais essencial: por que ele fez isso?
"Todos nós estamos meio perplexos", diz Alyque Padamsee, executivo do ramo publicitário e ator. "Acho que as pessoas veem a obra como um pouco de exibicionismo."
Só um pouco
Por décadas, a família Ambani tem sido a novela corporativa mais famosa da Índia. O pai, Dhirubhai Ambani, era um magnata de origem pobre que enriqueceu e estabeleceu a Reliance Industries, depois de surgir de conjuntos habitacionais populares dickensianos. Hoje, a Reliance é a maior produtora do mundo de fibras e fios de poliéster, e corresponde a quase 15% das exportações da Índia, de acordo com o relatório anual da empresa.
Os dois filhos, Mukesh e Anil, herdaram e dividiram o império, e passaram anos brigando, inclusive houve uma disputa recente sobre direitos de exploração de gás natural, gerando uma represália do primeiro-ministro antes que a Suprema Corte da Índia resolvesse o caso a favor de Mukesh. Dos dois irmãos, Anil é o mais exibido e extrovertido, enquanto Mukesh é visto como mais sério pelo menos com menor probabilidade de construir um prédio de 27 andares só pare ele.
A nova torre fica na Altamount Road, mesma rua residencial no sul de Mumbai onde o pai comprou sua primeira casa depois de tirar a família dos conjuntos habitacionais populares. Mais tarde, ele comprou um prédio de apartamentos de 14 andares chamado Sea Wind, onde Mukesh e Anil moraram com suas famílias em andares diferentes, mesmo durante sua disputa (a mãe intermediava de sua própria residência no prédio).
Agora Mukesh está se mudando para uma torre que faz o Sea Wind parecer uma pensão."É como um retorno vingativo para onde eles entraram para a classe média, vencendo todos", diz Hamish McDonald, que narrou a história da família em seu novo livro, Mahabharata in Polyester: The Making of the World's Richest Brothers and Their Feud. "Ele está dizendo 'Sou rico, não me importa o que você pensa'", acrescenta McDonald.
Mumbai, antes conhecida como Bombaim, é a cidade mais cosmopolita da Índia, com uma região metropolitana de aproximadamente 20 milhões de pessoas. Os imigrantes chegaram em grande quantidade à cidade na última década, atraídos pela reputação de Mumbai como a "cidade dos sonhos" da Índia, onde qualquer um pode ficar rico. Mas ela também é conhecida por sua pobreza: um estudo recente descobriu que aproximadamente 62% da população mora em favelas, incluindo uma das maiores da Ásia, a Dharavi, que abriga mais de 1 milhão de pessoas.
Os preços de imóveis estão entre os mais altos do mundo, empurrando trabalhadores para as favelas, mesmo com as construtoras tendo limpado descaradamente terrenos para uma nova geração de altíssimas torres de apartamento para os ricos. Os arranha-céus são considerados inevitáveis e necessários, devido ao terreno limitado da cidade peninsular e ao inchaço populacional, mas as torres isolam ainda mais os ricos da fervilhante metrópole abaixo.
Com seus heliportos, que ainda aguardam aprovação para operar da Marinha indiana, Ambani poderia morar em Mumbai sem nunca tocar o chão, percorrer as ruas. "É um condomínio fechado no céu", afirma Gyan Prakash, autor do novo livro Mumbai Fables. "Reflete, de certa forma, como os ricos dão as costas para a cidade."
Ao longo da Altamount Road, que também é lar de outros industrialistas, a reação ao novo vizinho está dividida. Alguns cidadãos mais velhos temem o barulho das idas e vindas dos helicópteros. Mas Utsav Unadkat e Harsh Daga, estudantes universitários que cresceram no bairro, olhavam a torre, em uma tarde recente, como se ela fosse um sonho realizado.
"Ouvi dizer que ele tem uma estação de serviço da BMW lá dentro, disse Unadkat, com um cigarro na mão. Isso não foi confirmado.
"Também há um lugar onde eles podem criar um clima artificial", acrescentou Daga. Isso aparentemente é verdade.
Ali perto, Laxmi Kant Pujari, 26 anos, assistente de decorador, esperava para levar amostras de vidro para o prédio. Se suas amostras forem selecionadas, Pujari, imigrante, se encarregaria da instalação uma tarefa que ele considera uma grande honra.
"Seja um mendigo ou um Ambani, o desejo de ser rico está no coração de todo mundo", disse.
Mais adiante na rua, Sushala Pawar admitiu ter dificuldades em compreender a diferença entre a vida de Ambani e a sua própria vida. Ela cozinha para uma família em um apartamento ali perto, ganhando 4 mil rúpias por mês, ou cerca de US$ 90. Ela dorme no chão do corredor depois que a família se deita.
"Sou um ser humano", disse. "E Mukesh Ambani é um ser humano. Às vezes, me sinto mal porque eu vivo com 4 mil rúpias e Mukesh Ambani mora lá".
Acenando com a cabeça em sinal positivo e olhando para o prédio, ela se animou. "Talvez eu consiga um trabalho lá", disse a cozinheira.



