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O novo premiê do Canadá, Mark Carney, disse nesta segunda-feira (24) que quer ter uma conversa ampla com o governo dos Estados Unidos sobre economia e segurança, diante das medidas comerciais adotadas pelo presidente Donald Trump desde sua volta à Casa Branca, em janeiro. A declaração foi feita no primeiro dia da campanha eleitoral canadense. O país celebrará eleições gerais no próximo dia 28 de abril.
“Dada a magnitude das ações comerciais contra o aço e o alumínio, que vão totalmente contra o T-MEC (tratado de regula o comércio entre México, Canadá e EUA), e as outras ações, precisamos ter uma conversa geral com os americanos sobre economia e segurança”, afirmou Carney, em tom de preocupação. Ele também confirmou que, desde que assumiu o cargo, substituindo Justin Trudeau em 14 de março, ainda não falou com Trump: “Ele está esperando para ver quem ganha”, citou o premiê.
Segundo o líder do Partido Liberal, a volta de Trump à presidência dos EUA representa um ponto de inflexão nas relações bilaterais e exige uma abordagem diferente da diplomacia tradicional. A nova guerra comercial lançada por Washington tem atingido setores estratégicos do Canadá, desafiando a estabilidade do acordo T-MEC.
As tensões com os Estados Unidos se tornaram o principal tema da campanha eleitoral no Canadá, superando outras questões internas que dominavam o debate até então, como a alta do custo de vida, a crise habitacional e os altos níveis de imigração.
A primeira grande polêmica da corrida eleitoral envolve a premiê da província de Alberta, Danielle Smith, aliada do movimento conservador, que afirmou no podcast americano Breitbart News Saturday, em 8 de março, que preferia que Trump esperasse para impor tarifas ao Canadá até depois das eleições, para beneficiar o líder conservador Pierre Poilievre. As declarações repercutiram fortemente nas últimas horas.
Smith, que já ameaçou o governo federal com uma "crise de unidade nacional", foi duramente criticada por partidos de esquerda e centro. O líder do Novo Partido Democrático (NPD), Jagmeet Singh, classificou as falas como “uma vergonha” e as comparou a uma tentativa de interferência estrangeira no processo eleitoral canadense. Apenas o Partido Conservador, de Poilievre, não condenou os comentários.
A crescente preocupação com a integridade do processo eleitoral também entrou na pauta. O diretor da agência Eleições Canadá, Stephane Perrault, afirmou nesta segunda-feira que está em contato com plataformas de redes sociais para “garantir a segurança do processo democrático”. Essa é uma questão sensível no país, especialmente após denúncias de interferência externa nos pleitos de 2019 e 2021, por parte de China, Índia e Rússia.
Apesar das críticas da esquerda, Trump tem influenciado de forma decisiva o cenário político canadense. Até janeiro, os conservadores lideravam com folga nas pesquisas e eram considerados favoritos. No entanto, com a reconfiguração das relações com os EUA, os liberais conseguiram recuperar terreno.
Segundo análise da emissora estatal CBC, Carney aparece agora com 37,7% das intenções de voto, enquanto os conservadores somam 37%. Pelas regras do sistema eleitoral canadense, que funciona por distritos de maioria simples, essa leve vantagem pode garantir aos liberais 177 cadeiras — cinco acima do mínimo necessário para formar governo. Os conservadores ficariam com 132 assentos.
Carney assumiu recentemente o cargo de primeiro-ministro do Canadá após a renúncia de seu antecessor, Trudeau, que também deixou a liderança do Partido Liberal. Com a saída de Trudeau, a legenda organizou uma eleição interna, na qual Carney foi escolhido como novo líder e, consequentemente, nomeado premiê. O Partido Liberal governa o Canadá em minoria e, por isso, eleições antecipadas foram convocadas para o dia 28 de abril, quando se definirá a nova configuração do Parlamento e o novo premiê.







