
A mulher está pelada. Ela exibe os seios nus no meio da torcida do time sueco de futebol, é jovem, magra e com cabelos castanhos compridos. Usa shorts jeans rasgados com cinto e tênis Converse nos pés. Nas mãos, segura um cartaz: "Fuck Euro 2012".
Ao redor de Oksana Shachko esse é o nome dela , torcedores munidos de cerveja sorriem, posam para foto e se divertem com a cena, no último dia 19. Oksana, não. Ela está com um semblante irado, gritando, num protesto solitário contra a proposta do governo ucraniano de descriminalizar a prostituição, exatamente na época da Eurocopa 2012, o evento esportivo que faz da Ucrânia e da Polônia o centro do mundo futebolístico.
Para Oksana e outras 400 integrantes do Femen, o grupo ativista que defende várias causas, nem todas feministas, tirar a roupa é um meio de atrair atenção. Quando elas protestavam de roupa, ninguém dava a mínima.
Na organização, somente 20 mulheres encaram o desafio da nudez em público. A julgar pelos comentários colocados na página do Femen, no Facebook, as reações aos protestos que organizam vão da admiração ao ódio, passando pelo desprezo ressentido.
"Às vezes, odeiam a gente, às vezes, amam. Mas nosso objetivo principal é causar reações, é mexer com a cabeça das pessoas", diz Inna Shevchenko, porta-voz do Femen, em entrevista rápida por telefone à Gazeta do Povo.
Talvez a razão para as críticas negativas seja o conservadorismo, de acordo com Joana Maria Pedro, doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal de Santa Catarina. "A moralidade é uma cobrança onde as diferenças de gênero são bem marcadas. Tirar a roupa no carnaval ou na praia não é o mesmo que tirar a roupa ou parte dela para fazer um protesto. Penso que essa deve ser uma das razões da antipatia", diz Joana.
Diz a lenda (e a Wikipedia) que o Femen surgiu em 2008 pelas mãos de Anna Hutsol, ainda sem as características atuais. Era então um grupo de estudantes ucranianas que resolveu protestar contra problemas que consideravam graves: o turismo sexual, o desrespeito à mulher e até a falta de banheiros públicos em Kiev. Durante uma dessas manifestações, Oksana decidiu tirar a roupa e mostrar os seios e assim o Femen ganhou a atenção do mundo. Depois desse episódio, elas adotaram a nudez como estratégia.
Questionada sobre qual teria sido o protesto mais importante do Femen, Inna prefere não escolher um, dizendo que cada um deles permitiu que o grupo ganhasse notoriedade internacional.
Por que não?
"Simpatizo com essas mulheres jovens que estão rindo do puritanismo ocidental", diz Joana. "Abusam do corpo das mulheres para vender carro e outras mercadorias. Pois bem, por que não usá-lo para conseguir melhores leis que venham acabar com discriminações? Uma coisa é o mercado usar o corpo, outra é a dona do corpo definir que quer mostrá-lo para chamar atenção para sua reivindicação."
400 ativistas fazem parte do Femen, de acordo com informações fornecidas pelo próprio grupo. Dessas, cerca de 20 protestam sem roupa.
Interatividade
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