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O presidente americano, Joe Biden, que disse esta semana que um projeto pró-aborto será o primeiro que apresentará ao Congresso se democratas vencerem as eleições de meio de mandato em novembro
O presidente americano, Joe Biden, que disse esta semana que um projeto pró-aborto será o primeiro que apresentará ao Congresso se democratas vencerem as eleições de meio de mandato em novembro| Foto: EFE/EPA/JIM LO SCALZO

O Partido Republicano dos Estados Unidos tem muita sorte por ter os oponentes que tem. Mesmo tendo sido informado ainda na segunda-feira (17) que os eleitores americanos estão mais preocupados com a situação da economia do que com a questão do aborto, numa proporção de 44 para cinco, o presidente dos Estados Unidos decidiu encerrar a febril campanha do seu partido para as eleições de meio de mandato centrando foco no... aborto. Mesmo agora, com a população americana manifestando com fúria sua desaprovação, Joe Biden não consegue entender a mensagem.

“Em um grande discurso três semanas antes das eleições de meio de mandato, Biden deixa claro que o direito ao aborto é a principal bandeira democrata”, afirmou o Washington Post na terça-feira (18). O britânico Telegraph foi mais contundente na sua avaliação: “Joe Biden mobiliza eleitores em torno do direito ao aborto enquanto seu partido afunda nas pesquisas para as eleições de meio de mandato”. De fato, é o que vem acontecendo.

Seria simplista demais sugerir que o partido de Biden está afundando apenas porque ele está focado na questão do aborto. Mas não é excessivamente simplista sugerir que, mais uma vez, Biden está se concentrando no assunto errado.

O aborto não é a questão-chave da nossa era, por mais que Biden deseje que seja. Não é uma questão-chave, aliás, nenhuma das outras questões que ele tentou colocar em primeiro plano desde que assumiu o cargo.

A ampla agenda de gastos públicos do Partido Democrata nunca despertou o interesse dos eleitores. Nem sua obsessão pelas mudanças climáticas, sua hostilidade em relação à produção doméstica de energia, sua cruzada pelo controle draconiano de armas de fogo ou sua insistência absurda no argumento de que o futuro dessas questões é indissociável ​​do futuro da democracia em si. Desde o primeiro dia, o destino da presidência de Biden está ligado ao destino da economia. No entanto, por algum motivo, Biden nunca percebeu isso.

Em vez disso, o presidente optou por se curvar diante das lideranças de um movimento progressista que, inexplicavelmente, continua lhe causando terror. Joe Biden venceu a eleição de 2020 porque percebeu que o Twitter não era a vida real. Sua presidência naufragou porque ele prontamente esqueceu que o Twitter não era a vida real.

Os mecanismos de estímulo/resposta são claríssimos: os progressistas reclamam que Biden não fala o suficiente sobre aborto, então, Biden fala mais sobre o assunto; os progressistas insistem que Biden deve violar as leis sobre despejos, empréstimos estudantis e passaportes vacinais, então Biden viola as leis sobre despejos, empréstimos estudantis e passaportes vacinais; os progressistas exigem que Biden gaste US$ 2 trilhões em março, depois outros US$ 6 trilhões em junho, e Biden atende. Como Ado Annie Carnes no musical “Oklahoma!”, ele é um garoto que não consegue dizer não. E, meu Deus, ele está enrascado!

Substantivamente, não está claro que mudar o foco para a questão do aborto vai ajudar o Partido Democrata nas eleições de novembro, já que a abordagem da legenda quanto às políticas sobre o assunto é absurda. Se os democratas tivessem adotado uma posição moderada sobre a questão depois que a decisão do caso Roe vs. Wade foi derrubada, talvez teriam conseguido dividir o Partido Republicano e colocar seus candidatos em desvantagem.

Mas os democratas não tomaram essa atitude: em vez disso, optaram por uma posição totalmente revoltante, que sustenta que nenhuma restrição ao procedimento é aceitável e que pressupõe que o governo federal deve perseguir quem discorda disso, encher os tribunais de comparsas e privar os estados de seus poderes constitucionais expressos.

Na cabeça de Joe Biden, sua cruzada pela “justiça reprodutiva” é comparável à luta pelos direitos civis. Na verdade, ela envolve somente os candidatos democratas ao Senado que se recusam a se opor ao infanticídio e ícones do partido, como Stacey Abrams, que proporcionam pérolas como esta: “Sejamos claros. Ter filhos é a razão pela qual você está preocupado com o preço do gás. É por isso que você está preocupado com quanto custa a comida”.

Isto não é uma política sobre aborto; é eugenia. Numa tentativa de juntar o interesse da população na questão econômica com o desejo do Partido Democrata de falar sobre o aborto, Abrams no fim das contas sugeriu que o principal problema enfrentado pelas famílias americanas hoje é que elas não mataram seus filhos.

É basicamente uma paródia – como um daqueles quadros de comédia britânicos sem graça, em que um economista perguntava ao primeiro-ministro se ele nunca havia cogitado resolver o problema da pobreza matando pobres em massa. O problema de Biden é que esses quadros de comédia são piadas, enquanto não há graça nenhuma na política sobre aborto dos democratas. O partido em breve pagará um preço alto por essa negligência estratégica.

*Charles C. W. Cooke é colunista da National Review e apresentador do The Charles C. W. Cooke Podcast

© 2022 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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