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Republicano John Boehner participa das negociações do teto; Obama se recusa a cortar gastos e quer o aumento dos impostos | Alex Wong/AFP e Saul Loeb/AFP
Republicano John Boehner participa das negociações do teto; Obama se recusa a cortar gastos e quer o aumento dos impostos| Foto: Alex Wong/AFP e Saul Loeb/AFP

Entenda o caso

Casa Branca e Congresso precisam chegar a um acordo para aprovar o aumento do teto da dívida pública.

Esperança

Hoje, o valor máximo de endividamento do governo norte-americano é de US$ 14,3 trilhões, atingido em 31 de maio. Obama espera obter a aprovação até o dia 4 de julho, feriado da Independência dos EUA. A data-limite para se resolver o impasse é 2 de agosto.

Desespero

Se o prazo terminar e o aumento do teto não for concedido, o governo Obama terá problemas para pagar suas contas, a começar pelos salários de 800 mil funcionários federais. Em 49 anos, o teto da dívida pública foi aumentado 74 vezes – dez delas na última década.

  • Prédio do Capitólio, casa do Congresso dos EUA

O embaraço que envolve a discussão sobre o aumento do teto da dívida pública norte-americana funcionaria bem como recurso para criar suspense em uma série de tevê, algo que os Estados Unidos fazem melhor que ninguém.

O presidente Barack Obama precisa aumentar o valor da dita-cuja, hoje em US$ 14,3 trilhões, para evitar o colapso do governo, mas não aceita negociar cortes de gastos, condição imposta pelos republicanos. Na oposição, os republicanos – que não ad­­mitem a proposta de aumentar os impostos dos ricos, exigência dos democratas – se recusam a aprovar o aumento da capacidade de endividamento enquanto o governo Obama não apertar o cinto.

De acordo com analistas consultados pela Gazeta do Povo, o corte de gastos e o aumento de impostos são alternativas indesviáveis para a manutenção da crise que ainda faz sombra sobre os Estados Uni­­dos. Os dois maiores partidos do país deveriam saber disso e talvez saibam, mas agem como não en­­xergassem os fatos. (Leia nesta página artigo de Thomas L. Friedman sobre a ce­­gueira volun­­tária dos políticos norte-ame­­ricanos.)

É uma conversa absurda. Os democratas dizem A, os republicanos devolvem B e nenhum dos dois sai do lugar. Há mais de dois meses que Obama se reúne com republicanos – o presidente da Câmara dos Re­­pre­­sentantes, John Boehner, entre eles – para tentar chegar a um acordo.

Na última sexta-feira, o deputado Eric Cantor, líder da maioria republicana na Câmara, aban­­­­donou as negociações por causa da insistência democrata no aumento dos impostos. "A questão dos impostos tem de ser re­­solvida antes da retomada das discussões [sobre o teto da dívida pública]", disse Cantor ao jornal The New York Times.

Obama espera obter a aprovação até o dia 4 de julho, mas, se ela não vier até 2 de agosto, os EUA deixarão de pagar suas contas – uma delas envolve os salários de cerca de 800 mil funcionários federais.

"A expectativa é de que o fim do prazo chegue e o teto seja aumentado – foi assim com o Orçamento", diz Carlos Eduardo Gonçalves, doutor em Economia pela Universidade de São Paulo. Porém, o risco de democratas e republicanos não concordarem existe e, nesse caso, o calote dos EUA é um dos cenários possíveis.

O problema maior, de acordo com Gonçalves, é que o imbróglio em torno da dívida pública "sinaliza uma incapacidade crônica do Congresso americano para chegar a acordos".

"A questão vai se resolver, mas o mercado está vendo com maus olhos. Se eles [o Congresso e a Casa Branca] não conseguem se entender agora, o que pode acontecer no desafio fiscal dos próximos anos?", diz o professor.

Na prática, o aumento do teto da dívida pública é uma necessidade que não deveria ser negociada. Nos últimos dez anos, dez aumentos foram concedidos. Na história norte-americana, de acordo com dados da rede de tevê CNN, houve um total de 74 aumentos desde 1962. Especialistas dos EUA criticaram os republicanos por usar esse momento para fazer política, quando deveriam estar preocupados com os rumos econômicos do país.

Por enquanto, a confusão não está gerando impacto, mas, se os investidores ficarem inseguros, a credibilidade norte-americana começará a se deteriorar, criando ambiente perigosamente propício a uma nova crise econômica, por mais que seja difícil prevê-la com certeza.

Para Ronald Hillbrecht, professor de Macroeconomia da Uni­­versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), republicanos e democratas assumiram um jogo nada elegante. "Eles estão praticando chantagem", diz Hillbrecht. "É um cabo de guerra e os dois partidos estão ideologicamente comprometidos." Se eles fossem lógicos, ambos cederiam, aumentando impostos e reduzindo gastos.

Gonçalves apontou o desgaste que a história causa à imagem do Congresso americano. Hil­­lbrecht analisa uma reação possível do mercado e fala em "im­­pacto sobre a formação de expectativas", causado pelo perrengue entre os dois maiores partidos dos EUA, mesmo que o impasse termine e o aumento seja concedido.

A demora para solucionar o problema pode elevar o risco-país, criar um clima de insegurança para os investidores em território ianque e, no mais fu­­nesto dos cenários, bagunçar a economia mundial.

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